Para muitos o único ponto positivo desse filme é o fato desse ser o primeiro papel importante de Lázaro Ramos, engano desses, que não veem nesta película uma beleza muito maior. Centrado em Carla Perez, o filme aparenta apenas ser uma história de superação, tanto que daí vem o título, uma espécie de Gata Borralheira, mas, ainda assim, estamos apenas vendo o filme pela superfície. Quem é baiano sabe identificar o que tem de profundo na obra, principalmente pela representação do que é a Bahia, especialmente a Bahia quando o axé era o ritmo que embalava os carnavais brasileiros.
Por falar em Bahia, temos uma das mais sinceras explorações de locações do estado. O começo no sertão de quem já esteve a três horas de carro de Salvador já reconhece já apresenta esse conhecimento verdadeiro da geografia do estado, mas tudo melhora nas escolhas das locações depois que o filme chega em Salvador. As praias menos conhecidas e igualmente atrativas por quem conhece a cidade, as vielas do Pelourinho filmadas como elas são, não o cartão postal do Largo, e, no final, as intermináveis e perigosas dunas do Abaeté.
É de se notar que este filme não é apenas uma história de Cinderela, é um olhar em Carla Perez, não um olhar de outrem, mas um olhar de Carla Perez sobre si mesmo. Para isso tudo é justificado, nós sabemos de sua simplicidade e da simplicidade de suas origens, com isso somos apresentados a figuras criadas por tais pessoas, figuras essas que podem soar inverossímeis a primeira vista, mas nada mais são do que as pessoas ao redor de Carla Perez sendo ela mesmo, no caso, criando situações e diálogos que se esperaria se fossem criadas por pessoas do interior brasileiro.
A isso se mistura uma fotografia que não é mais importante do que iluminar o ambiente, um desenho de som que não cria mais sentidos a obra e um decupagem que não está mais preocupada do que dar noção espacial, porém nada disto é ruim, tudo apenas serve para sustentar a simplicidade central e a discussão de Carla consigo mesmo, onde sempre somos abordados com ela demonstrando a figura sexualizada e tentando juntar a sua preocupação com a infância (já que ela passou por muita fome, assim como as crianças que passam pelo filme), um lugar para si onde a mídia a desenhou.
É nesse discurso que o filme se centra, todas as falhas do roteiro e atuações apenas corroboram com ele (ninguém esperaria grandes diálogos vindo de Carla Perez, e isso ela entrega). Carla Perez traveste um discurso que fica entre o existencial e um sincero questionamento da construção midiática (ela nunca questiona a sua imagem é a de "gostosa burra", mas mostra que ela não pode ser diminuída isso) em um filme aparentemente amador, mas que tem muito a oferecer quando se olha sem os preconceitos midiáticos que ela procurar analisar.
E claro que não tô falando do Grêmio
😁😈
Melhor crítica ever! 😏😏
Tem gente que nao entende ironia mesmo... 🙄 comentário genial!