(Spoilers.)
Eu consigo me lembrar do dia em que vi o primeiro Atividade Paranormal pela primeira vez, na verdade, consigo lembrar até mesmo minha reação não apenas diante do filme como também do bizarro trailer que estava sendo exibido nos cinemas, fui pego de surpresa numa sessão de Avatar e fiquei extremamente interessado em conferir o filme. Esperei alguns meses para vê-lo, mas valeu a pena esperar: Era um filme simplesmente aterrorizante, com uma atmosfera opressiva e que conseguia assustar com uma porta se mexendo levemente, com um lençol subindo ou com uma sombra que você quase não viu. Porém, já era possível ver o apelo comercial hollywoodiano em seu desfecho insatisfatório e abrupto (o final originalmente rodado era anos-luz melhor). No geral Atividade Paranormal que se desenvolvia com cuidado poderia render boas sequelas. A continuação já apareceu no ano seguinte, e mesmo não causando o mesmo impacto do original, era correto e moderadamente divertido (apesar de ser abarrotado de defeitos). O terceiro surgiu como uma surpresa: Era assustador e incrivelmente divertido e conseguia reutilizar de uma ideia que parecia ter se esgotado a muito tempo. Enfim chegamos ao quarto capítulo da franquia Atividade Paranormal que não se revela apenas uma imensa decepção – principalmente depois do ótimo terceiro filme -, como também acaba se tornando o pior filme lançado comercialmente no ano.
O roteiro tem como protagonista a adolescente Alice, que recebe em sua casa o bizarro vizinho de cinco anos do outro lado após sua mãe ser internada. Depois de muito tempo a garota percebe que coisas sobrenaturais estão acontecendo com sua casa e com pessoas de sua família, e tudo a leva pensar que o garoto está totalmente envolvido nisso. Com pouquíssimas linhas eu consegui descrever toda a trama presente em Atividade Paranormal 4 (com exceção dos dez minutos finais, é óbvio). Portanto, pode-se perceber que o longa não trás absolutamente nada de novo a série, muito pelo contrário, apenas reutiliza todos os elementos – e cenas, praticamente, inteiras – dos três filmes anteriores. O que não seria um problema - Atividade Paranormal 3 também trazia poucas novidades, mas... – se o filme ao menos cumprisse o dever de assustar o espectador, o que convenhamos não é muito difícil de se fazer, basta aumentar a trilha sonora subitamente. Porém, até nisso Atividade Paranormal 4 falha tremendamente, já que todos os seus “sustos” podem ser previstos pelo espectador vários minutos atrás. O que realmente me surpreendeu é que eu me assustei com uma mosca que voou ao lado da minha orelha mas não tive nenhuma reação diante do filme.
Obviamente, Atividade Paranormal 4 é repleto daqueles clássicos clichês que você tinha achado que nunca mais veria em nenhum filme de terror moderno de tão idiotas e previsíveis que são: Temos um gato assustando a mocinha (e, consequentemente, tentando fazer o mesmo com o público, sem sucesso), o lustre balançando e crianças estranhas sussurrando com o ar. Portanto chega a ser frustrante que em nenhum momento o filme assuma que tem clichês, pois tenta reinventá-los da maneira que pode: O lustre caí e a criança que antes sussurrava começa a berrar loucamente com o vazio a sua frente. Isso gera uma série de cenas que transbordam humor involuntário (dei gargalhadas no momento onde a garota é levantada em sua cama pela assombração) e algumas realmente vergonhosas, como o óbvio susto falso e o ângulo da câmera que foca na porta da geladeira que se fecha e que dá a sensação ao público de que algo assustador vai aparecer no fundo quando na verdade não há.
Os personagens são os mais clichês possíveis: A protagonista que crê e investiga os fenômenos paranormais que estão acontecendo em sua casa, o namorado que só faz piadas com o assunto e os pais que só acreditam depois de verem uma faca descer do teto. O elenco faz jus ao sofrível desenvolvimento dos personagens: Os atores são tão expressivos quanto um copo. Aliás, outro ponto risível é o roteiro, que nem ao menos faz sentido: Se na primeira metade os protagonistas passam e repassam as gravações centenas de vezes apenas para ver um objeto que se moveu no fundo da sala, na segunda metade os personagens simplesmente ignoram as câmeras e não checam absolutamente nada (é completamente implausível que Alice visto a fita onde flutuou na cama enquanto dormia). E isso é o de menos: A simples proposta de como trazer o horror para dentro da casa dos mocinhos é péssima, fazendo que todo o enredo fique sem propósito ou lógica. E se o roteiro tenta entregar alguma solução a esse problema, aí que tudo se enrola mais ainda.
No final, é impossível dizer que um dos problemas de Atividade Paranormal 4 é de como a filmagem em primeira pessoa é desnecessária e muito mal utilizada (mesmo que a ideia de chats online seja boa, ela é usada no filme de forma pouco satisfatória), já que estamos falando de um longa sobrecarregado de defeitos. Um filme cujo destino dos personagens podemos prever antes mesmo do filme começar (afinal em todos os capítulos da franquia os personagens ou morrem ou são possuídos por um demônio). E isso me leva a pergunta: O que aconteceu com Atividade Paranormal? Uma franquia com potencial, e que com um quarto capítulo que acabou como um dos piores filmes do gênero em anos. Foi o mesmo que aconteceu com Jogos Mortais, que continuou eficiente até o terceiro exemplar e depois se tornou uma das maiores bobagens e confusões narrativas do cinema atual. Espero, sinceramente, que os produtores não esperem até a sétima parte para acabarem com Atividade Paranormal, pois se o quarto já foi assim imagine como será o sétimo.
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