Já vivi muito. E creio que apesar disso não chegamos a um nível satisfatório de sabedoria (se é que a possuímos). Quando as primeiras imagens desse filme se desenrolaram diante de minhas vistas (em DVD – não disponho de tempo e alguém que me leve ao cinema com a freqüência desejada) fiquei impressionado com o domínio de cena, as interpretações soberbas, os diálogos primorosos (um novo Joseph L. Mankiewicz?). E fui-me deitar. Por dias dei-me por satisfeito com o que vira. Grande cinema. Quem me encontrasse e dialogasse comigo ficaria abismado com a voracidade com que eu iria defender a película. O tempo contudo é sábio. Tarantino é esperto, mas desvendei-lhe o segredo: SUAVE MARI MAGNO.
Toda obra carrega dentro de si uma ideologia, boa ou má. Devemos nos ater, contudo a época em que tal obra é concedida. O que nos soa repulsivo, pode ter sido naquele momento gratificante para a Humanidade. Ora a proposta de Tarantino não é condenar o Nazismo. É revigorá-lo, já que tortura, morte e crueldade são marcas nazistas utilizadas pelos bastardos. Para Tarantino o Nazismo não deu certo, pois foi fraco. Os bastardos nada mais são que indivíduos piores que os soldados (que apesar de envergarem uniformes nazistas – podiam ser simplesmente alemães obrigados a servir a pátria). Ora não existe diferença entre o Coronel Hans Landa e o grupo dos bastardos. Ambos sentem prazer em ver padecer. E Tarantino, esse demoniozinho ianque, deleita-se em ver que quem assiste se junge a sua podre ideologia. A marca imposta ao Coronel quando se finda o filme, marca apenas um duelo entre fascínoras: Aldo Raine é Tarantino, e Landa não lhe deve tomar o lugar (fantástica criação do austríaco Waltz).
É verdade que o cinema que nos foi apresentado é grandioso, mas esse se esboroa diante da proposta moral: O filme é uma apologia do que pior existe dentro de nós. Se olharmos para o abismo, poderá o abismo adentrar em nós.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário