Coube a um mascate libanês, Benjamin Abrahão, ser a única pessoa a filmar Lampião e seu bando. Ele o fez na expectativa de ganhar dinheiro - como bom comerciante e árabe que era, queria lucrar mostrando os cangaceiros para o Brasil do sul e o estrangeiro. Bem o filme poderia se chamar: "Lampião e Abrahão - o Mito e o Mascate Libanês"
Mas chegar a essa "fera perigosa" não seria fácil. Não é à toa que foi um não-brasileiro que conseguiu. Benjamin precisará usar sua influência junto aos coronéis nordestinos e à amizade que tinha com o Padre Cícero para levantar fundos, chegar a Lampião e convencê-lo a deixar filmar-se. Trata-se de arriscar mais a vida que o dinheiro, descobrirá o caixeiro-viajante.
Em resumo, Benjamin Abrahão tornou-se o único a filmar o mais famoso dos cangaceiros e, se hoje temos aquelas imagens preciosas em preto e branco de Lampião e seu bando, devemos a ele. O mascate não pretendia retratar criticamente um estilo de vida, fazer apologia do banditismo ou estudar comportamentos: queria era ganhar dinheiro mostrando em imagens o famoso homem que desafiava o Poder Central no sertão nordestino.
Os dois diretores têm um trabalho impecável de direção: reconstituem as filmagens originais de Benjamin com grande precisão. O Rei do Cangaço e seus cangaceiros ganham mais vida com as cores e sons do cinema moderno. Podemos até perceber o cheiro do ambiente. O exercício metalingüístico do cinema ficou perfeito. Do figurino de cor exuberante dos cangaceiros às belíssimas imagens do Rio São Francisco, que cortava as "selvas nordestinas", Paulo Caldas e Lírio Ferreira estão de parabéns.
Lampião, Maria Bonita e os demais cangaceiros ainda estão mitificados - tal como Padre Cícero. Mas "Baile Perfumado" afasta um pouco o mito e nos aproxima perigosamente do cangaço. Nos aproxima de uma época que ficou para trás, imortalizada em contos, canções, cordel, depoimentos e, nesse caso, nas filmagens de um libanês caixeiro-viajante que tornou-se personagem importante da história nacional.
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