Beleza Americana é um filme do diretor Sam Mendes. A obra possui foco em uma família americana de classe média, estrelada por Kevin Spacey, no papel de Lester, narrador do filme e protagonista que enfrenta uma crise de meia idade em um casamento morno; Annette Benning, no papel de esposa de Lester, Carolyn, vendedora de imóveis mal-sucedida que busca manter a vida da família nos moldes American Way of Life, pelo menos no que se refere às aparências; e Thora Birch, Jane, filha do casal, que vive em crises de adolescência.
No início do filme, temos Lester narrando o que seria o começo do fim de sua vida. Como ele mesmo disse, ele mal sabia que morreria em menos de um ano, mesmo já estando, simbolicamente, morto há muito tempo. Na tela vemos um pai de família submisso, que possui como auge do dia masturbar-se no chuveiro de manhã. Possui total falta de autoridade para com esposa e filhos, sempre de ombros caídos e coluna curvada perante à esposa, com a qual mantém um casamento frio e sem sexo. Alem disso, a mesma postura é observada perante o chefe: sempre encolhido, enchendo-o de elogios quando o vê. Até aqui, nada de anormal para um adulto de meia-idade com uma vida entediante, isto é, morta, como disse o próprio narrador. A mesma linha de raciocínio é seguida pelas outras personagens da família: seguem uma vida entediante e até comum, seja no trabalho de Carolyn, ou na vida adolescente de Jane. Uma Beleza Americana: uma flor bela, porém sem espinhos e perfume.
Todavia, a vida dessas personagens sofre uma guinada quando conhecem seus "espinhos e perfumes", isto é, cada um deles inicia uma paixão que irá mudá-los de vida. Kevin conhece a melhor amiga da filha Angela (Mena Suvari), uma menina também insegura, porém que busca a sua identidade na aparência e beleza, que lhe permite deixar homens babando por ela, tornando-a "incomum". Lester se apaixona perdidamente por Angela, fazendo ele perder a noção de tempo e espaço sempre que a vê. Assim, ele inicia uma vida saudável, com exercícios físicos e muita maconha na tentativa de conquista-la.
Jane conhece Ricky (Wes Bestley), filho de um pai fuzileiro naval homofóbico. Ricky tem o hábito de filmar não só Jane, mas tudo o que considera belo (e estranho para nós, "normais" haha). E Carolyn se apaixona por Buddy (Peter Gallager), vendedor de imóveis bem sucedido que está se divorciando, este inspira bastante Carolyn, que o vê como uma espécie homem viril e atraente, visão que não vê em seu marido.
No decorrer do filme, é mostrado como as personagens são razoavelmente profundas, facilitando que se crie uma empatia com algumas delas.
O curioso da história é ver que as personagens só se sentem realmente vivas quando fazem algo que está fora dos padrões considerados moralmente corretos, como o adultério, relacionar-se com alguém menor de idade ou fumar maconha; e não se mantém felizes possuindo bens materiais como carros, empregos ou sofás de $5000. Longe de procurar fazer apologias a essas atitudes, o filme busca mostrar que a felicidade se tornou uma espécie de marketing pessoal, cuja principal forma de propaganda é ser uma família normal, que cultiva as belezas americanas. Fazendo um paralelo conosco, em tempos de facebook e instagram, buscamos sempre divulgar nossas felicidades falsas, impondo-as como um consenso e não como uma busca individualizada. Como disse o filósofo Leandro Karnal, "ser louco é a única maneira de ser sadio nesse mundo doente". Além disso, a família de Ricky, principalmente o pai, que possui alguns segredinhos revelados durante o decorrer da trama, é totalmente apática, possuindo como referência a mãe, que é a inércia em pessoa. E, no final do filme, a família "normal", representada pelo pai de Ricky, em um misto de ódio e inveja, mata Lester, mostrando o quanto condenamos atitudes que temos medo de realizar.
E essas mensagens são transmitidas com um visual e trilha sonora que não enjoam. A trilha sonora sempre presente e condizente com as cenas de enfado e emoção da personagens, adiciona uma sensação de continuidade ao filme, fazendo as duas horas passaram de forma divertida, junto ao humor negro do filme. Além disso, os cenários sempre com um visual "clean" em cores cinzas, principalmente as cenas de jantar, onde tudo está quase sempre irretocável, complementam a sensação de "normalidade" excessiva. Por fim, há algumas cenas onde as pétalas das rosas adicionam efeitos visuais interessantes, como a chuva de pétalas no quarto de Lester e a foto da família posicionada em frente ao vaso de rosas.
Comparando, a obra tem quase a mesma finalidade vista em Clube Da Luta, de David Fincher: causar reflexões. E possui boa competência nisso.
Com uma obra cheia de boas interpretações, uma ótima mensagem, que convence e impacta, e muitos detalhes que a tornam maior em uma revisitada, Beleza Americana é um filme excelente.
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