Comédia bem animada dirigida por Sérgio Goldenberg, com situações bizarras e improváveis, mas com um humor afiado de um elenco bastante competente.
O humor que gira em torno de 'Bendito Fruto' não pode ser considerado uma comédia espalhafatosa e muito menos um humor negro. O filme possui uma carga dramática pesada, que corresponde à citações referentes à violência do Rio de Janeiro, o adultério, a homossexualidade e os desafetos entre pais e filhos. O único problema do roteiro deste filme de Sérgio Goldenberg é justamente aquele que prejudica-o por inteiro, as histórias entre os principais núcleos que grudam uma cena à outra a fim de que todos os diferentes acontecimentos se interliguem em algum momento da narrativa. Neste caso, esses pequenos contrastes, que são importantíssimos para a grande maioria dos filmes se perdem em meio ao improvável e até mesmo o rídiculo. Edgar é um dono de um salão de cabelereiros que tem um caso com Maria, que era filha da empregada da casa de seus pais. Quando aparece Virgínia, uma antiga amiga de colégio, depois de ter a cabeça atingida pela tampa de um buero no meio da rua, Edgar esconde da amiga que tem um caso com Maria, ao mesmo tempo que ela informa que o filho que ela tem com ele está voltando de uma temporada na Europa. Mas as coisas são bem mais complicadas do parecem, já que o filho de Maria, Anderson é homossexual e tem um caso com um famoso galã de novela, o ator Marcelo Monte. É em meio a esse tumulto de acontecimentos que Edgar e Maria são obrigados a passar para poderem voltar a ter a vida que eles costumavam ter antes.
A direção de Sérgio Goldenberg é precisa, mas que escorrega em estereótipos simples que poderiam ter sido evitados facilmente. Ele soube, porém, comandar o elenco com atitude o suficiente para transpor às telas o talento que os atores consagrados da televisão brasileira, como Otávio Augusto, Vera Holtz e Camila Pitanga já possuiam. Ele e a roteirista Rosane Lima montaram uma história recheada de clichês, disfarçadas por situações bizarras. Uma narrativa bem parecida com o script de uma novela, que na verdade está presente em grande parte do filme. O adultério, problemas sociais e a violência não poderiam ficar de fora de uma história que tem como cenário o bairro de Botafogo no Rio de Janeiro.
Entre inúmeros problemas de precisão do roteiro, o mesmo é criado a partir de situações que podem beirar ao além do imaginativo, mas que são capazes de fazer o espectador rir. O filme não possui piadas, mas mesmo assim tem o seu charme de comédia dramática, inferior ao comum, mas que tem o seu mérito.
Na verdade o filme vale mais pelo elenco, que é o grande trunfo da mídia brasileira e isso inclui não só a televisão, como também o cinema. Otávio Augusto está bem, sem grandes brilhos, mas sabe pelo menos o que fazer na tela nas melhores e mais difíceis cenas. Zezeh Barbosa fez o que podia fazer para ter o mínimo de competência em suas cenas, e o conseguiu, mas quem se destaca mesmo é a ótima atriz Vera Holtz, que é capaz de fazer qualquer papel com sabedoria, e a ainda jovem aspirante a atriz, Camila Pitanga que é responsável por boas risadas em várias das situações cômicas. Quem está extremamente agradável de ser apreciada é a atriz Lúcia Alves, que com suas caras e bocas consegue transmitir todos os seus apetrechos de atriz do cinema.
Infelizmente, equipe técnica do filme não é lá essas coisas. A direção de arte beira à cafonice, com decorações pobres sem nenhum brilho, apesar de transmitir o mínimo do luxo nessa classe média pobre, mas pobre do que média, diga-se de passagem, nenhum dos objetos decorativos encanta por sua simplicidade, e sempre uma coisa parece que se sairia melhor se fosse justamente ao contrário do que foi feita. A fotografia, que utiliza de feixes de luz mais brancas e claras também dá uma sensação de mais do mesmo, no caso um"filme carioca", mas carioca do que seria bom fazê-lo. A trilha sonora porém, foi extraída inúmeras canções brasileiras, conhecidas por sua genialidade, que utiliza um pouco de bossa nova, um pouco de samba, músicas extremamente agradáveis de serem escutadas.
'Bendito Fruto' é uma comédia dramática bastante irregular, mas que consegue divertir a quem aprecia um humor mais leve, mesmo que não de tão boa qualidade. Sérgio Gondelberg cumpre seu dever como diretor, mas seu roteiro peca muito e o filme como um todo acaba parecendo mais uma telenovela de uma hora e meia de duração.
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