Seria hipocrisia daquele que conhece a filmografia de Woody Allen esperar outra coisa de Blue Jasmine que não fosse o estilo pitoresco (e também o melancólico e ácido) de seu diretor. E é justamente no charme e no tom rústico que Allen filma Blue Jasmine, um filme repleto de significado que, com certeza, irá fazê-lo refletir por algumas horas após o fim da projeção, a respeito de valores simples que permeiam a vida e nela colocam obstáculos, os quais podem e devem ser superados. Como a perda da riqueza, do valor monetário, que nada mais é do que o cerne da obra. Jasmine é uma mulher abastada, casada com um homem igualmente afortunado. Porém, seu cônjuge acaba preso por corrupção na empresa na qual trabalha e, consequentemente, acaba entristecendo-se profundamente. Primeiramente, pela perda dos bens. Mas, também, por ter que ir morar com a irmã, do outro lado dos EUA, mais precisamente em São Francisco.
Lá, Jasmine tem que se adaptar a uma vida menos adornada, mais retilínea. Os seus falsos monólogos (aqui, bela sacada de Allen) exprimem sua perturbação, a de uma mulher com crises de ansiedade e depressão. São raros os momentos da trama em que não vemos a personagem de Blanchett entupir-se pílulas. A mesma vive se queixando da ausência de suas bolsas Chanel, da distância da vida burguesa que levava e do marido. Hal (Alec Baldwin) aparece em flashbacks, inseridos na estrutura pouco usual do filme, como um homem de camadas. Na superfície, um homem bom, dedicado e atento aos anseios da esposa. Porém, Allen vai dissecando seu lado perverso (detalhe, sem mostrá-lo em situação de calça-justa (não pelo ponto de vista da protagonista) em nenhum momento do filme). Quem vê, enxerga os escapes carnais de Hal (quando ele trai Jasmine) é a irmã dela. Ginger é muito bem interpretada e seu papel de equilíbrio e neutralidade na obra são sensacionais.
Ela também tem seus problemas, vive arrumando maridos cafajestes. Mas, o objetivo de Allen é realmente esse. Através de uma fotografia bela, enquadrar uma situação esmiuçada a partir de um pilar (Blanchett e sua cara de pirada e epiléptica), o de uma mulher que perde tudo e passa viver sem luxos, e muito bem arquitetado. A trilha sonora também é um destaque positivo. As irrompidas do som do bom e velho jazz fazem-se presentes.
Agora dando destaque a cenas em especial, o momento em que Chili surta por saber que Jasmine levara Ginger (até então sua namorada) a uma festa de ricaços. O falso monólogo de Blanchett no fim do filme, com olhos marejados e vermelhos de rubra. A abordagem de Ginger no supermercado. As passagens em que Jasmine tenta engatar um romance com um rico de São Francisco e mente até para si mesma (Allen nos faz rir da tragédia, evidenciando sua tragicomicidade aguçada aqui). São cenas que representam abalos nas estruturas de cada personagem, e isso Allen executa com a mão nas costas. Quanto ao roteiro, consegue concantenar a ligação passado/presente que a vida proporciona, as consequências de uma escolha errada, a crise existencial, enfim, todos os movimentos construtivos de seu cinema de maneira brilhante. Sim, brilhante, mas para aquele que não conhece um Manhattan ou um Meia-Noite em Paris. Allen foi um pouco redundante, pelo menos pra mim que já vi filmes dele nos quais o alvo foi atingido em cheio.
Filme, essencialmente, sobre desilusão, contentamento forçado, amor orgânico, relações desgastadas. Um belíssimo estudo de todos os pilares de relacionamentos humanos, onde não prevalece a unilateralidade. Jasmine ou Jeanette (como queiram) teve uma interpretação voraz. Mas, afinal, juntando Allen e Blanchett (dois personagens estelares da Hollywood), poderia dar errado? Não. Aqui faltou a lindeza única e inexplicável de Annie Hall, mas sobrou a certeza de que Allen não envelhece nunca. Idem com seu Cinema.
mandou esse pra sua professora de redação?
Sim, ela falou que eu sou especial e tenho futuro 😁
Era primeiro de abril. Valeu trouxa. 😎
Chico, você é ótimo e hilário 😏