Logo em seu primeiro grande projeto, Tarantino chocou o mundo com seu visceral “Cães de Aluguel”, que já mostraria a todos seu jeito particular de fazer cinema, reverenciando seus mestres, mostrando um conhecimento adquirido quando era apenas o balconista de uma pequena locadora e viciado em filmes B. E já começava aqui a caminhada de um cineasta que se tornaria um dos mais influentes de sua geração.
O filme mostra Joe Cabot (Lawrence Tierney), um experiente criminoso que reúne seis bandidos para assaltar uma joalheria em plena luz do dia. Porém, algo dá errado no assalto, graças a uma inesperada ação relâmpago da polícia. Chegando ao lugar marcado de se encontrarem, eles têm certeza que existe um policial infiltrado entre eles. A partir daí, cria-se um clima de acusações mútuas, onde a situação fica cada vez mais tensa.
Logo na cena inicial, percebemos a câmera rondando a mesa encoberta por uma nuvem de fumaça, com homens bem vestidos, numa conversa pra lá de descontraída. Falam sobre música, crise financeira em um país mal governado, dilemas morais pra lá de divertidos. Após isso tudo, há um corte rápido e seco, ao som de uma boa música, onde os atores são apresentados (e ficaria marcada como a logo da produtora de Tarantino, A Band Apart).
O roteiro é o ponto forte da película, onde se destacam a os minutos iniciais, tendo uma discussão sobre Like a Virgin, de Madonna (simplesmente impagável), uma crítica direcionada a sociedade e governo através das garçonetes e gorjetas (hilário) e sobre as cores, onde há reclamação sobre Pink, cara feia para Blonde, satisfação com White, sugestão de Purple, o avulso Blue e a lendária cor de merda (Brown) que Tarantino nutre tanto amor e ódio na mesma intensidade (sendo interessante como seus diálogos racistas dão um tom realista a obra) e finalizando com a menção constante ao programa de rádio "K-Billy, o som dos anos 70".
Sempre em seus filmes, podemos ver como Tarantino insere dentro do cotidiano marginal americano, elementos culturais consumidos no mundo inteiro (Madonna, McDonald’s), conseguindo prender aqueles que estão inseridos no meio desta e chamar a atenção de críticos e estudiosos de cinema pela maneira brilhante de como o faz.
As atuações são perfeitas. Desde o Mr. White do sempre competente Harvey Keitel (um dos melhores atores dos anos 90), passando pelo profissional Mr. Pink, vivido com carisma por Steve Buscemi e na inteligência na composição do ótimo Tim Roth na pele do Mr. Orange, indo até Chris Penn e Lawrence Tierney, vivendo de forma brilhante pai e filho “chefes do crime”. Tarantino rouba a cena na pele de Mr. Brown e suas falas são as mais inesquecíveis da fita. Mas o grande triunfo fica por conta de Michael Madsen simplesmente perfeito como Mr. Blonde, mostrando ser uma ameaça constante com sua persona doentia, o ator ainda demonstra um talento cômico impecável, sempre nos fazendo rir de seu jeito psicótico de ser.
O plano-sequência é emblemático, mostrando Mr. Blonde numa das cenas de tortura mais divertidas que alguém pode presenciar (só a mente doentia de Tarantino para pensar nisso), ao som de 'Stuck in the Middle With You' (Stealers Wheel), contrastando de forma perfeita com a cena, causando até um certo prazer no espectador: um policial tendo sua orelha arrancada, dando início a mais um incrível banho de sangue. Então, o sujeito ainda insatisfeito vai ao carro pegar gasolina para acabar com aquela “brincadeira”. Aí está um dos melhores momentos da carreira dos envolvidos, mostrando de forma genial o motivo de ninguém ouvir tanto barulho (reparem como a música some), a preocupação com a vizinhança e o retorno de um carrasco sádico para sua vítima indefesa, onde realmente fica difícil segurar o riso, ao mesmo tempo em que não conseguimos sequer piscar os olhos diante de tamanha crueldade.
A partir daí, o segredo sobre quem é o traidor (policial) é revelado e sobra à genialidade do roteirista/diretor fazendo uso da montagem não linear para mostrar como tal situação se desencadeou, até chegarem à beira do colapso nervoso dentro de um armazém, banhado por sangue, ao som de muitos palavrões, risadas, provocações, dúvidas e muita insanidade.
O final é carregado de ódio, cinismo, beirando o humor negro, com um toque de drama pessoal, senso de amizade, honra, ameaças, tensão, urgência... Resultando na mais absoluta justiça poética que a sétima arte já concebeu. Ainda abrindo questionamentos como: em quem podemos confiar? De que lado nós estamos? Isso é pessoal ou não? Tarantino faz isso da forma mais difícil possível, em um desfecho memorável, onde o cineasta deixa uma reposta simples, mas de forma genial: não importa qual seja o trabalho que você vai fazer, seja sempre PROFISSIONAL.
Assista ele de novo Chicão...
Basterd's é show de bola...
To preparando um comentário sonre os Bastardos. Mas esse é um dos filmes mais complexos que já vi. Uma verdadeira homenagem ao cinema. Tô até com medo...
Vou assistir sim, Lucas! 😁
Sei como é, Cristian. Tenho medo de escrever para alguns também! Hahaha
Revi o filme hoje, cara show de bola!!! uma verdadeira aula de cinema!!! Tarantino em plena forma, com muito ainda para mostrar, o cara é um mestre!!!