Na década de 1950 não havia dúvida de quem era o grande mestre do suspense. Alfred Hitchcock ocupava – e muito provavelmente ocupe até hoje – esse posto. Porém um dos maiores thrillers dessa época não pertence ao diretor londrino. As Diabólicas (Diaboliques, Les) vem da França, adaptado do romance de Pierre Boileau e cuidadosamente dirigido por Henri-Georges Clouzot.
As diabólicas da trama seriam Christina Delassalle (Vera Clouzot) e Nicole Horner (Simone Signoret), respectivamente esposa e amante de Michel Delasalle (Paul Meurisse), que decidem assassiná-lo. Os motivos para o crime nos fazem questionar o título do filme, somos apresentados a duas mulheres que sofrem com os abusos de Michel, esse sim diabólico. Enquanto Christina é constantemente mal tratada e humilhada na frente dos outros pelo marido, a amante sofre com suas agressões físicas e psicológicas. O pano de fundo para esse triângulo amoroso é a escola onde Christina e Michel são diretores e Nicole professora. Apesar das circunstâncias, as duas mulheres são amigas e dividem o sofrimento causado pelo homem, dando apoio uma à outra nas situações adversas.
Religiosa e fiel aos princípios do casamento, Christina teme deixar o marido e em nenhum momento manifesta repúdio a Nicole, mesmo sabendo de seu caso com o marido. Christina poderia ser considerada quase uma santa. Quase. Juntamente com sua amiga e parceira de martírio, ela planeja cometer o maior dos pecados, o assassinato. Com o plano perfeito, as duas atraem Michel à casa de Nicole e o afogam em uma banheira. Depois jogam o corpo na piscina da escola onde trabalham. Com o álibi perfeito, as duas esperam que o corpo seja encontrado. Mas não é. Dias depois a piscina é esvaziada e o corpo sumiu. O suspense que já predominava desde o começo do filme, com cenas minuciosamente preparadas, agora já é a tônica maior, levando as duas mulheres ao desespero. Para completar a situação, o detetive Alfred Fichet (Charles Vanel) decide investigar o desaparecimento de Michel.
Nas quase duas horas de película, a câmera de Clouzot desfila pelos corredores da escola mostrando o dia a dia do local, os cochichos dos professores acerca do triângulo amoroso, além dos alunos ora estudando na sala de aula, ora brincando e correndo pelo pátio. À medida que a tensão aumenta, os planos ficam mais ríspidos e fechados, até que próximo do fim, temos pessoas percorrendo quartos e corredores escuros, com a tensão chegando ao seu ápice, para desvendar um dos finais mais surpreendentes já feito.
As Diabólicas vai além de um mero suspense, o filme aborda também temas como religião e casamento, bem como a influência negativa que esses dogmas podem exercer sobre o ser humano, principalmente colocando a mulher em situações adversas. Clouzot se destaca na construção dos personagens, sendo todos fundamentais para o bom andamento da história. Mas o principal mérito do diretor é esconder o seu final e o desfecho das situações. Em nenhum momento temos uma prévia do que está para acontecer, aí está o mérito maior de Clouzot, quase diabólico com o espectador.
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