“Eu sou o único profissional por aqui?”
Lançado em 1992 e responsável por lançar seu roteirista e diretor Quentin Tarantino ao estrelato, Cães de aluguel permanece hoje, 10 anos após seu lançamento, uma obra excelente e recheada de conceitos que tornariam-se marca registrada de seu realizador – conceitos que tornam o seu cinema atraente para alguns e alvo de criticas para outros.
Partindo de uma trama simples para brincar de cinema, Tarantino narra a história de um grupo de ladrões que reúne-se em um deposito abandonado após um assalto simultaneamente bem sucedido e fracassado: bem sucedido por que os objetos do roubo - diamantes valioso - foram pegos. Fracassado por que o roubo, minuciosamente planejado, não sai como o esperado e um companheiro está gravemente ferido – além de dois companheiros, policiais e civis mortos. Lá eles esperam a chegada do homem que os contratou, enquanto tentam descobrir qual deles foi o responsável por trair o grupo e colocar o roubo em risco.
Iniciando com um dialogo divertido sobre o significado de “Like a virgin” – sucesso de Madonna – e sobre dar ou não gorjetas, Cães de aluguel já abre com aquela que para mim, viria a se tornar a melhor característica dos filmes de Tarantino: os diálogos bem escritos, divertidos e nem sempre relacionados à trama. Mas, não demora muito para identificarmos outras de suas marcas registradas:
A montagem não-linear, que vai e volta no tempo para revisitar a mesma situação sob outros pontos de vistas, imprime um ritmo partícula à obra, já que, a medida que vemos a situação “presente” desenrolar-se, também descobrimos aos poucos, mais detalhes sobre como o roubo foi planejado e executado e, não raramente, a surpresa dos personagens ao descobrirem algo, é também a nossa – como a reviravolta apresenta ao final.
Como não poderia deixar de ser, Tarantino encontra espaço para inserir acordes de cultura pop em seus filmes ao permeá-lo de musicas pop da década de 70, como na brilhante cena em que Mr. Blonde tortura um policial (violência gráfica, outra marca de Tarantino) ao som de Stealers Wheel e sua “Stuck in the Middle With You". E é nessa cena que Tarantino compõe um dos melhor momentos de sua filmografia, ao filmar em espetacular um plano-sequencia a ida de Blonde até o carro para pegar gasolina, quando sem cortes, o diretor sai do depósito ecoando a música mencionada, vai para a rua, onde a música não alcança, e retorna, continuando a música, num momento que justifica a inclusão do cineasta entre os melhores em atividade no meio cinematográfico.
Responsável por reunir um elenco de peso em um filme de baixo orçamento, Tarantino lança mão de um elenco talentoso, mas, por vezes subestimado, para interpretar os assaltantes com apelidos de cores: Harvey Keitel (foi com a entrada do ator no projeto que Tarantino conseguiu o financiamento para filmar a produção) traz seriedade para Mr White, que aparenta ser o mais integro entre um bando de criminosos, Tim Roth e seu Mr. Orange exibem carisma, ainda que limitados a chorar e gritar de dor quase o filme inteiro, Steve Buscemi como Mr. Pink (a escolha do apelido é motivo para o dialogo mais divertido do longa) exibe uma paranóia hilária, Chris Penn (irmão de Sean Penn) empresta um estilo boa praça para Eddie, mas, ainda assim, não deixa de, quando necessário, retratá-lo como uma das figuras mais perigosas da produção. Mas, é claro, Michael Madsen revela-se o maior destaque do longa retratando Mr Blonde como um sociopata que não se sentiria deslocado caso colocado com John Doe e Hannibal Lecter em uma cela.
Encerrando com uma cena que mescla surpresa e humor negro e revela-se narrativamente adequada, Cães de aluguel se mantém firme como um dos melhores exemplares da curta, porém, excelente filmografia de seu diretor/roteirista e ainda, revela-se o responsável por moldar qualidades de obras ainda melhores que seriam lançadas posteriormente, como Pulp fiction e Bastardos inglórios – o que por si só, já o faz valer uma conferida, não é mesmo?
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