Quando as pessoas mencionam grandes diretores de outras décadas são sempre os mesmos Martin Scorsese, Steven Spielberg, Woody Allen e sempre deixam de lado um dos grandes nomes, Roman Polanski - ele que nunca deixou de fazer bons filmes, muito pelo contrário, Polanki nunca saiu de uma boa fase, talvez tenha entrado em crise após o gigantesco O Pianista, quando decidiu dar uma nova roupagem a Oliver Twist, depois entrou em fase teatral com dois ótimos filmes Deus da Carnificina e A Pele de Vênus que não era só teatral no sentido literal da palavra, como também falava de crise e do artista à beira do colapso total, Baseado em Fatos Reais volta o mesmo tema, enquanto no seu filme anterior o artista estava focando em uma peça de teatro, o âmbito principal aqui é a literatura, já digo de antemão que esse não é um filme ruim, só que também não é bom.
Baseado em Fatos Reais tem suas raízes no best-seller de Delphine de Vigan, uma auto-ficção com mesclas de thriller psicológico ao tratar do bloqueio criativo de uma escritora que recentemente lançou um best-seller, logo de cara já pensamos em outros inúmeros filmes com essa mesma estória, já encontramos ela no cinema, na literatura, no teatro, o mistério imediatamente emperra a obra toda pela quantidade de pequenas cenas que o roteiro coloca, mostrando situações cotidianas cada vez mais opressivas para Delphine (a mais uma vez excelente Emmanuelle Seigner) e Elle (a mesma sádica Eva Green de sempre), sugerindo e ao mesmo tempo negando a relação, isso de fato está acontecendo ou é só uma loucura da personagem, pensamos. O roteiro raso de Polanski junto com Assayas (que já havia trabalhado perfeitamente o tema em Personal Shopper) da as informações em uma cena e tira o mistério na seguinte, tudo é resolvido por François, o personagem inútil e única ponte entre a realidade e a insanidade de Delphine, essa ponte seria muito melhor em uma outra personagem, como a editora de Delphine que acaba se tornando inútil também.
Polanski maltratou seu filme, não é o mesmo trabalho que ele aplicará em outros de sua obra, como consequência desse mal tratamento, o espectador começa a questionar a verossimilhança de algumas coisas, principalmente na aproximação das duas escritoras dai em diante, a bela trilha sonora de Alexandre Desplat começa a ser utilizada com absurdo efeito expositivo, estragando o suspense que poderia ser aumentado pelo silêncio, se por um lado Polanski peca narrativamente no cuidado de seu filme, na direção e principalmente no roteiro, as protagonistas conseguem chamar nossa total atenção para o filme, em atuações fortes tanto de Seigner e Green, isso porque o diretor capricha nas cenas no visual do filme, mostrando-as num aspecto muitíssimo pessoal, de planos médios a primeiros planos sufocantes.
Como um todo o filme é mar sem fim de clichês, uma previsibilidade sem fim, sabemos tudo que vai acontecer muito antes de acontecer, alguns até que são bem trabalhados, como aquele que carrega a referência a Louca Obsessão, mas a maioria não é, antes de a revelação ser feita, aquilo que os roteiristas tanto temeram e tentaram “disfarçar” no início do filme, surge bem mais cedo do que deveria, começamos a adivinhar algumas coisas, perceber outras e reparar nos pequenos detalhes, no seu final, quando mistério se resolve, percebemos que não existe uma surpresa, era uma farsa que tentou se passar por uma boa farsa mas ... sem sucesso, ainda que eu tenha gostado do filme.
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