"Me diga, você sangra? Vai sangrar."
Batman vs Superman: A Origem da Justiça para o bem e para o mal desde antes de sua estreia é sobre expectativas e como lidamos com elas. Você pode ter ignorado os trailer e materiais de divulgação liberados pelo estúdio, mas quando chegou no cinema para conferir o embate entre o homem-morcego (Ben Affleck) e o homem de aço (Henry Cavill) era bastante difícil não saber de antemão que veria também a Mulher Maravilha (Gal Gadot) e o esboço inicial do que um dia será a Liga da Justiça (por isso insisto: o marketing do filme é o PIOR que já vi, sabota o próprio filme). Até por que nos últimos anos a Marvel dominou as bilheterias mundiais com seu universo cinematográfico e a DC/Warner precisava responder a altura e sem investir em uma dezena de filmes de origens e continuações como a concorrente. Aí que a expectativa era Batman vs Superman, mas o que pesa mais aqui parece ser A Origem da Justiça. Assim, surpreende como o filme, apesar de seus problemas, funciona. Expectativas de novo: esperamos a reunião dos três principais heróis da DC na telona, esperamos para ver o grande plano de Lex Luthor (Jesse Eisenberg) para criar a semente do que será o maior time de heróis do estúdio, esperamos o combate do título. E isso é um grande ponto positivo, como o diretor Zack Snyder consegue nos manter ansiosos pelo que virá mesmo sabendo do filme inteiro após o marketing equivocado do filme, que revelou tudo que poderia ser revelado antes da estreia - mas isso é com os caras do estúdio, não é defeito do filme, claro.
De cara já se corrige algo que incomodou os que conferiram a reinvenção do homem de aço no filme anterior, também de Snyder, e agora o peso das ações do Superman na luta contra o Zod de Michael Shannon caem sobre o herói tanto através da opinião pública e da justiça americana como da raiva de Bruce Wayne/Batman, que não suporta a ideia de um alienígena com poder para destruir o mundo convivendo com a humanidade. Daí aquilo que talvez seja a melhor coisa do filme: o morcego de Affleck. O pessoal pega no pé do ator - que é fisicamente o Batman ideal, defendia isso desde seu anúncio como o herói -, mas ele tira de letra o papel e é o responsável pelo filme funcionar. Existe algo no olhar do ator que nos convence que aquele homem é um estrategista forjado por anos de combate ao crime que também o endureceram a ponto de não se preocupar mais em matar seus inimigos, que podem ser qualquer pessoa com 1% de chance de estar do lado errado, como ele mesmo diz. Affleck cai tão bem no papel que quase ignoramos a falta de tato de Snyder para lidar com a morte dos pais de Bruce, que é encenada de maneira sem criatividade e/ou emoção, e o fato de termos a visto de maneira bem melhor em Batman Begins também não ajuda - mas verdade seja dita: o plano em câmera lenta do efeito do disparo da arma no colar de mãe do personagem impressiona, é uma das grandes imagens do filme.
O que é sempre uma vantagem em um filme onde o Superman é basicamente um peso morto. Já tive meus dias de preconceito com o herói, mas hoje em dia entendo sua importância para os quadrinhos e consigo mesmo simpatizar com ele, mas aqui não rola. Toda a ideia de um super mais humano, que encara seus poderes quase como um fardo que o impedem de se tornar um de nós e tudo mais é bacana, mas não dá pra ser convencido por Henry Cavill, que tem tanta expressividade quanto uma folha de papel em branco - e ver o ator fazendo cara de choro é daquelas coisas que quase dói fisicamente. Não combina com o que se tornou a ideia do Superman ao longo dos anos e, mesmo que pudesse ser uma boa ideia, é mal executada pela produção - as recorrentes cenas que o trazem pairando sobre as pessoas sugere uma prepotência exagerada do personagem, como se ele se visse como superior e o diálogo com sua mãe (Diane Lane) em dado momento, que diz que ele "não deve nada aos seres humanos" não ajuda nisso. Aí fica fácil vibrar com Affleck e seu Batman fazendo-o sangrar.
E, sim, a cena em que dois dos maiores gladiadores dos quadrinhos se enfrentam é empolgante, daquelas coisas que precisa ser vista na telona por qualquer um que cresceu lendo gibis. É pancadaria de primeira, com um Batman ensandecido dando tudo de si e um Superman que parece cada vez menos disposto a abrir mão de uma vitória por seus motivos pessoais - e aqui vamos ignorar que o "motivo" dele não faz sentido nenhum e que todo o terceiro ato da história não precisava acontecer, por que, porra, ele ouve, sente ou sei lá o que a namorada Lois Lane (Amy Adams) em perigo do outro lado do mundo, mas a mãe dele a alguns metros ele não consegue??? - é quando ignoramos o exagero da fotografia carregada em sombras e a montagem meio problemática que perde o ritmo em vários momentos e podemos só sentar e curtir aquele tipo de coisa que só o cinemão pode proporcionar. Mas isso é no final do segundo ato do filme, acaba de maneira brusca (para não dizer idiota, nomes das mães e tal foi meio pesado né, Snyder?) e precisamos aguentar um final onde o confronto é com uma sobra dos efeitos especiais de O Incrível Hulk que dizem ser o Apocalypse, um dos maiores nêmesis do homem de aço nos quadrinhos, mas que aqui não convence. Precisamos tolerar Eisenberg interpretando um Coringa que já seria ruim, mas que ao ser chamado de Lex Luthor sem ter quase nada de Luthor só piora. Aí a impressão de que o clímax é mais um anti-clímax fica martelando na cabeça.
Ao menos há a Mulher Maravilha para salvar a coisa toda nesse final. Sim, o roteiro não se preocupa em criar a mínima história para a personagem que entra e sai de cena sem que conheçamos ela minimamente - o que é compreensível, já que o filme de origem dela está em produção -, mas a maneira como Gadot a abraça - e vale lembrar: foi outra criticada após sua escolha - e embeleza a tela compensam o desleixo dos escritores. Num filme onde tudo é escuro e pesado em excesso, um pouco de brilho e leveza faz bem - enquanto os dois brutamontes tomam porrada do vilão digital e fazem caras e bocas de dor e medo, ela se levanta com uma expressão de quase prazer, como se feliz pelo desafio a ser encarado - e o próprio filme parece reconhecer a importância da heroína para a narrativa, já que sua entrada em cena é acompanhada pela única música da trilha que soa dissonante do restante e realmente empolga. Assim como empolga ver a primeira formação da Liga da Justiça se desenhando através de imagens de câmeras de segurança que vemos em dado momento.
Ou seja, Batman vs Superman: A Origem da Justiça é um filme de duas horas e meia que vale por momentos isolados que somados devem dar meia hora mais ou menos. A sorte de Zack Snyder e companhia é que esses momentos são tão bons que me impedem de desgostar da sessão.
VILLAÇÃO S2
dá pra ver claramente que lubschinski copiou minha nota.
só cego que não vê.
copiou minha arte
Tu que copiou minha nota, tu nunca tinha dado mais que 1,5 pra filme de herói u.u