GODZILLA + TRANSFORMERS + CLOVERFIELD = CÍRCULO DE FOGO, O NEON GENESIS EVANGELION DE DEL TORO
Desde seu surpreendente A Espinha do Diabo (El Espinazo del Diablo, 2001) , Guillermo Del Toro vem alçando vôos cada vez mais altos em Hollywood. Como se fosse um novo Tim Burton, o diretor conquistou o prestígio necessário para conduzir suas produções de histórias exageradas, mirabolantes e de apelo visual irrepreensíveis, com total aval dos executivos. Obviamente, muito por conta dos sucessos nas bilheterias. Embora já tivesse mostrado a proposta de seu cinema com o pouquíssimo conhecido Mutação (Mimic, 1997) e elevado a trilogia Blade à um novo patamar com o melhor filme da série, Blade II - O Caçador de Vampiros (Blade II, 2002), foi com a franquia Hellboy e O Labirinto do Fauno - expoentes dessa moral, com um visual arrebatador, mas com um ótimo enredo, resultando em obras de qualidade muito acima da média, mesmo que não sejam obras-primas inquestionáveis - que o diretor mexicano expôs todo seu potencial de transformar histórias quase infilmáveis em blockbusters de primeira qualidade.
Porém, em Círculo de Fogo (Pacific Rim, 2013), uma clara homenagem aos filmes e seriados japoneses, Del Toro extrapolou de vez os limites - do convencionalismo, não de sua capacidade - e deu origem ao seu maior e mais ousado projeto. Pelo menos até agora.
A história conta a guerra travada entre os humanos e seus jaegers - robôs gigantes pilotados por humanos - e os kaiju, monstros colossais que surgem das profundezas do oceano.
O filme começa arrebatador, mostrando o ataque de um kaiju já nas primeiras cenas. Como de costume, Del Toro não tenta esconder a criatura e a filma em closes e tomadas corajosas (o que me faz pensar em como seria Del Toro filmando Hulk). Em minutos, após um breve resumo da história, vemos o primeiro embate entre um kaiju e um jaeger, em mar aberto. A cena é impressionante. Os monstros têm um design excelente, desde sua concepção até seus movimentos, mas nada se compara aos jaegers. A riqueza de detalhes, o modo de pilotagem, o andar, as armas. É praticamente perfeito. Mais realista que os robôs da Rasbro, pois não são tão limpos, coloridos ou brilhantes.
Com relação aos personagens, nada de novo. O mocinho traumatizado, o mimado arrogante, a mocinha reprimida, o comandante virtuoso e os nerds atrapalhados, todos marcam presença. Talvez, a ausência de um vilão específico seja sentida, mas os embates com os kaiju são tão avassaladores e tensos, principalmente em seu clímax, que por si só já sustentam o filme.
A direção de Del Toro é, mais uma vez, um ponto fortíssimo. As batalhas são muito bem filmadas, com ângulos e planos bem enquadrados, valorizando o tanto jaegers quanto kaiju, acompanhadas por uma trilha marcante e muito bem emprega. As investidas na comédia estão na dose certa, sem descambar pra babaquice (embora chegue próximo), e sem parecer inoportuna. As referências aos filmes e seriados japoneses saltam aos olhos, principalmente ao mais famoso de todos: Godzilla (Gojira, no original em japonês). A cena em que um kaiju voa carregando um jaeger remete ao clássico Godzilla vs Mothra.
Aparentemente sem brechas para uma seqüência, acredito que a mesma virá assim mesmo, pois muito é descoberto sobre os kaiju e pouco é explorado. Mas Del Toro conseguiu de novo. Abusou da criatividade e da coragem para o bem de seu cinema, que, puramente sensorial ou não, é de muito boa qualidade.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário