Podemos afirmar, antes de tudo, último filme de Sidney Lumet não desmerece a carreira do grande diretor que foi Lumet. Não é só a história que se mostra interessante, mas também, e sobretudo, a forma como é conduzida. O jogo de flashbacks que assistimos corrobora para o suspense e tensão que o filme apresenta e nos suscita, respectivamente. A história do filme é o desmembramento, ou esclarecimento, de sua segunda cena – o assalto. À medida que o filme retrocede para nos mostrar os bastidores do assalto, conhecemos um pouco da vida de seus idealizadores, Andy e Hank, muito bem interpretados por Philip Seymour-Hoffman e Ethan Hawke.
As cenas são marcadas por diálogos bem elaborados, o que exige e também destaca os personagens secundários. Podemos observar que a câmera de Lumet foca as pessoas em diálogo de forma que transmita todo o “clima” da conversa (um exemplo é a cena em que Andy e Hank, no escritório daquele, fecham o acordo para o assalto). Como ponto negativo na construção dos personagens, talvez seja a personagem de Marisa Tomei que parecia não ter mais que mostrar além dos seios, o que poderia dar ao filme o rótulo daqueles que possuem cenas tórridas mas sem grandes propósitos nos filmes.
Na verdade, o filme conseguiu condensar em menos de duas horas uma história complexa e com “pontos” paralelos à trama principal, ou ramificações dela (o traficante e seu serviço que Andy “usava”, ou a chantagem da esposa de Bobby, comparsa de Hank no assalto). “Antes que o diabo saiba que você está morto” não é explicitamente um filme sobre violência (mas não sei exatamente em quê, mas algumas cenas dele me lembraram “Pulp Fiction”), é implicitamente um filme sobre família: relação entre irmãos, pai e filhos (cônjuges e amantes?).
Talvez enquanto assistimos a este filme de Lumet não nos atentamos para essas relações, mas são elas o cerne dessa película (a cena final corrobora essa ideia). Ficamos nos perguntando como era realmente a relação de Hank e Andy com seus pais, com sua irmã... Afinal, somos apresentados a uma família – ou parte dela – com sérios problemas que motivaram aquele roubo. Mas não sabemos quase nada sobre “antes”, praticamente só daquilo que envolve o roubo. Isso porque passou a meia hora no paraíso, e o diabo já sabe “que você está morto”.
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