Frank Miller talvez seja melhor o roteirista de quadrinhos da atualidade. Responsável por revitalizar inúmeros heróis tanto na Marvel; “A queda de Murdock” (Born again -1987 ) tanto na DC, ele é famoso por sua genialidade e criatividade( se me permite o eufemismo). Após anos de sucesso, alcançou Bruce Wayne em Batman: “O cavaleiro das Trevas” (The Dark Knight Returns,1986), o que mudou completamente o modo como se viam os heróis mascarados até então. Em o cavaleiro das trevas de Miller, ele cria um futuro alternativo para Batman, que,já aposentado, observa a degradação de sua cidade, Gotham, e cria toda uma nova conduta de combate ao crime.O mais interessante porem, é o modo como Miller conduz a historia. Sombria. Crua. Até mesmo agressiva. Com grandes contrastes; quase que um filme noir em quadrinhos. O Batman pós-Miller é genial.
O homem morcego já sofreu inúmeras adaptações para o cinema. Desde a divertida serie dos anos 60, com Adam West, o medíocre “Batman”, de Tim Burton, o risível “Batman eternamente” (Batman Forever, 1995), e o estupro mental “Batman e Robin“ (Batman & Robin, 1997) ambos de Joel Schumacher. Entretanto, nenhum destes cineastas conseguiu a difícil missão de retratar a complexidade de Batman, que por ser um herói impar, merece um cuidado especial. Eram apenas filmes divertidos. Como já dito anteriormente, Miller revitalizou Batman, levando o homem morcego a um patamar incrível que, imagino eu, nem o próprio Bob Kane, ao criar o homem morcego imaginou. O único diretor a retratar com precisão toda a complexidade, genialidade e peculiaridade de Batman , foi Nolan. O Cavaleiro das Trevas de Miller é certamente, uma das principais fontes do filme de Nolan.
Adaptações geralmente caem no lugar comum de se tornarem meramente comerciais. Um desperdício. Nolan, contudo, alcança o ápice de criatividade ao retratar Batman. Ele humaniza tudo, desde Gotham, cidade que sofre com sua criminalidade e corrupção, os personagens e, é claro, o próprio Batman com suas duvidas, hesitações, e suas crises existenciais que refletem diretamente na sua luta contra a violência que parece dominar e corromper a todos. O filme tem uma estética perfeita. Tal como seus efeitos visuais e especiais. Tudo isso filmado por câmeras IMAX (o segredo da qualidade esta no tamanho do filme, ao invés do tradicional 35mm, capta-se as imagens com uma película de 70mm). Se câmeras convencionais já são bem aceitas pelo publico, o IMAX torna o filme uma experiência única. Impressionante visualmente. Um mergulho no sombrio mundo do Batman.
Temos o brilhante Coringa (interpretado de forma maravilhosa para Heath Ledger). O vilão mais complexo do universo dos quadrinhos é retratado com maestria. É certamente um dos pontos altos do filme. Ledger é um hibrido do coringa de Miller e Alan Moore. Nos quadrinhos de Miller, o Coringa é retratado como um assassino, violento e extremamente frio. Em “A piada mortal” (The killing joke, 1988), escrita por Alan Moore, temos a origem de Coringa, que se entrega à completa insanidade após perder tudo. No filme, de forma paradoxal e sádica, o coringa tenta provar que todo o ser humano pode ser corrompido. Num meio trágico e cruel, todos enlouquecem. Certamente, não poderia ser melhor.
Entendemos cada ponto do filme. Justamente pela aproximação ao nosso mundo real. Vilões, e heróis, que estão indignados com a sociedade, com o rumo do mundo. Uma obra de ficção autêntica. Palpável. Humana.
O roteiro escrito pelo Christopher Nolan e seu irmão, Jonathan Nolan é excelente. Essa relação entre Coringa e Batman é muito bem representada, e força nosso herói, muitas vezes a tomar medidas drásticas; a onda de anarquia de Coringa faz que com Batman quase ultrapasse o tênue limiar entre herói/vilão. Assim, coringa conduz o Comissário Gordon (Gary Oldman), o promotor Harvey Dent (Aaron Eckhart) e o homem morcego a situações impraticáveis (no sentido moral da palavra), o resultado disso é que no decorrer do filme, tudo o que esses bons personagens representam; ética, moralidade, bondade, são ameaçados.
O roteiro é sustentado por ótimos atores. Ao contrario de Michael Keaton ou George Clooney, Bale é o Batman definitivo, que amadurece e ganha força em o Cavaleiro das Trevas. Temos Gary Oldman, como Gordon, com uma interpretação bem executada, Aaron Eckhart, como o “cavaleiro branco” o promotor Harvey Dent, que, com uma atuação eficiente constrói um personagem extremamente interessante. Morgan Freeman como Lucius Fox, capaz de tornar real todos os caprichos e extravagâncias de Batman. O sábio Alfred, interpretado por um Michael Caine impecável. No elenco, temos apenas a mudança de Katie Holmes pela Maggie Gyllenhaal, esta que, apesar de ter de carregar uma Rachel Dawes mais dramática, não consegue o feito de Katie.
Batman é um sucesso merecido, tanto de criticas, quanto de bilheteria. Uma adaptação a altura do grande personagem que é Batman, não desaponta. Um filme completo, complexo, que faz jus a inteligência do espectador. Só esperamos que Nolan continue assim. Afinal, um filme comercial, mas também inteligente não é muito habitual atualmente. Alcançar tanto sucesso não é fácil, e devido à mediocridade cinematográfica atual, o trabalho de Nolan não deve nem irá ser ignorado. Definitivamente um marco no cinema.
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