Certos filmes nos proporcionam as mais variadas sensações, sejam boas, sejam ruins. Ainda mais quando se trata do gênero terror; estamos sempre à espera de algo que vá gelar a espinha ou, simplesmente, trazer à tona os nossos maiores medos. No entanto, há um ''seleto'' grupo de longas que infelizmente não conseguem atiçar absolutamente nenhuma sensação no espectador; ''Apartamento 143'' entra nessa indesejável lista pela sua incapacidade de criar algo diferente do ''mais do mesmo'' e também pelas suas cenas chave que, deveriam supostamente causar pânico no espectador, não passarem de algo extremamente aborrecedor e decepcionante. O terror espanhol encontra-se com esta mancha realizada por Carles Torrens.
Seguindo a onda de ''Atividade Paranormal'', o longa prega pela ideia de assustar com a famosa câmera em primeira pessoa. Só que os motivos para se utilizar este recurso aqui estão próximos do ridículo. O fio de história criado para preencher seus 80 minutos gira em torno de uma família que está passando por uma fase difícil desde que a mãe das crianças morreu e a filha fica culpando o pai pela tragédia. Nota-se que junto à estes fatos infelizes, a família também carrega junto consigo uma espécie de assombração denominada ''poltergeist''. Visto que o pai não consegue lidar com este tipo de problema, ele contrata uma equipe de cientistas (?) para descobrirem o que há de errado; a equipe então instala diversas câmeras espalhadas por todos os cômodos da casa com o intuito de captarem alguma atividade sobrenatural que pode estar ocorrendo no novo apartamento da família. Neste caso, a investigação torna-se mais sofisticada, e a equipe tem em mão diversos outros artefatos além das câmeras; no entanto, a inclusão high-tech em nada ajuda. A ideia de utilizar um grupo de caça-fantasmas como desculpa para ficar sondando a família inteira em troca de sustos baratos soa no mínimo estapafúrdia.
Como de praxe, os diálogos entre os personagens não passam de piadinhas sem graça que são utilizadas apenas com a intenção de aliviar o clima tenso que rodeia o apartamento. Mas existem momentos de exceção; às vezes os parapsicólogos discutem teorias sobre os acontecimentos estranhos que até chegam a ter um embasamento interessante. Só que a própria caracterização dos personagens é falha, pois em certos momentos a equipe de investigadores se auto intitula como científica e que, portanto, não deve levar em consideração algo que saia fora dos padrões físicos naturais; mas em outras cenas levam a crer que eles estão ali exatamente para exterminar o mal espirituoso. Ou seja, Torrens não é capaz de dar uma posicionamento concreto aos seus personagens, tornando-os completamente contraditórios; não sabem nem a teoria que defendem.
Se pelo menos outras produções deste tipo ainda nos dão sustos repentinos, esta aqui tenta à todo momento e nunca consegue. O principal motivo deve ser o inevitável desgastamento deste gênero. São tantos filmes que vêm com a mesma premissa do susto barato que chega a ser até entediante ficar esperando os longos segundos até que algo vá explodir na tela. Mas ''Apartamento 143'' extrapola os limites do aceitável; seu clímax é um cúmulo vexatório de tão ridículo. Apela para além do gelinho na espinha, e apresenta uma cena de pura falta de noção (orçamento?) envolvendo desde destruição de objetos à efeitos insossos. Vale lembrar que o clássico clichê de levitação de corpos também é inserido, só que de uma forma incrivelmente simplista e imperturbável. Nem as mudanças de contraste visual, alterações repentinas de zoom e manuseio trêmulo da câmera fazem algum sentido ou cumprem seu objetivo.
O que mais tenho dificuldade de acreditar, é que alguém assista ao corte final de uma aberração como esta e diga que fez um bom trabalho. O nosso querido Torrens deveria estar no mínimo sob a ação de alguma substância nociva ao cérebro no dia em que terminou de lambuzar completamente a sujeira conhecida como ''Apartamento 143''. Aliás, muitos realizadores encontram-se sob a mesma perspectiva que Torrens hoje em dia. O cinema está cheio de bombas. Na realidade contemporânea é um campo minado. Difícil se escapar de algumas como esta apenas lendo a sinopse; porém, é sempre provável que alguém já pisou em um terreno esburacado antes e, por isto, aqui vai a dica de alguém que já teve a infelicidade de cair num abismo: fique à mil milhas de distância deste insulto ao ato de fazer terror no cinema.
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