"Um espetáculo cinematográfico fascinante e atemporal"
Cleopátra talvez seja um dos filmes com a produção mais conturbada da história do cinema, ao lado de produções como O Portal do Paraíso (Heaven´s Gate, 1980) e Apocalypse Now (Apocalypse Now, 1979). Foram muitos os problemas enfrentados pela produção, que vão desde substituição de elenco e direção, doença da estrela principal (que quase a levou a morte), escândalos amorosos, salários milionários, mudança de locação, reconstrução de cenários, paralisação das filmagens, entres outras situações que se reverteram em um custo astronômico à produção, quase levando os estúdios FOX a falência.
Deixando os contratempos um pouco de lado, Cleopátra é ainda hoje uma das produções mais poderosas e fascinantes da 7ª arte e impressiona pela escala de tudo que envolve sua magnânima produção. Desde os cenários suntuosos, os fabulosos figurinos, a maquiagem precisa e a fotografia esplêndida fazem deste uma das obras mais belas já produzidas. Numa época em que cenários ainda não eram reproduzidos em CGI, o resultado alcançado pela produção impressiona e serve de referência até hoje para o gênero, dado o minimalismo de seus detalhes. Talvez o momento mais icônico da película neste sentido seja a chegada de Cleopátra a Roma, que sintetiza toda a ousadia e criatividade da obra, assim como a megalomania da época retratada.
Mas é Elizabeth Taylor a grande estrela da produção. Taylor nasceu para viver a rainha egípcia, com a beleza e o talento ideais para a composição desta mítica personagem. Sua presença ilumina a tela e não se resume a sua inquestionável beleza, mas também sua forte personalidade, contornando possíveis deturpações sexistas do roteiro. Rex Harrison surpreende também como o imponente Júlio César, assim como Roddy Macdowall e seu Octavius, no melhor papel de sua carreira. Richard Burton acaba apagado pelos colegas de elenco, mas não desaponta na pele de um trágico Marco Antônio.
Vale destacar também a fantástica trilha sonora de Alex North. Bela, traiçoeira, caótica, insana e sensível, casa perfeitamente com o tom alcançado pela obra. A direção de Joseph L. Mankiewicz (A Malvada) é bastante segura e precisa, principalmente nos momentos mais dramáticos da película, não mantendo a mesma eficiência nas cenas de batalha, que se mostram apáticas e mal executadas (uma pena visto os recursos que tinha em mãos). O roteiro também deixa a desejar em alguns momentos com diálogos superficiais e cenas que se estendem mais que o necessário.
Com um orçamento inicial de US$ 2 milhões, a produção acabou custando aos cofres da Fox um montante de inacreditáveis US$ 44 milhões (que corrigidos pela inflação atual, ficaria em torno de US$ 430 milhões), provando o quanto o estúdio arriscou-se por acreditar no sucesso do projeto, que acabou não tendo o resultado esperado. A crítica ficou dividida na época de seu lançamento com alguns aplaudindo o espetáculo áudio-visual da película e outros taxando-o como infame e exagerado, um verdadeiro "elefante branco". Seja como for, sua importância histórica e cinematográfica é inegável, uma obra fascinante e ambiciosa, concebida em uma escala épica, que dificilmente será igualada ou superada.
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