A crítica em geral demonstra prazer quase orgástico quando do lançamento de blockbusters - e não por gostar do subgênero, muito pelo contrário. A maioria já vai condicionada a falar mal dos filmes, destilando seu conhecimento teórico pra criticar a fragilidade dos roteiros ou os 50 cortes por minuto das produções de Michael Bay - o que é uma verdade, e onde reside a maior dificuldade para quem tenta defender os ditos "arrasa-quarteirões".
Eu costumava defendê-lo à época de "A Rocha", quando funcionava a eterna receita de seus longa-metragens; basicamente, a tríade ritmo [montagem] alucinante mais sequências de ação frenéticas baseadas em explosões mais roteiro frágil, porém divertido. O problema é que a ação presente em seus filmes já não é mais novidade, às vezes confusa devido à edição extremamente picotada (pena de quem sofre de labirintite e assistiu a "Transformes - O Lado Oculto da Lua" em 3D) e incapaz de esconder roteiros cada vez mais rasos e a apelar para o alívio cômico gratuito, sendo as melhores gags recicladas de sitcoms americanas (as piores, desgastadas desde o início da carreira de Leslie Nielsen, que as explorava bem por ser um autêntico comediante). Pois o cineasta, insatisfeito com a enxurrada de críticas negativas - até piores do que esta -, resolveu dedicar-se a produções de orçamento mais baixo e no momento trabalha em "Pain and Gain", sobre dois fisiculturistas-traficantes vividos por Mark Wahlberg e The Rock, já transformado num armário de 115 portas.
Então a empresa de brinquedos Hasbro, produtora da adaptação ao cinema e responsável pelos direitos de "Transformers" e "G.I. Joe - A Origem de Cobra", teve a grande ideia (?) de investir em projeto baseado no jogo Batalha Naval (!), com orçamento estimado em US$ 200 milhões, encomendando junto à dupla do péssimo (!) "Terror na Antártida" um roteiro que reserva seus melhores (?) momentos a papéis atribuídos a um protagonista não muito conhecido, talentoso, nada experiente, e a uma cantora de R&B (!) , combinação que não pode ser melhor descrita senão com interrogações e exclamações. Se foi brincadeira de mal gosto eu não sei, o fato é que a inscrição "dos produtores de 'Transformers'" no topo do pôster, a união de tantos elementos peculiares e a confissão do próprio Peter Berg de que se inspirou nos blockbusters de Michael Bay arruinaram o sossego do cineasta californiano, padrinho compulsório de "Battleship - A Batalha dos Mares".
Em "Battleship", finalmente, somos apresentados ao irresponsável Alex Hopper (Taylor Kitsch), inscrito na Marinha por imposição do irmão mais velho, o admirável comandante Hopper (Alexander Skarsgard). Após alguns anos, já no posto de tenente, percebemos um homem tão imaturo quanto antes, o que provocará sua expulsão das Forças Armadas pelo Almirante Shane (Liam Neeson), pai de sua bela namorada Sam (Brooklyn Decker) - conquistada nos primeiros e melhores minutos do longa. Apesar de comum, a sinopse é bem menos clichê que o visto a seguir, com o mocinho desajustado empenhado em salvar o mundo. O mesmo ocorre com o personagem de Shia LeBeouf em Transformers e isso não me incomoda, em particular; o problema é ver uma missão impossível, como quando naves alienígenas afundam os melhores contratorpedeiros dos EUA, torna-se facílima por pura conveniência do roteiro.
No material capenga dos irmãos Jon e Erich Hoeber, a descoberta pouco plausível do ponto fraco dos aliens é explorada até certo ponto, como se o espectador fosse sofrer uma lobotomia no meio da sessão que, depois, não o faria perceber que a Marinha passou a utilizar de maneira efetiva as armas que antes não causavam dano algum ao inimigo. E se você estranhar quando um encouraçado "aposentado" demonstrar maior resistência que embarcações de última geração, vai cuspir a Coca-Cola quando ele fizer manobra semelhante a um cavalo de pau. Ok, estamos acostumados com explosões barulhentas no meio do vácuo especial, a dupla exagera ao subestimar nossa inteligência, abusa de nossa boa vontade, algo ainda mais perceptível quando o ritmo de uma produção com 2 horas de duração não é tão envolvente.
O tempo de fato se arrasta, e a solução encontrada pelo compositor Steve Jablonsky para contornar tal situação é tão equivocada quanto a história contada. Durante a projeção, ótima músicas como "Thunderstruck", da banda AC/DC, ditam o ritmo de maneira empolgante, até serem interrompidas por uma trilha ensurdecedora e persistente, como que pretendendo anestesiar nossos sentidos e percepção, a fim de mascarar a irregularidade da narrativa. Se tiver sido o caso, a tentativa de disfarçar um equívoco deflagra um pecado pelo excesso. Se não, Sr. Jablonsky errou na mão.
Curiosamente, "Battleship" fica mais interessante quando usa uma desculpa bem esfarrapada para "brincar" de Batalha Naval, justificando a improvável inspiração num jogo de tabuleiro. Infelizmente, porém, os clichês (frases de incentivo capazes de mudar o rumo de batalhas e o batido patriotismo americano, gerando um momento pastelão) e as falhas grosseiras do roteiro não são enxertadas numa obra capaz de entreter como "Armageddon", que ao meu ver cumpre bem sua proposta de entretenimento barato agradável.
Enfim, lamento de verdade não poder tecer elogios sobre um filme desse tipo, estigmatizado, ou a Taylor Kitsch e Rihanna, que superam desconfianças e não comprometem (afinal, seus personagens não exigem muito além de vigor físico e são compensados pelo negativo subaproveitamento de Liam Neeson). Uma pena mesmo que "Battleship", do discípulo Berg, aprendido com o mestre Bay, seja mais um sucesso financeiro fruto de competência de marketing do que de seus realizadores - e inspiradores.
A culpa deve ser do acrônimo maldito que se forma juntando os nomes do trio. BBB ninguém merece! Só podia dar em bomba.
Via Agência Infoco News
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