Paul Thomas Anderson tem se mostrado um verdadeiro mestre do cinema contemporâneo, por saber explorar bem a câmera em seus vários enquadramentos e planos, principalmente o uso de longa sequência sem cortes (algo cada vez mais raro no cinema hoje), além de boa trilha sonora com uma narrativa frenética e envolvente. Aqui em Boogie Nigths, seu primeiro grande filme, ele nos mostra a habilidade de alguém já experiente trabalhando bem seus personagens, desenvolvendo a trama para várias reviravoltas interessantes, introduzindo cada música adequada de acordo com os conflitos que vão se intensificando na tela. Seu estilo possui uma forte influência de Martin Scorsese e Quenti Tarantino (o que alguns cinéfilos podem discordar), mas é impossível não notar certa semelhança.
Acompanhamos o mundo pornográfico indo do auge ao fundo do poço e suas consequências nefastas na sociedade. Mas primeiramente, nos é apresentado o auge (sem Flashback) no fim dos anos 70, numa época onde o sexo imperava juntamente com as drogas nas pistas de dança. Eddie Adams é um jovem de 17 anos simples e pobre, que trabalha numa discoteca subestimado por sua família com o sonho de ser alguém especial na vida. Uma noite qualquer de trabalho, ele conhece o diretor de filmes adultos Jack Horner, que vê algo notável no jovem convidando a comparecer em sua mansão. Lá, ele mostra seu verdadeiro talento ao diretor com uma atriz (que fica impressionada com o rapaz por possuir um pênis de 30cm) que seria uma porta de entrada para o mundo pornográfico e a tão sonhada chance para o sucesso.
O que me chamou a atenção é o amadurecimento dos personagens que vão indo por um caminho sem volta, perdidos, tentando manter o sucesso e o uso de drogas pela falta de dinheiro. Aí vemos o declínio do mundo pornográfico no início dos anos 80 e a decadência dos atores que caíram no esquecimento, sem opções de trabalho pela falta de estudo. A trama então, vai tomando contornos diferentes e até inesperados, se tornando violenta com alguns desfechos trágicos. Eddie Adams, conhecido pelo nome artístico de Dirk Diggle, se aventura pela música sem obter muito sucesso e afunda nas drogas sendo até mesmo rejeitado por Jack mais tarde. Sinceramente, parecia a vida de muitos artistas (na vida real), contadas através desse personagem, que tiveram que enfrentar fins terríveis e o tão temido ostracismo.
Mark Walberg como todo o grande elenco do filme está afiado e em sintonia com o diretor. Estranho o fato de os atores não recusarem atuar num filme como esse, mesmo por uma grande produtora, apesar de não ter cenas totalmente explicitas, eles são colocados em nudez e situações depreciativas demais. Pode até parecer frescuragem minha, só estou apenas lembrando que a maioria desses atores são cheios de “exigências” quando escolhem um papel. Todos eles estão bem aqui (muitos foram usados no filme seguinte também aclamado), e parecia até o elenco predileto do diretor. Leonardo Di Caprio quase ficou com o papel principal mas estava ocupado com as filmagens de Titanic passando para Walberg. Acho que ficou melhor com ele mesmo.
Thomas Anderson merece todos os créditos por seu trabalho e principalmente pelo ótimo gosto na trilha sonora. Os anos 70 foi uma época que deixou saudades para quem viveu, muito bem relatado em Boogie Nigths. Vale pelo o bom cinema que nos é apresentado e as várias histórias que vão sendo entrelaçadas (de forma inteligente) violentamente, por ganancia ao poder, fama e dinheiro. O diretor mostrou que aqui, não foi só uma mera tacada de sorte e que veio para fazer cinema inteligente assim como seu colega Tarantino, carregando sobre si a escola de ter visto filmes e sua paixão pelo cinema. E nós... só temos a ganhar.
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