MUITO ALÉM DA EXPERIENCIA CINEMATOGRAFICA.
Um bom filme surge de muitas formas, pois o cinema pode ser aproveitado de várias maneiras. Existem filmes que relatam momentos históricos, existem aqueles que brincam com as possibilidades do cinema, existem filmes que transmitem mensagens e metáforas e é claro, que existem os filmes que divertem e entretêm. De certa forma, Avatar (2009) funciona de todas essas formas ao mesmo tempo.
A trama é simples e clássica, Jake Sully é um soldado enviado para uma missão em outro planeta, Pandora. Lá, ele vai utilizar de uma revolucionária tecnologia, o programa Avatar. Esse revolucionário conceito, permite que humanos se conectem, mentalmente, com corpos sintéticos dos Na’vi, alienígenas habitantes de pandora.
James Cameron, diretor do longa, visava um filme grandioso, desde quando começou a escrever o roteiro, em meados de 1995. Cameron não queria apenas filmar uma aventura empolgante, e nem um filme recheado de metáforas. O ego do diretor o obrigava fazer história, nada menos que isso. Não atoa, Avatar teve um orçamento estimado em mais de US$ 500,000, um dos filmes mais caros da história do cinema. Um orçamento tão alto deve ter como resultado uma boa recepção de bilheteria (o que Avatar certamente alcançou), e bilheteria necessita de público, e fazer um filme para o grande público, sem deixar de lado todos os significados da obra, é algo que muitas vezes não funciona, mas é uma proeza que Avatar alcança com maestria.
Avatar foi lançado em uma época propicia, 18 de dezembro de 2009, o fim de uma década marcada por ações militares controversas dos Estados Unidos no Oriente Médio e por questões ecológicas. Tais temas serviram muito para o “hype” do filme, já que a obra se aprofunda nesses assuntos. Ativistas e políticos de comunidades contra guerra e contra a devastação da natureza, abraçaram a obra de Cameron como única e definitiva, pois, finalmente encontraram um filme popular que simbolizava todas as questões pela qual lutavam.
A principal crítica que o filme faz é a destruição do meio ambiente. Pandora é retratado como um planeta rico em diversidade de fauna e flora, e seus habitantes mais evoluídos, os Na’vi, vivem em perfeita harmonia com a floresta. Tudo muda com a chegada dos humanos. Que vão ao planeta a procura de unobtainium, um minério que vale milhões na terra. O infortúnio surge quando se descobre que a maior mina de unobtanium está localizada a baixo da aldeia de uma tribo Na’vi conhecida como Omaticaya. O programa Avatar serve para que os cientistas possam convencer os Omaticaya a deixar a aldeia. Não por coincidência a aldeia dos Omaticaya é uma grande árvore, a Árvore-Lar, a ideia de James Cameron é justamente essa, usar a árvore (símbolo da natureza) como vítima do ser humano.
Não por acaso, Cameron optou por deixar os Na’Vi visualmente semelhantes aos povos indígenas norte-americanos. A ideia é fazer uma crítica a descoberta do “Novo Mundo”. O ser humano não apenas destrói a natureza, mas destrói a história e a cultura dos povos indígenas. Está crítica fica clara em diversos momentos do longa, como em uma fala da personagem Parker Selfridge (Giovanni Ribisi), diretor de toda a operação de extração do Unobtainium de Pandora. Em um trecho do filme, Parker fala sobre as tentativas de negociar as terras dos Omaticayas: “Já tentamos de tudo. Demos a eles educação, escolas, ensinamos a nossa língua, demos estradas, mas fazer o que? Eles gostam de lama”. Parker personifica o homem branco, rico e capitalista, que pensa que apenas o seu pensamento é valido e todos os outros devem seguir o seu modo de vida.
O grande antagonista da trama é o Coronel Miles Quaritch (Stephen Lang), soldado bruto, astuto, experiente e fatalmente carismático. Quaritch é bem definido como o vilão da história (com direito até a cicatriz no rosto), mas bem mais do que caricato, a personagem é também uma representação do fanatismo militar norte americano, ele ama o que faz, e lidera seus mercenários de forma a fazer o mesmo. A crítica a guerra fica ainda mais clara em uma frase que Quaritch diz para incentivar os seus soldados a atacar os Omaticayas: “Vamos combater o terror com o terror!”, frase que define perfeitamente o pensamento norte americano pós 11 de setembro. Em uma cena deletada do longa, mostraria um plano dos soldados, eles derrubariam árvores sagradas para os Omaticayas, com a intenção de irrita-los e causar uma rebelião, que serviria de desculpa para poder atacar a árvore-lar. Uma referência clara e polemica a uma das teorias da conspiração mais conhecidas: E se o 11 de setembro foi uma armação do próprio Estados Unidos.
No geral, podemos afirmar que Avatar alcança seu status de épico, principalmente por toda tecnologia e triunfo que a obra alcançou e definiu para a sétima arte, e assim será lembrado, como o filme que popularizou o 3D e também redefiniu a captura de movimento. Mas não é apenas isso, Avatar tem uma trama rica em significados e referências que se for visto com outros olhos, certamente se tornará uma obra ainda mais memorável.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário