“Apesar de paralítico, Jake Suly, um soldado imobilizado em uma cadeira de rodas, permanece um combatente no imo de sua alma. Ele é recrutado para se apresentar anos luz da Terra, sob Pandora, onde poderosos grupos industriais exploram um raríssimo mineral que resolverá a crise energética de nosso desgastado planeta. Devido à atmosfera ser tóxica para os humanos, existe a possibilidade de junção cerebral a um corpo de “avatar” – um corpo biológico hibrido, criado geneticamente através do cruzamento do DNA Humano com aquele dos Na’vi, os autóctones de Pandora.
Sob a forma de avatar, Jake consegue de novo caminhar. Os interesses escusos dos grupos industriais lhe conferem uma missão. Infiltrar-se entre os nativos, que irão ser um obstáculo para as pretensões capitalistas, sequiosos pelo precioso metal. Tudo, no entanto ganha uma nova dimensão quando ele aprende a ...”
Não sou daqueles que se sentem atraídos por efeitos especiais. Aprecio-os se estiverem servindo de alicerce a uma história boa. As histórias como já cansei de repetir não emanam muita originalidade. Todas provavelmente já foram contadas ou filmadas. O que vale é a forma, a maneira como o tema é abordado ou contado. Avatar pode ser visto como um western futurista. Discute-se aqui uma história já sabida. O embate entre colonizadores e índios. Os índios aqui seriam habitantes de Pandora. Nada mais temos que a temática do bom selvagem. É aqui que o filme cresce. Retomar tal tema da forma como Cameron explorou é algo grato. A questão ecológica demanda um acerto de contas com o passado. E enxergar que a Civilização atual foi construída sepultando para sempre civilizações que sabiam conviver com a natureza é algo corajoso. Cameron parece indicar que o caminho a seguir é mergulharmos novamente na natureza. A natureza de Pandora não difere muito da nossa. Sabemos que nós já não nos conhecemos integrados a ela. Nossa civilização desde muito vive a margem da natureza. Alguns provavelmente e com razão irão estranhar o mundo construído por Cameron: Pandora. Agora poderemos em sã consciência dizermos que conhecemos o nosso planeta e a ele nos integramos?
O filme tem sua força na metáfora. Todo o deslumbramento visual é feito para conquistar nossa atenção para passarmos a sentir o problema que nos ameaça. Pandora não deixa de ser uma espécie de Amazônia onde a fauna e a flora reina como mestres. Ao mesmo tempo fascinante e ameaçadora (pois não a compreendemos) com árvores gigantescas que diminuem até os Na’vis. Um mundo ao mesmo tempo tão distante e tão próximo de nossos desejos ancestrais.
A grande ameaça a Pandora é justamente a sua virgindade, o fato de não ter sido ainda tocado e ofendido pela cupidez humana. A idéia de se colocar um salgueiro gigantesco como o centro do planeta, o coração de todo aquele esplendor, o pulmão que capta a energia para o todo é sublime. Ainda mais pelo nome que ela carrega: Árvores das almas ou espíritos (de todos os seres viventes). A árvore representa o próprio planeta ameaçado. E o planeta libera suas linhas de defesa para mantê-la intacta.
Notemos que existe um contraste do lugar onde os humanos armam sua base e o restante do mundo a explorar. Na base militar e científica predomina o cinza e a escuridão. A natureza que cerca os humanos é aquela criada artificialmente: máquinas. No mundo a ser dominado e explorado o verde e o azul se impõem. Se todos os habitantes de Pandora vivem harmonicamente entre si, na base terrestre existe sempre um afrontamento entre todos. A energia, digamos assim flui, circula entre os habitantes de Pandora de forma que tudo se harmoniza. Lá onde o homem se instala ela parece ser armazenada para que exploda em um confronto. Seriamos nós seres belicosos que não se respeitam nem entre si.
Logicamente que tudo o que é feito com vistas a compreender aquele mundo e seus habitantes nada mais é que puro engodo para justificar a futura e eminente agressão. Vem-nos a baila as últimas intervenções bélicas norte-americanas (Iraque e mesmo o Vietnã). Iraque devido às falsas justificativas a um país amaldiçoadamente governado por um tirano, mas isento da culpa que deflagrou a intervenção. Do Vietnã vem-nos a imagem do americano cercado por uma natureza com a qual não sabia lidar. E quando o confronto se deflagra não poucas vezes me lembrei do napalm que tudo queimava a sua volta. E esse instrumento de destruição está jungido a Guerra do Vietnã, confronto esse perdido pelo Tio Sam.
De todos os filmes que vi de Cameron esse é o melhor. Aqui a mensagem veiculada é por demais forte. Toda capacidade do diretor criar imagens marcantes é explorada no limite. O que a meu ver limita sua obra é o tom maniqueísta desde o princípio na construção de certos personagens. O coronel é desvendado psíquica e fisicamente desde a primeira aparição. E os soldados parecem uma massa que complementa o seu pensar (ok, lógico que essa era a idéia primordial – Mas outras células (soldados) não poderiam entrar em choque com esse organismo?). Também parece que o dialeto (ou linguagem) Na’vi foi rapidamente esquecido e o inglês passou a preponderar rapidamente dentro do relacionamento entre ambos os povos.
Os personagens são como bem disse Koball vazios. Sigourney Weaver desde o princípio era a escolha certa, e também a mais óbvia, para o personagem vivido na tela. Avatar poderia ter se inserido dentro daquilo que chamamos filmes de autor não fossem várias concessões aos códigos da indústria cinematográfica de Hollywood. Faltou uma melhor evolução no desenvolvimento dos sentimentos dos personagens, um carinho melhor com o roteiro – as elipses são incongruentes. Contudo o objetivo era chamar a atenção e cativar a atenção mundial. Tal foi alcançado. E apesar dessas facilidades e concessões a bilheteria o filme me cativou. Mas ficou-me a sensação que faltou pouco para estarmos diante de uma obra-prima. Ainda assim o resultado é satisfatório.
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