Em meio às cores de um cenário bucólico, surge o amor em sua condição mais pura de graça, em um estado que, mesmo atravessando as barreiras carnais, permanece idílico em sua forma e tamanho, nos fazendo perceber o grande paradoxo entre a plena realização amorosa e a natureza efêmera da paixão, que insiste em diluir-se ao som dos ponteiros inexoráveis do tempo.
Clint Eastwood, que já havia se consagrado na direção com o premiado Os Imperdoáveis (Unforgiven, 1992), realizou, em As Pontes de Madison ( The Brigdes of Madison Country, 1995), o que é provavelmente o trabalho mais eufórico de sua carreira. “Madison” é, em suma, um exercício que visa a imersão do contemplador em um mundo sensível ao toque, onde a indiferença é incrédula e as emoções atravessam qualquer consciência narrativa para apegarem-se ao sentimento de que tudo aquilo nada mais é que a realidade. É nesse nível de sensibilidade que Clint conduz a bela e angustiante história de amor entre Robert Kincaid, interpretado pelo próprio diretor, e a pulsante Francesca Johnson, interpretada por ninguém menos que Meryl Streep.
O filme parte de uma eventualidade para lidar com definições que, infelizmente, desviam dos rumos impostos por nós aos planos e sonhos que servem como pilares da nossa existência, é triste e ao mesmo tempo belo perceber que nossas expectativas podem apenas serem correspondidas dentro de um contexto imaginário ou, como é demonstrado em “Madison”, em um espaço e tempo limitados; essas imposições propostas aos protagonistas acabam por anular o fator desmistificador de relações: a rotina, já que é através da convivência que as expectativas uma vez correspondidas pelo amor latente transformam-se em frustrações; a descoberta de que o companheiro nada mais é que um pessoa, com todos seus defeitos e particularidades, desfaz a ideia de realização plena, e então o marasmo é instalado.
É sábio dizer, portanto, que o amor vivido por Robert e Francesa foi eterno por não ter durado, e assim, nos encontramos melancólicos ao terminar de ver um filme tão divagante e realista ao mesmo tempo. Mesmo não sendo irretocável, é uma obra sublime e gigantesca desse diretor que, para mim, exala cinema.
Ótima crítica,. parabéns!
Filme muito bonito. Cafona, mas bonito. Grande texto. Parabéns.
Filme muito bonito. Cafona, mas bonito. Grande texto. Parabéns. [2]