Fiquei muito empolgado quando soube da nova empreitada do nova-iorquino Darren Aronofsky. Sua grande carreira, apesar de curta, me animou bastante para esse "Cisne Negro", ainda mais depois do excelente "O Lutador". Antes de checar o longa nas telonas, no entanto, me deparei com algumas (poucas) críticas que batiam na mesma tecla: falta de originalidade.
De fato, "Cisne Negro" passa longe de ser original, experimental, ou qualquer coisa que o valha. Sobre isso, deixo aqui uma pergunta para quem se interessar em responder: o que é original nos dias de hoje? Bem, posso citar dois exemplos de filmes que assisti recentemente. "Scott Pilgrim Contra o Mundo", de Edgar Wright, traz o universo dos quadrinhos para o cinema de uma forma nunca antes vista. Carregado de referências modernas, temos aqui um bom exemplar de originalidade. Obra-prima? Longe disso…
O segundo vem lá de longe, da Tailândia. "Tio Boonmee, que Pode Recordar Suas Vidas Passadas", do experimental e premiado Apichatpong Weerasethakul, tem suas qualidades. A história é interessante, profunda, mas a trama é arrastada, regionalista. É um daqueles filmes, assim como "Anticristo", de Lars Von Trier, que pede uma segunda leitura. O experimentalismo de Apichatpong tem seus pontos positivos, mas classificá-lo como magnífico é um tanto quanto exagerado.
Onde eu quero chegar com isso? É simples: nem tudo que é original é bom. É claro que filmes experimentais devem ser olhados com carinho e respeito, pois inovar é difícil, algo realmente para poucos – e bons. Contudo, vivemos num mundo, como eu disse, onde inovar é raridade. Faltam cabeças pensantes? Eu penso de outra forma. Os anos passam, muitos filmes chegam aos cinemas e as fórmulas cinematográficas, aos poucos, se esgotam. Se esgotam por quê? Porque já foram utilizadas por outro, que chupinhou a fórmula de outro, que se inspirou em outro e assim por diante.
Darren Aronofsky ao menos segue fiel às suas características. Em "Cisne Negro", vemos muito do que foi visto em "O Lutador" e em "Réquiem Para um Sonho". É claro que temos temáticas completamente distintas, mas o estilo do diretor é bem semelhante. Deixemos de lado a preferência por dramas familiares, mas falemos da câmera que segue a bailarina Nina (Natalie Portman) durante todo o longa. A câmera por detrás da personagem é a mesma que perseguiu Randy Robinson (Mickey Rourke) há pouco mais de dois anos.
Em "Cisne Negro", todavia, o significado disso é mais representativo. Nina, deslumbrada com a chance de protagonizar o clássico "O Lago dos Cisnes", começa a ficar paranóica com a presença de Lily (Mila Kunis), bailarina recém-chegada de San Francisco e a quem julga querer roubar seu posto no aclamado espetáculo. O que era pra ser um marco em sua carreira se transforma num pesadelo sem fim. Nina é perseguida em casa pelo protecionismo exacerbado de sua mae e na academia de balé pelo professor perfeccionista, sem falar da veterana Beth (Winona Ryder), que também bota suas manguinhas de fora com o passar da fita.
O suspense psicológico de Aronofsky nos fisga de maneira irresistível, especialmente nos 30 minutos finais – uma verdadeira sequência de tirar o fôlego. A alucinada Nina, outrora frágil e ingênua, mostra aos poucos que é capaz de tudo para se manter no papel principal do espetáculo. Ao espectador, resta a dúvida: o que é delírio e o que é real? A viagem pela demência da personagem de Natalie Portman é divertida e assustadora, nos envolve com a quebra de preconceitos e encanta de forma macabra no ato derradeiro do cisne negro.
Falando nela, Portman está nada menos do que brilhante, muito bem apoiada pelos coadjuvantes Vincent Cassel, Mila Kunis, Winona Ryder e Barbara Hershey. Com um elenco recheado de estrelas e uma trilha sonora mais do que adequada, Darren Aronofsky faz de Cisne Negro (mais) uma obra-prima em sua carreira.
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