Um menino, mais ou menos próximo à pré-adolescência e prestes a se mudar de casa, apaga com tinta branca as marcas que ele deixou na batente da porta de seu quarto durante toda a sua vida (ou seja, durante a sua infância). Essa é uma cena do início do filme “Boyhood: Da Infância à Juventude”, que serve como ponto de partida do filme para a jornada da vida (na verdade, de uma parte dela) de Mason Jr.
Esse tal “Boyhood” é mesmo um filme curioso. A sua proposta é bem simples: a adolescência de uma pessoa. E qual pessoa é essa? Uma pessoa completamente comum. O filme possui apenas isso como proposta. Não tem nenhum enredo mais específico nem nada. E funciona muito bem! Ele possui o mesmo ritmo ao longo de suas mais de duas horas, mesmo com tantos cortes (o filme levou doze anos para ser feito, acompanhando o amadurecimento dos jovens atores). Enquanto Mason envelhece, surgem vários obstáculos na sua vida, que são vistos aos montes em várias pessoas por aí: pais divorciados, alcoolismo na família, amizades duvidosas, conflitos amorosos. Porém, nenhum deles se mantém por muito tempo no filme. Eles vão saindo de cena da mesma maneira que outros aparecem nos seus lugares. Um ciclo.
Apesar de não ser uma pessoal com alguma coisa em especial, Mason é um personagem bem interessante. Esse é um dos grandes baratos do filme, mostrar como a vida de toda pessoa é algo interessante. As pessoas da sua família também são bem interessantes. Sua mãe, Olivia, é uma típica mãe solteira que se desdobra para tentar melhorar a vida de sua família. Desde sua primeira aparição ela só fica dando ordens, querendo ser onipresente na vida de seus filhos. Seu pai, Mason Sr., é um música frustrado, completamente irresponsável. A cena em que ele encontra os seus filhos pela primeira vez no filme o espectador nota bem a diferença entre a mãe e o pai, no qual este faz aquela velha figura de o pai “gente boa” que leva os filhos para sair nos finais de semana. Eles também mudam ao longo do filme, em especial Mason Sr., o coadjuvante mais legal do filme.
No seu início, é bom notar como o fim da inocência juvenil é demonstrada. A maneira pode ser até um pouco clichê, é verdade (cá pra nós que ver fedelhos na puberdade olhando fotos de mulheres nuas no computador não é a forma mais original de se demonstrar o fim da infância), mas, pelo carisma do personagem, ela se torna bem legal, quase tão boa como o modo como Sergio Leone demonstrou em “Era Uma Vez Na América”. Outra coisa legal é que o espectador vê no filme elementos que marcaram a sua infância e adolescência, como Harry Potter e até Dragon Ball Z, aumentando ainda mais a simpatia por Mason (vale e pena aqui elogiar as atuações de Ellar Coltrane e Lorelei Linklater, competentes desde o início). Um outro aspecto muito chamativo do filme é que o espectador consegue acompanhar o crescimentos dos personagens pelo seu envelhecimento físico, algo que não se vê todo dia no cinema.
Em cada sequência, na medida em que Mason envelhece, tudo ao seu redor se renova. As coisas da última cena, quando ele era mais novo, se perderam. O espectador nota como o Mason não percebe como, muitas vezes, ele não está aproveitando o presente da maneira correta. Assim é a vida.
Belo texto, principalmente os dois últimos parágrafos. Esses filmes de temática simples e intimistas, quando bem realizados, sempre resultam em obras marcantes.