TIM BURTON SE DELEITA COM OS BIZARROS PERSONAGENS DE BOB KANE EM UM FILME TÃO BOM QUANTO SEU ANTECESSOR
A veia fantasiosa e obscura de Tim Burton casou perfeitamente com o universo sombrio e depressivo dos personagens de Bob Kane no muito bom Batman (1989), mesclando muito bem os elementos das duas obras, resultando em um filme divertido e sádico. Quase uma animação de carne e osso, o filme foi muito bem nas bilheterias e até hoje é visto com bons olhos pela crítica e pelo público, defendido por muitos como o tom ideal para um filme de um super-herói tão popular – tese esta que cairia por terra 16 anos depois.
E sendo o filme assim tão bem quisto por todos, as expectativas em torno de sua seqüência dividiam opiniões. Mas ao colocarem novamente os mesmos responsáveis pelo sucesso do filme anterior a frente do projeto, os executivos da Warner Bros. garantiram uma continuação tão boa quanto o filme de 1989. E quando eu digo “os mesmos responsáveis”, não me restrinjo apenas à Tim Burton e Michael Keaton, mas também a Danny Elfman que retorna em grande estilo com músicas tão boas e diversificadas quanto no primeiro filme, inclusive nos temas dedicados ao Pingüim e à Mulher-Gato. Assim como a muito bem-vinda inclusão de Larry Franco (O Enigma do Outro Mundo) na produção. Talvez Sam Ham (roteirista do filme de 89) e Daniel Waters é quem tenham entregado o trabalho mais irregular, mas do mesmo modo que o primeiro filme, Batman – O Retorno não se leva à sério em momento algum, fazendo o que faz pela simples diversão e não pela lógica.
E se no filme anterior a escolha do elenco por parte de Marion Dougherty havia sido muito feliz, principalmente ao escalar Jack Nicholson como o Coringa (resultando em uma das melhores atuações da época), neste Batman – O Retorno (1992) ela foi igualmente feliz. Danny DeVito parece ter nascido para interpretar o Pingüim – e não me refiro apenas à condição física do ator. A compreensão e construção de um personagem que farda no limite entre o tolerável e o ridículo por parte do ator faz com que seu personagem em nada deixe a desejar para o vilão antecessor, mesmo sendo bem menos interessante. E mesmo encoberto pela pesada e ótima maquiagem de Stan Winston (O Predador), grande profissional da área, DeVito nunca deixa sua performance sucumbir ao aspecto visual e municia seu Oswald Cobblepot com expressões, gestos e cacoetes muito bem encaixados, gerando até certa empatia conosco.
E mesmo com o adendo do excelente Christopher Walken como o interessante Maximilliam Shrek, o grande vilão da vez, é a linda e talentosa Michelle Pfeiffer quem rouba a cena como Selena Kyle, a Mulher-Gato, em um show de sensualidade e humor. Eu juro que durante muito tempo eu fantasiei com Pfeiffer com aquela roupa de couro negro justíssima, batendo seu chicote e dizendo “miau”. Brrrrr....Só de lembrar eu me arrepio!!!! Sem falar na clássica lambida dela em Keaton. Que inveja. Isso sim é sensualidade, Srta. Berry.
Mas, voltando a falar sério (como se antes eu não estivesse), novamente o filme volta a sofrer com situações mal explicadas pelo roteiro (como Cobblepot foi criado por pingüins por 33 anos é um mistério sem tamanho) e outras estúpidas e ilógicas, como Selena contar à seu chefe Max tim-tim por tim-tim, tudo o que descobriu sobre seus atos ou a maneira como ela ganha suas habilidades felinas (leva um tombo e gatos de rua roem seus dedos e pronto) e o exército de pingüins no esgoto. Porém, volto a salientar que o filme não se leva a sério, portanto, tudo em nome da fluidez e leveza da trama.
Aqui, Burton utiliza muito bem um artifício recorrente em sua carreira: a câmera que flutua sobre a cidade explorando muito bem sua arquitetura e paisagem. Tal mecanismo foi também utilizado de forma bastante curiosa no recente Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet, onde conhecemos a nebulosa Londres do século XVIII em questão de segundos pela lente de Burton. Apesar de parecer um mero esquema de apelo visual sem relevância para a narrativa, o emprego deste recurso contribui não só para a ambientação mais rápida, mas também para ditar a tônica da película. Vejamos: quando a câmera de Burton nos mostra a cidade de Gotham, ela está repleta de luzes e cores, porém encoberta de neve, pois apesar da alegria e felicidade que o período natalino traz à seus cidadãos, eles continuam frios e individualistas. Da mesma maneira, quando ela (a câmera de Burton) passeia pelo esgoto da cidade, lar do Pingüim, percebemos que ele não é tão sujo – diferentemente do esperado – quanto é vazio. Ele reflete a vida e a existência de seu habitante, ignorado pelo mundo e ignorante quanto às suas origens. Vale destacar também a representatividade (que se evidencia na derradeira cena final) dos exaustores, dos ventiladores e resfriadores instalados no lar de Cobblepot como se ele optasse pela frieza como único modo de sobrevivência que conheceu, morrendo imediatamente após o aquecimento do local. Pois como todo personagem de Batman (principalmente os vilões), o Pingüim possui uma história pesada e triste, quase uma vítima do sofrimento e da solidão. Toques sutis de Burton.
Sem nenhuma surpresa, Batman – O Retorno é esteticamente muito bonito. A composição de determinadas cenas por parte do diretor formam quadros e tomadas belíssimas, tal como a primeira aparição de Bruce Wayne. Sentado, pensativo em sua poltrona no escritório escuro de sua mansão, Wayne vê o Bat-sinal invadir a sala e projetar o símbolo do Homem-Morcego na parede. Esta cena encerra-se com uma das mais belas tomadas do filme, com Wayne em primeiro plano e o símbolo do herói de fundo, à suas costas. Belíssimo trabalho de direção em conjunto com a fotografia. Bem como na singela, simbólica e bonita cena da morte do Pingüim, uma das mais bacanas em se tratando de filmes de super-heróis.
Como em Batman, no fim das contas Batman – O Retorno salda positivamente, pois mesmo não deixando claras as motivações de alguns personagens (na verdade, tanto o Pingüim quanto a Mulher-Gato), não trabalhando devidamente seu protagonista (como ocorrera no filme de 89) e possuindo situações incoerentes em seu desenrolar, o filme não se leva nem um pouco a sério, e por isso diverte tanto. Possui excelentes personagens mais do que bem adaptados e interpretados e assume-se como cartunesco e leviano. E mais: após notarmos as muitas referências em Batman – The Dark Knight, fica evidente que Burton trilhou um ótimo caminho para que Christopher Nolan entregasse-nos a versão definitiva do super-herói mais sombrio dos quadrinhos e o favorito deste que vos compartilha de sua humilde opinião.
Melhor filme de Super-herói! 😉
Pegar uma história absurda sobre um cara vestido de morcego, levar a sério e mandar um cara como o Nolan dirigir só podia resultar em chatice e pretensão. 🙄
Returns transforma logo tudo num hospício. 😁
Gosto bastante da trilogia do Nolan, mas também dos fimes do Burton
Acho no máximo regular, mas ao menos deixa-se ver. Ao contrário do que Nolan dirigiu.