Reflexos da guerra
Nenhuma guerra traz mais consequências boas do que ruins. No saldo final, todas as batalhas culminam na destruição de uma cultura e na dizimação numérica de sua população. No campo quantitativo, muito é minado e pouco sobra para a geração que irá se estabelecer na etapa seguinte. E é esse o flagelo posto à tona como fio condutor de Capitão América: Guerra Civil. O início da projeção emerge acontecimentos passados, desenrolados em filmes anteriores, como a destruição de Sokóvia, liquidada em A Era de Ultron. A idoneidade dos Vingadores, então, é questionada. Ao mesmo tempo em que salvam o mundo, o destroem. A luta com alienígenas, como a contra os Skrulls e o duelo contra o Ossos Cruzados em Lagos (que ocorre aqui nessa película) são algumas das marcas de destruição dos maiores e mais poderosos super-heróis da face da Terra. Fica evidente, como fator agregador de ideias em Guerra Civil, por parte do roteiro, que algo precisa ser feito para conter os raios do Homem de Ferro, as flechadas do Gavião Arqueiro, a força brutal do Hulk, o escudo impetuoso do Capitão América e a mente manipulada do Soldado Invernal, usado pelo Hydra como uma cobaia pronta para o ataque.
Usam-se aqui os arquétipos típicos da Marvel, porém, os menos saturados, ainda bem. Vislumbra-se um filme muito mais Winter Soldier do propriamente um primeiro The Avengers. Os irmãos Russo conseguiram inserir um pano de fundo contextual político e alarmante aqui em Civil War. O sentimento de urgência fica boiando na superfície tecida pelo concatenar de ideias composto pela equipe de criação do longa até que se sedimenta (submetendo-se ao sobrenadante). Isso tudo num final abrupto e um tanto sem vida. Mas, o start de tudo mesmo é quando o General Ross propõe aos Vingadores um tratado, o qual, uma vez assinado, corrobora com o compromisso dos mesmos heróis atuarem somente nas situações em que forem solicitados pela ONU. A personagem de Chris Evans reluta no primeiro instante e Stark não pensa duas vezes em assinar. Aí já se desenha o combate vindouro. Porém, Stark explica sua posição com argumentos válidos. Determinada passagem no filme, ele é abordado num elevador por uma mulher que havia perdido o filho na batalha filhan do segundo filmes dos Avengers. Ele, então, olha aquela mulher chorar uma vida ceifada e absorve como uma missão de vida.
Esse sentimento de culpa e remorso começa a se aflorar nos Vingadores de maneira muito minuciosa e intrigante. Enquanto isso, o prédio onde ocorre a cerimônia do Tratado sofre um atentado. Surge como primeiro suspeito o Soldado Invernal. Aí mesmo é que deslancha toda a ação do filme. Cenas de perseguição, tiros e explosões. Cinzas e cheiro de enxofre são expelidos por todo o lado. O balé da cultura pop se consuma em imagens muitíssimo bem filmadas, como a da emboscada no túnel, envolvendo Pantera Negra e Steve Rogers, a do aeroporto, cena hilária (que não serve só pra apresentar personagens, e sim para encher os olhos dos fãs, com referências aos mais sagrados quadrinhos). A caracterização de todos também está fenomenal.
O modo como os personagens são inseridos na ação também é estarrecedor (no sentido de um espanto seguido de safistação). Chadwick Boseman, filho do rei de Wakanda aparece como um cara que quer vingança pelo atentado no prédio onde seu pai estava. Ele aparece em tomada logo em seguida, já com a roupa que lhe é cabida dentro daquele contexto, já alocado na quebradeira e isso é essencial num filme de verdadeiras figuras da mitologia nerd. O equilíbrio entre o humor e a tensão também é nota dez.
A cena do aeroporto é como ver personagens de video game ansiosos por luta. E nós, controlando com o olhar, vivemos aquela experiência. É muito sensorial. O Aranha é discarado, típico aluno fissurado pela Matemática. O Homem Formiga, que também aparece, surge com o mesmo sorriso sarcástico e positivo daquele Paul Rudd do filme solo. A sincronia entre os atores é muito grande. E, olha, o filme quando fica no clima de conspiração e jogo ideológico, como numa Guerra Fria, também vai bem. Porém, pouco importa se de um lado está Stark com suas piadinhas transgressoras e do outro Chris Evans com seus músculos salientes, o que se quer ver mesmo é o espetaculo de pirotecnia e isso é fielmente entregue.
Porém, Zemo, um vilão deslocado de sua essência das HQ's, é aqui muito mal usado. Inexpressivo, Daniel Brühl poderia simplesmente chamar-se Zé que daria na mesma. Parece piada, mas é isso mesmo. Outra coisa que é digna de dar pena é a insistência do estúdio com as frases de efeito do estúdio, moralistas e mais vazias que uma esfera oca. Até vai lá un alívio cômico distribuído entre Chris Evans e Falcão na hilária cena do fusca. Mas que fique por aí. Stark exagera às vezes. O final é muito de repente e isso também afeta o todo. Mas, da cena inicial a final, citando aqui a cena da invasão a casa do Soldado Invernal (Barnes), com uma sequência fenomenal descendo as escadarias do prédio e também a releitura da tia May (Marvel, você está mudando..), ainda bem pois chega de estereótipos de tia velha. É a Marvel começando a sair do comum e se for evoluindo a partir desse e do segundo filme do Capitão, tem tudo para ir ainda mais longe. Guerra Infinita vem aí!
A nota me pareceu meio estranha pra um texto empolgado, mas sei que é só uma nota, então fodace.
Curti o texto, juvenil, discordo de uma ou outra coisa, mas massa que curtiu bem o filme :)
sua professora estaria orgulhosa juvena, mas essa nota n tem nada a ver... do jeito que vc falou no grupo (n li o texto) eu esperava uns 8,5 ou 9. Mas nota é o de menos. PARABÉNS PELO TEXTO MARAVILHOSO
Opa Marcelo! Belo texto, como o Lipe e o Lubs disseram, a nota - comparando com a empolgação do comentário discordaram - mas tá tudo certo, parabéns!
Civil War só semana que vem! 🙁