''A noite é mais sombria um pouco antes do amanhecer.''
O caos, a anarquia, o pânico, o ano agora é 2008, foram três anos de espera, o diretor Christopher Nolan - um nome promissor dessa nova geração - finaliza seu mais recente trabalho, a continuação do filme Batman Begins (Batman Begins, 2005), a obra que ficou conhecida como Batman: O Cavaleiro das Trevas (Dark Knight, The, 2008) tendo sido um grande arrasa-quarteirão, o segundo filme de uma trilogia de sucesso, em uma das melhores adaptações do cinema e do homem-morcego, da DC Comics.
The Dark Knight (para os mais íntimos, TDK) não foi apenas um sucesso de crítica, mas também de bilheteria, fazendo mais de 1 bilhão de dólares no mundo todo, números bem maiores que o do primeiro filme da trilogia. Existe uma razão para isso, e a mais simples é: o vilão. Os filmes de super-heróis, até então, não estavam tão populares como os dias atuais (só no ano de 2016 serão cerca de seis filmes), mas acontece que é um fenômeno que cresce cada vez mais, tendo surgido com os X-Men em 2000, e se estendido para praticamente todos os campos de personagens de HQs - e até mesmo fora dela - É como os filmes de faroeste antigamente, seus momentos de glória, o clímax, o declínio, o fim de uma era... e o começo de outra. O segundo filme (que faz uma ligação direta com o primeiro e tem o dever de entreter e ser superior ao original, duas coisas bem realizadas neste, e ainda a missão de finalizar bem, para ter um caminho limpo e sem buracos para o terceiro e último da trilogia).
Se em Batman Begins, muitos erros eram perceptíveis, aqui eles são praticamente inexistentes, e ainda existia o fator de ser um filme de origem, o que por si só já é cansativo, junte isso com a falta de ação e excesso de diálogos, que tudo se torna monótono e cansativo para todos. Aqui não, a sequência de abertura é muito bem arquitetada e explorada, apresenta o vilão e, mais do que isso, mostra um tom ameaçador, de algo ou alguém que surgiu do nada e até então é um enigma.
O filme é forte em vários aspectos, não só no quesito construtivo da trama, mas dos personagens, das atuações (Christian Bale mais solto e natural como Bruce Wayne/Batman, Michael Caine continua tão bem ou até melhor do que anteriormente, Morgan Freeman aparece por mais tempo e ainda melhor, Aaron Eckhart fazendo um excelente Harvey Dent e um ótimo Duas-Caras, a entrada de Maggie Gyllenhaal no lugar de Katie Holmes foi uma jogada boa, ainda que trocar atores seja algo que dê nos nervos, ela se sai bem, talvez até melhor que Holmes, Gary Oldman como Comissário James Gordon continua excelente e a melhor atuação de todo o filme, Heath Ledger, como o vilão icônico, Coringa), o filme tem um ar de novo, não só por ser uma sequência, novos equipamentos, uma nova vestimenta, muito mais interessante que a antiga, até mesmo um novo veículo, a Batpod (uma espécie de moto).
A trilha sonora é outro ponto espetacular do filme, Hans Zimmer e Nolan se mostram uma excelente dupla, tendo o compositor trabalhado mais tarde em pelo menos outros três projetos do diretor, expressa tudo aquilo que o Batman é, além de uma ótima faixa-tema para o vilão Coringa, que retrata a essência do personagem, sua loucura. A fotografia é outro primor, ainda que nada de especial ou extraordinário, é fiel conforme a cidade fictícia, Gotham City, pede e é necessária, Nolan continua deixando a metrópole com um ar futurista ainda maior do que em Begins, os becos escuros ainda estão lá, as docas também, a criminalidade que diminuiu por conta do Batman, a corrupção, as máfias que tomam conta da cidade depois da queda da Família Falcone (pra quem não se recorda, Tom Wilkinson interpretou o personagem Carmine Falcone no primeiro filme, sendo o líder da maior máfia de Gotham).
O filme é construído aos poucos, com cenários de assassinatos, cenas de perseguições, disputas políticas, corrupção e a criminalidade. Até mesmo pela China o cavaleiro das trevas passa. Não sei dizer qual o grande clímax do filme, pois a tensão é do início ao fim em praticamente todo o momento, Coringa não é apenas mais um vilão de filme de super-herói, ele é o vilão. Heath Ledger incorporou a personagem de tal maneira, que não há como imaginar outro ator na pele do palhaço do crime, a loucura, sua insanidade, anarquia e o caos em que Gotham é deixada, gosto de pensar que vilão exige uma construção e importância maior dentro da trama, e aqui isso acontece brilhantemente. É um vilão que impõe medo, que deixa um desafio a mais para o protagonista, é algo de quem qualquer um poderia temer, pois ele existe, não há motivações ou barreiras que o façam parar, não há livro de regras pra ele. Pois alguns homens só querem ver o circo pegar fogo. A cena da delegacia e do hospital mostram o grande potencial de Ledger e do personagem.
Nolan conseguiu deixar sua marca no filme, sua originalidade, com momentos tensos, desde momentos serenos de diálogos afiados à cenas de ação com lutas (essas sim, mereciam um polimento e capricho melhores) violentas e ótimos efeitos especiais, Batman: O Cavaleiro das Trevas iniciou uma nova era para os filmes de heróis, mais do que isso, deu um salto em relação aos filmes do gênero, não existe um vilão tão bom quanto o Coringa de Ledger, que não me faça temer que no final... quem saia vencedor seja o bandido e não o mocinho. Um exemplo claro disso é a cena dos dois navios perto do fim, um deles com bandidos e presos, outro com cidadãos e trabalhadores,
É uma obra mais do que recomendada, não só para quem gosta do personagem, de filmes de heróis ou do diretor, mas para todos que gostam e se interessam por cinema, é uma adaptação excelente, uma aula de como se fazer um filme fiel de um personagem tão conhecido, amado e odiado - e tendo mais de 75 anos nas costas - por todos e, deixando essa rivalidade por fora, mas focando no cinema, como arte, diversão, prazer e entretenimento, Batman: O Cavaleiro das Trevas possui tudo isso e mais um pouco.
''Introduza um pouco de anarquia. Perturbe a ordem vigente e então tudo se torna um caos. Eu sou um agente do caos. E sabe, a chave do caos é o medo!''
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