"Atirador" é um dos exemplos de que essas obras fúteis hollywoodianas até podem render algumas horas de entretenimento; no caso, aqui, mais de duas horas - o que pode ser considerado um exagero para um filme de tiros. E que exagero, podemos assim dizer, já que mesmo com tanto tempo disponível, muitos buracos ficam por preencher e o espectador demora a entender algumas passagens. Ainda assim, o trabalho do diretor Antoine Fuqua (Dia de Treinamento) rende bons frutos.
O principal deles é fazer com que um filme considerávelmente longo para o seu gênero não se torne enfadonho e aborrecedor. Muito pelo contrário, Fuqua sabe utilizar muito bem os 124 minutos da trama, tornando o trabalho recheado de passagens eletrizantes e empolgantes. Um detalhe interessante é que o diretor evitou exagerar nas cenas forçadas, por mais que isso seja difícil em alguns momentos. Em determinadas partes o personagem Bob Lee Swagger, interpretado por Mark Wahlberg, mata umas 15 pessoas com a maior facilidade do mundo e sem sofrer um único arranhão; ou seja, esse tipo de coisa ainda existe, mas Fuqua tentou fazer um retrato mais fiel à realidade – nada comparado com o que acontece, por exemplo, em "Duro de Matar 4.0", onde no final um carro se choca contra um helicóptero para explodí-lo.
Apesar dessas qualidades, o que é louvável para um filme como esses, alguns defeitos também saltam aos olhos do espectador. O roteiro, por exemplo, é apressado e atropela muitas partes. No início, principalmente, vemos cenas muito curtas, pouco explicadas, pouco trabalhadas, que deixam quem está assistindo confuso, sem entender muito bem o que está se passando. Eu mesmo demorei a entender o real sentido do longa, até que depois de uns bons minutos comecei a me situar – mas ainda assim é uma tarefa árdua. Ainda falando do roteiro, ele não é nada inovador, e passa aquela impressão de “eu já vi isso antes em algum lugar”. Pois é, a história é pouco original, e se salva mesmo pela habilidade de Antoine Fuqua em conduzí-la.
Muitos clichês também permeiam o filme. Logo de cara já percebemos quem será o bonzinho e quem será o malvado. Ou aquele que jogava para o time dos maléficos e passou a ajudar o mocinho, ou a mulher que se envolve com o personagem ‘do bem’ e passa a ajudá-lo… se nesse ponto "Atirador" também ficou devendo, o mesmo não podemos dizer do desempenho dos atores. Mark Wahlberg se consagra como um dos ótimos nomes dessa nova safra (após ser indicado ao oscar de melhor ator coadjuvante em "Os Infiltrados"). Aqui, ele faz um personagem duro, inteligente… uma espécie de MacGyver da era moderna, pois o tal atirador sempre sabe como solucionar os problemas com os artifícios mais simples. Brincadeiras à parte, Wahlberg vai muito bem, assim como seu companheiro Michael Peña, que se destaca por conseguir deixar bem clara a fragilidade de seu personagem.
No final das contas, podemos dizer que "Atirador" é mais do mesmo, embora ainda consiga entreter o espectador com muita propriedade. E para os fanáticos por seriados, em alguns momentos o longa me lembrou bastante a série "Prison Break" (claro que sem o mesmo brilhantismo de Michael Scofield e cia), já que a todo o instante os personagens lutam incessantemente para desmascarar o governo e suas artimanhas. Ou seja, para quem gosta da série, é possível que se identificará com a trama. Para o restante, ainda recomendo o trabalho de Antoine Fuqua, embora diga para que assistam sem a mínima expectativa.
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