Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Tendemos a fazer uma classificação durante os primeiros 30 minutos do filme. Fiquei interessado e preso rapidamente, porém com um pé atrás. Tentando classificar o que eu sentia e lógico, as sensações que estavam por vir. Aquele som de uma bateria virtuosa, um cometa rasgando o céu e a personagem de Michael Keaton flutuando e ouvindo de dentro da sua consciência a voz de um velho amigo “pássaro”. Birdman foi um herói que impregnou a carreira desse ator que insanamente convive com a insatisfação e os insucessos nos trabalhos que vem fazendo. Passada há primeira meia hora, veio a empolgação. Trata-se de um filme diferenciado, reconhecido como o Melhor do seu ano pela Academia do Oscar.
O longa tem como pano de fundo os bastidores do teatro do ponto de vista de um homem que decide se desdobrar na produção, direção, roteiro e na linha de frente em cima dos palcos. Riggan Thomson (Keaton) já não sabe se acredita na sua capacidade para reconstruir sua carreira. A sua recusa no passado para fazer mais uma sequencia de Birdman vem perpetuando em consequências drásticas. Equilibrando entre o drama e uma leve e inteligente comédia, é certo apontar que as pretensões do diretor Alejandro González Iñárritu, o ótimo roteiro, e lógico, somando também o talento de um elenco convincente, deixa tudo que está dentro do filme na medida.
Michael Keaton, que conviveu como Batman em 1989 e 1992, agora empresta um pouco das suas experiências a sua personagem. Merecidamente indicado ao prêmio de melhor ator no Oscar, dentro dessa história tem seus pontos máximos as angustiantes tentativas de fazer com que sua produção teatral de certo (ou não de certo), assim também como nas vezes em que enfrenta algo parecido com delírios esquizofrênicos com asas enormes. Com o suporte de um elenco engajado do qual destaco Edward Norton, que arrisco dizer fazer uma das suas melhores atuações, talvez só não superando a de “A Outra História Americana”. A constrangedora luta entre Norton e Keaton já faz parte da minha memória cinematográfica.
O roteiro faz o papel que se espera dele, mesmo se tratando de um filme “anormal”. Para os menos desavisados, não se trata da história de um herói, e sim de um ator tentando se livrar dele. Basicamente as conversas de coxia e o ponto de vista dos artistas em cima do palco conduzem a produção juntamente com os momentos alucinantes de Riggan Thomson, desdobrando o enredo de forma apropriada. Merecidíssimo Oscar de Roteiro Original.
Conduzir um trabalho como esses deve ter sido desafiador para Alejandro González Iñárritu, que também assinou o roteiro. Depois de ótimos trabalhos como “Beaultiful”, “40 Gramas” e “Babel”, Iñárritu desejou homenagear o teatro, mais precisamente as pessoas que o fazem acontecer. “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)” venceu a categoria de direção no Oscar 2015. Apesar da qualidade do longa, essa obra talvez não ficará com o passar do tempo no topo dos trabalhos desse diretor mexicano. Sabemos que ele tem talento e apoio de Hollywood de sobra para se superar já nos próximos anos.
Tecnicamente o que mais sobressai são as longas tomadas de cenas disfarçadas apenas pela escuridão dos corredores entre os bastidores e o palco. Tentei contar os minutos sem cortes, porém logo sou distraído por cenas (e as cenas dentro das cenas na peça de teatro) que me seguram aqui ou ali, fazendo desistir sem saber da contagem. O som percussivo da bateria não nos deixa sentir falta de um fundo com harmonias e melodias. Os efeitos especiais que saiam de dentro da cabeça do “ex-Birdman” estavam dosados e a serviço da obra.
Com um orçamento até que modesto para os atuais padrões, Birdman teve seus lucros nas bilheterias, nada tão expressivo, até porque segue a estigma dos filmes premiados, e como já dito, é uma obra anormal, diferenciada e com o teatro como pano de fundo. Grande vencedor do Oscar de Melhor Filme. Teve outros vários prêmios e indicações da Academia, do Globo de Ouro, do Sindicato dos Atores, do BAFTA, entre tantos mais. Para os amantes do cinema deve ficar na prateleira dos melhores filmes desse século que é ainda um adolescente. Já para o público de consumo imediatista será infelizmente esquecido com o passar do tempo. É um daqueles filmes que nós até sabemos que possui imperfeições (nada é perfeito), porém não conseguimos aponta-las, dada a imersão paranoica e o anseio de entender as personagens.
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