“Para o amor, nunca é tarde demais...”
Cartas para Julieta é um filme previsível do início ao fim, servindo como mera desculpa para tentar tornar Amanda Seyfried a nova “namoradinha da América”, como são chamadas as atrizes que se especializam em comédias românticas - posto este, já ocupado por Meg Ryan, Sandra Bullock e Julia Roberts, entre outras.
Sophie, pretensa jornalista e escritora, e seu noivo Victor, dono de um restaurante, viajam para Verona, na Itália, para passarem um tempo juntos e curtirem uma “pré-lua de mel”. Porém, ao chegar na famosa cidade de Romeu e Julieta, Victor insistentemente deixa Sophie sozinha para buscar novos fornecedores para seu restaurante, o que acaba levando a garota a conhecer um grupo de senhoras que voluntariamente responde cartas de corações apaixonados endereçadas à Julieta. E é aí que Sophie se depara com a incrível história de Claire, uma senhora que há 50 anos deixou escapar a chance de viver seu grande amor e que, com a ajuda da protagonista, partirá em viagem pela Itália em busca de uma nova chance. Ah, já ia me esquecendo: convenientemente, elas serão acompanhadas pelo neto bonitão de Claire, por quem, obviamente, Sophie vai se apaixonar.
Como disse no primeiro parágrafo, Cartas para Julieta é um filme previsível, e só de ler o pequeno resumo acima uma pessoa minimamente habituada aos clichês das comédias românticas já conseguirá imaginar todas as “reviravoltas” do enredo, bem como, as artimanhas utilizadas por seu diretor, Gary Winick, para tentar alcançar o objetivo de seu filme, que é emocionar os espectadores:
A fotografia é baseada em tons quentes, salientando o teor emotivo da narrativa; as paisagens são belíssimas, como aquelas que estampam cartões postais comprados por noivos em viagens românticas; a trilha sonora alterna momentos cômicos e românticos – é uma comédia romântica, afinal – e o volume tende a subir nos segundos casos, principalmente se algo pretensamente “comovente” estiver ocorrendo na tela; o casal protagonista vai passar por brigas, confusões e vai descobrir-se apaixonado; e, obviamente, todos terão um final feliz quando os créditos finais subirem na tela – menos Victor que afinal, leva um pé na bunda, mas o filme tenta dar a entender que ele ficará bem, por que é apaixonado por... comida.
Atriz que parece manter a mesma expressão em todos os seus filmes, Amanda Seyfried interpreta a “mocinha” da história, apostando em um ar constantemente romantizado, como se tudo que presenciasse a fizesse suspirar por dias. E é intrigante notar como, apesar dos olhos grandes, Seyfried parece não exibir a mínima expressividade facial. Claro que isso é o mais adequado já que seu par romântico, Christopher Egan, apresenta a mesma nulidade dramática, imaginando que seu charmoso sotaque inglês será o suficiente para simpatizarmo-nos por seu personagem – e não é.
Dito isso, o grande destaque da produção fica por conta de seus talentosos coadjuvantes, Gael Garcia Bernal e Vanessa Redgrave, que interpretam, respectivamente, Victor e Claire, em atuações aquém de suas filmografias mas, que em contraste com o casal anteriormente mencionado, tornam-se merecedoras do Oscar. Redgrave empresta dignidade a Claire, em uma atuação contida que explora bem seu rosto expressivo e as rugas da idade, revelando com sutis mudanças no olhar, sentimentos adormecidos há anos. Já Bernal, como de costume, imprime um tom agitado e “elétrico” ao personagem que lhe torna uma figura que, quando em tela, quase consegue tirar o filme do lugar comum – e por isso é uma pena que o roteiro tente pintá-lo como vilão no terceiro ato, jogando a responsabilidade pelo fracasso do relacionamento com Sophie em seu colo, apenas para que o público não se incomode com a traição de sua noiva (e pior ainda é tentar nos fazer pensar que o personagem não se importou com a separação).
Encerrando com um terceiro ato pavoroso, que utiliza-se de acontecimentos risíveis para tentar fazer referências vazias à passagens de Romeu e Julieta, Cartas para Julieta pode até não ser um filme pavoroso – sim, isso é um elogio – mas, duvido que sirva como referência no que diz respeito à histórias de amor, como a história da moça que empresta seu nome ao título.
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