Daniel Dalpizzolo levou muito a sério sua própria conclusão, algo que considerei injusto com Cisne Negro, ou seja, dizer que o diretor antes de tudo quis fazer um filme "original" e "complexo" tratando de um tema que é tão caro a todos nós, mentalmente sãos. Com todas as aspas que Daniel quis colocar, imagino se ele não parou pra pensar na outra possibilidade, será que Darren não foi irônico o suficiente com essa suposta complexidade?
Ao contrário da visão psicológica clássica tão bem trabalhada por filmes como os que citou Daniel, que em sua linguagem imagética nos lançam ao mundo pertubador da mente. Darren nos impressiona justamente pela suspeição da seriedade que dá as cenas, é como se a todo instante estivessemos tendo um déjà vu. A cena de Nina deitada em seu quarto cor de rosa é icônica, será que Darren nunca assistiu Suspiria, não é Daniel? Ou pra quê tantos espelhos, corredores, a própria casa, o bar, tudo se torna um corredor. Nosso olhar está confortável em cada cena. Nina indo de encontro ao seu eu "negro" também em um corredor, chega a ser desconcertante, é toda história e toda sua moral, e você pode se perguntar "É isso mesmo que eu estou vendo?!". Tudo muito óbvio, basta ter um pouco de conhecimento e alguma experiência com filmes "do tipo" pra entender a função educativa.
Um amigo twittou "Cisne Negro, perdição, Discurso do Rei, redenção" sob sérias dúvidas da “perdição” de Cisne Negro e da "redenção" de Discurso do Rei, diria que redentor foi perceber que a mesma cena do ir ao encontro se torna a síntese, ao final de minhas resoluções até o momento, do nosso conhecimento sobre quem são os outros e por consequência quem somos nós. De repente não é Nina que está dividida ora entre a realidade e seu mundo paranoico, somos nós que ocupados, ou na intenção de só conhecer mais essa “realidade doente” ou observar complexidade e originalidade “de verdade” em tudo isso, não nos decidimos se vivemos a nossa realidade observando de longe a mente doente do nosso objeto de estudo ou imergimos na realidade Negra de Nina, e não me refiro ao “lado negro” da personagem, mas à própria Nina.
Quanto a interpretação, uma referência quase supérflua tamanha a justeza necessária de Natalie Portman para construir uma caixa que permanecerá como uma icognita, um quadro em movimentos, lembrada por muito tempo, mas indecifrável por natureza.
Não digo que Aranofsky foi ou é um gênio, mas prefiro acreditar que ele teve uma ótima ideia e a colocou em prática com muita competência. É um filme, ao contrário do que já ouvi muito, que não tenta se explicar, ele se explica por que, afinal, qual é a necessidade de que ele seja desvendado? Ou então que desperte mais indefinições, nem aparentemente tem esse objetivo. É sim, um filme despretensioso com um tema interessante, roteiro bem definido e de muita qualidade, atuação cristalina, quanto à câmera é adequada aos seus próprios propósitos, o filme é belo e se serve da beleza para enfim nos libertar de qualquer obrigação com o próprio filme e nos lançar diante de nós mesmos.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário