“Nós aceitamos o amor que pensamos que merecemos.”
Poderia ser a icônica “Heroes” de David Bowie encabeçando a trilha sonora. Poderia ser a sensibilidade com Ezra Miller abraça seu papel. Poderia ser o sorriso apaixonante de Emma Watson. Ou mesmo o carisma imensurável de Logan Lerman. Mas é a combinação de todos esses fatores, mais o carinho palpável com que o roteiro e a direção de Stephen Chbosky (também autor do livro do qual o filme foi adaptado) encara seus personagens, que torna As Vantagens de Ser Invisível um filme especial.
A produção de Chbosky é um típico filme high school, mas mais que isso. É um típico romance adolescente, mas mais que isso. É um típico filme sobre outsiders, mas mais que isso. É também o retrato de uma época – da sociedade e do indivíduo -, mas mais que isso. É sobre tudo isso, mas também mais. É sobre tudo isso, mas protagonizado por pessoas reais, não meros arquétipos a disposição do roteiro. São jovens vivendo a fase da vida onde tudo parece valer mais, tudo é imediato - sejam sentimentos ou ações -, tudo assume dimensão própria. E por isso mesmo, é a fase da vida onde você se encara no espelho e parece perdido, transformando cada momento em uma tentativa de não apenas se encontrar, mas de aceitar aquele(a) que encontra. Daí a frase que abre esse texto, dita pelo compreensível professor interpretado por Paul Rudd (um ator subestimado que parece capaz de injetar verdade em qualquer personagem) e repetida posteriormente pelo protagonista, Charlie (Lerman). Não é questão de pertencer, como Charlie parece julgar no início do filme, mas do ato de se descobrir enquanto participa/pertence.
O trio de personagens principais – o homossexual extrovertido Patrick (interpretado pelo ótimo Ezra Miller), a apaixonante Sam (Emma Watson, provando que existe vida longe de Hermione) e o introspectivo Charlie – começam o filme como jovens problemáticos e mantém-se assim ao fim da projeção, mas mais amadurecidos em função de suas vivências ao lado uns dos outros. Novamente, não em função das experiências em si, por que experiências são apenas fatos isolados se nada vierem com elas, mas do quanto aprendem sobre si mesmos a cada uma delas. Num ambiente propicio aos diversos preconceitos e julgamentos morais – basta ver o medo que um jovem popular tem de ter seu namoro com Patrick descoberto -, o trio de protagonistas jamais julga um ao outro, se aceitam de braços abertos sem questionamentos, mas sempre se julga. Se cobra. Se decepciona consigo mesmo sem nem ao menos perceber que nem sabe ao certo o que busca. “Nós aceitamos o amor que pensamos que merecemos.” – novamente a frase-símbolo dessa cobrança, do nunca se achar bom o bastante para merecer o melhor. Ao fim de As vantagens de Ser Invisível os personagens continuam sendo um jovem homossexual que esconde por baixo da fachada de engraçadinho a decepção por não poder viver o amor da maneira livre que gostaria, uma garota que passou por maus bocados ao descobrir o sexo com homens mais velhos que a trataram como mero objeto sexual, e um rapaz com traumas passados que o tornam uma bomba-relógio sempre tentando manter o controle, mas eles se aceitam com tal, abrindo possibilidades de encarar o passado como ele é – um caminho cheio de aprendizado até o presente – e vislumbrar o futuro sabendo que o amor que merece é muito maior do que pensava de início.
O filme é perfeito? Claro que não. Assim como nenhum de nós é. Por vezes há um excesso de desejo de tornar os personagens cool, por exemplo. Além disso, toda o mistério envolvendo a tia do personagem de Lerman e o passado do garoto não se justifica dentro da história – faria alguma diferença se nada daquilo existisse? Não – e a barra pesa quando tudo é revelado em forma de “bomba”. Por outro lado, as performances sensíveis e apaixonantes de Lerman, Watson e Miller, ou qualquer cena em que os personagens interagem compensam qualquer deslize. Nos sentimos íntimos daquelas figuras e é difícil não se emocionar com eles em diversos momentos – duas cenas em que Sam e Charlie se beijam e uma em que Patrick revela seu interior para Charlie pela primeira vez me desarmam por completo, fazendo escorrer lágrimas. Em determinado momento perto do fim os personagens se abraçam e você se sente compelido a participar daquilo, tamanha a identificação com eles e sua relação.
Aí você percebe que tanto você como os personagens podem até não ser infinitos ou heróis por um dia, mas podemos ser invisíveis. E isso também tem lá suas vantagens.
Ótimo texto. Parabéns pelo comentário!
lacrou pepe
"É um típico filme sobre outsiders"
Não consigo ver o trio principal e enxergar outsiders (Logan e Emma, sobretudo, são 'clean' demais pra convencer); menos ainda quando, pela forma que se comportam, parecem esbanjar popularidade (o moleque vai de antissocial traumatizado pra pegador num estalo). Por conta disso também não consigo ver "pessoas reais" ali, mas uma juventude idealizada demais pra soar verdadeira -- e o tom romântico do voice over no final só reforça isso pra mim. 🙁
Queria muito ter curtido, mas não rolou.