“Agora, é a nossa vez de reescrever a história.”
Bob Esponja Calça Quadrada é um dos desenhos mais criativos, sem sentido e, por isso mesmo, divertido que surgiu na televisão nos últimos sei lá quantos anos. A animação que se tornou um dos carros-chefes da Nickelodeon reunia, além da esponja quadrada do título, personagens como uma estrela do mar com pouca inteligência, um esquilo que respira embaixo da água com o auxilio de um capacete de oxigênio, uma receita secreta de um hambúrguer de siri que parece o único alimento consumido na fenda do biquíni além de aventuras pra lá de sem noção que envolvem até mesmo coisas como acender uma fogueira debaixo da água ou um gorila assustador que não sabe como foi parar lá embaixo e vai embora com a mesma facilidade com que apareceu. Deve ser uma das coisas mais anárquicas da televisão americana e que sem precisar investir em um humor mais pesado – uma ou outra piada buscava exclusivamente o público adulto, é inegável – conquistou as crianças e seus pais.
O segundo filme do esponjoso conserva o tom da série, mas foge do erro de se tornar um episódio esticado ao investir em uma trama interessante e com vida própria, com toques surrealistas que acabam tornando-o mais ambicioso que a série televisiva ao mesmo tempo em que consegue até mesmo investir em uma espécie de lição de moral sobre a importância do trabalho em equipe, com música edificante e tudo, sem cair no moralismo chato de algumas animações da Disney, por exemplo, já que a lição aqui é divertida e condiz com seus personagens além de jamais soar como uma tentativa de emocionar ou algo do tipo. E no meio de tudo isso temos um dos melhores clímax de filme de super-herói recentes, um golfinho que mantém a ordem do universo há dez mil anos, mas que basta ir ao banheiro pra - olha a piadinha infame aí – dar merda (e ver o personagem andar por alguns minutos com papel higiênico pendurado na cauda é de rir alto), uma máquina do tempo e um Antonio Banderas tão over e caricato quanto divertido na pele do vilão de carne e osso Barba-Burguer (dá pra sentir que o ator está se divertindo pra caramba ali).
A trama sobre como o tal Barba-Burguer rouba a fórmula do hambúrguer de siri a partir de um livro para enriquecer como vendedor de food truck fazendo Bob Esponja e Plankton, que sempre tentou roubar a fórmula, se unirem para tirar a Fenda do Biquíni de estado pós-apocalíptico em que entrou após a escassez do hambúrguer – as piadas com essa versão do lugar e seus habitantes são algumas das melhores do filme, como quando Patrick Estrela deixa sua lealdade à Bob Esponja de lado para tentar conseguir a volta dos hambúrgueres – se torna então uma desculpa para brincar com os personagens e situações cada vez mais sem noção e divertidas, culminando no terceiro ato excelente em que toda a divulgação sobre os personagens em 3D finalmente se justifica ao trazer o confronto decisivo entre versões com superpoderes dos personagens da Fenda do Biquíni contra o personagem de Banderas – e a criatividade dos poderes, relacionados a personalidade daquelas figuras é interessante de se notar, como Bob Esponja e suas bolhas de sabão, Patrick e seu poder de “chamar” os sorvetes e manipulá-los ou uma hilária versão realista de Sandy.
E se essa parte da história é deixada apenas para o fim da projeção, frustrando quem espera um longa todo ou em boa parte em 3D, vale dizer que a espera compensa e jamais é tediosa ou arrastada já que a montagem do filme trabalha bem o ritmo da narrativa. Além disso, ainda que a produção acerte nos momentos escolhidos para utilizar o tema musical principal da série e a música que acompanha as viagens dos personagens no tempo seja inspirada, falta para a produção algo tão grudento quanto a música do amendobobo visto no anterior – a tentativa é a música sobre trabalho em equipe cantada por Bob Esponja e Plankton, mas a canção é um saco. Vale apontar também que se os personagens principais são sempre carismáticos e divertidos, o mesmo não pode ser dito das gaivotas que surgem em algumas cenas da produção e poderiam ser cortadas sem a mínima perda para a história.
Divertido na medida certa, esse novo filme de Bob Esponja e sua turma desperta o desejo de que continuem investindo nos personagens no cinema, de preferência sem hiatos de 11 anos entre eles.
Ando meio sem paciência pra animações, mas esse aí tá bem conceitudo....