Um filme sobre a indústria cinematográfica? Certamente. Mas não seria restringir a grandiosidade do encenado engessando-o.
Harry Pebel - (Walter Pidgeon), Georgia Lorrison (Lana Turner) e Fred Amiel (Barry Sullivan) são três indivíduos que conseguiram sucesso no impiedoso mundo de Hollywood. Outro ponto que os une é que ambos estiveram por longo tempo próximos de Jonathan Shields (Kirk Douglas), um produtor megalomaníaco, desapiedado, temido mas alijado do meio cinematográfico, ao qual eles devem uma parte considerável do sucesso que possuem. Os anos passaram e eles agora são convocados pelo produtor para ajudá-lo a retornar aos holofotes. Cada um deles vai rememorar através de três longos flash-backs, o emaranhado de eventos que os uniram e os afastaram desse homem maldito.
O que encanta nessa obra de Minelli é a subjetividade. Assim como em “Quem é o infiel” de Joseph L. Mankiewicz, ou “Rashomon” de Akira Kurosawa. Os três de certa forma darão seu testemunho e a platéia (nós), seremos manipulados ou não e daremos o nosso veredito. Note que os relatos primam por não fragmentar o personagem. Tudo que é relatado em determinado instante converge para torná-lo um ser palpável e condenável. Todos os relatos seguem o mesmo esquema: O encontro, o relacionamento e a degradação deste que conduz a ruptura. Apesar disso, em termos profissionais tal relação os conduziu ao sucesso.
O roteiro inteligentemente se aproxima do real. Insinua-se muito. Seria a atriz Georgia inspirada em Diana Barrymore(filha de John Barrymore) ou na própria esposa do diretor (Judy Garland)? E Jonathan Shields seria o reflexo nas telas da figura de David O. Selznick ? Poderiamos pensar que o diretor seria Jacques Tourneur? E o roteirista seria inspirado em Margaret Mitchell? E o diretor Von Ellstein não seria Erich von Stroheim?
Essa possibilidade que o roteiro cria de encontrar eco em nosso conhecer sobre a sétima arte o enriquece. Logicamente que Minelli não temeu em colocar no chão toda a representação idealizada do sistema que é construída pelo imaginário popular. O filme é uma declaração de amor a arte do falso. A arte do imaginário. Uma bela demonstração de amor ao seu ofício.
Em retomando o primeiro parágrafo, o que mais me cativou no filme em si foi a figura de Jonathan Shields. Um ser ligado ao cinema, mas cujas atitudes caberiam bem em vários ofícios. Aparentemente uma figura que demonstra força e poder. Mas é a mais frágil criatura que surge na tela. Um homem que vive de criar situações onde possa estar sempre no comando. Um ser que não deseja se revelar, por isso fantasia o tempo todo. Tem medo de se entregar a qualquer tipo de sentimento, já que isso pode levá-lo a não comandar. Assim, amizade e o amor o assustam. Quando se esgota o limite de segurança, não teme em dinamitar tudo o que foi construído.
Afora isso existe também a compreensão do papel de cada um dentro da produção cinematográfica. O produtor seria como um chefe de uma orquestra. Cabe a ele seduzir todos em busca de um resultado. Findo o filme ocorre um depressão. Tem de se iniciar tudo de novo. Se o produtor em si imagina a mise en scène, não cabe a ele dirigi-la. Cabe ao diretor essa função especifica. Von Ellstein explica ao produtor que poderia fazer de cada cena o apogeu do filme. Mas seria um péssimo diretor. Shield não concorda com ele e o despede. O resultado de seu trabalho será um produto sem ritmo, tampouco intensidade. Um filme não pode ser composto de uma sequência de momentos fortes. É uma construção global, que necessita de momentos para se respirar. A arte é como a vida. E a vida é pontuada de momentos insignificantes.
Filme de um momento onde a Indústria Cinematográfica voltou os olhos para si própria(“Nasce uma estrela”, “Crepusculo dos Deuses”, “A Condessa Descalça”, “Cantando na chuva” e “A grande chantagem”). Uma obra que mantém o frescor de quando lançado. Um retrato cruel das próprias entranhas da produção americana que soa atemporal e universal. Imperdível.
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