MUITO MAIS QUE UM DRAMA. MUITO MAIS QUE UMA CRÍTICA. MUITO MAIS QUE UM FILME.
Dramas de pessoas lutaram contra um sistema com todas as forças, sempre renderam boas histórias para o cinema. Quando dessa luta depende a vida de alguém, mais ainda. O norte-americano Ron Woodroof (Matthew McConaughey) lutava não só por sua vida, mas pela de milhões de pessoas, com um pequeno detalhe: todos sabem que não há salvação ao final desta jornada. Em plena metade da década de 80, com a disseminação e propagação do vírus da AIDS, o texano Ron, preconceituoso e degenerado, é diagnosticado soro-positivo e, ao perceber o descaso do governo para com os infectados, visando sempre o lucro com a venda de remédios e inicia uma fervorosa batalha contra a indústria e uma luta por sua vida.
Formatado em drama pessoal com nuances de redenção e conscientização, Clube de Compras Dallas (Dallas Buyers Club, 2013) se revela uma crítica muito bem construída às indústrias farmacêutica e alimentícia, mostrando que por vezes as “sociedades alternativas” atingem muito mais êxitos do que o próprio estado, mas como não geram lucro para a receita, são recriminadas (alguém sabe me dizer, por exemplo, por que os “jogos de azar” são proibidos e a Mega Sena é divulgada até pela Globo?).
O total desconhecimento da doença na época (um personagem diz que só se “pega” AIDS pelo toque ou se for homossexual) é muito bem empregado na primeira metade do filme para entendermos qual era o mundo em que Ron se encontrava. Completamente ignorante e sem qualquer perspectiva de maiores realizações na sua vida do que conseguir dinheiro em trambiques perigosos e gastar tudo com bebidas, drogas e prostitutas, ao ser diagnosticado com HIV, Ron busca conhecimento de causa e procura tratamentos alternativos, adquirindo uma visão muito mais ampla do cenário mundial da época. É desse crescimento do personagem e da trama que o maravilho trabalho de Matthew McConaughey aparece. Sinceramente, eu não sei o que aconteceu com ele nos últimos anos, mas daquele paspalho sem graça de Como Perder Um Homem em Dez Dias, o cara vem numa ascensão astronômica na carreira e é hoje um dos mais requisitados atores de Hollywood, com toda a justiça. E não são só as transformações físicas que impressionam (em certos momentos ele está irreconhecível), mas também o amadurecimento de Ron que é conduzido com excelência pelo protagonista. Oscar mais do que merecido. Outro que mereceu todos os elogios que recebeu foi Jered Leto, também premiado com uma estatueta dourada. Leto não tem lá muito em cena, mas o aproveita muito bem. Já passou da hora de Leto começar a procurar papéis de protagonista.
No comando, o diretor canadense Jean-Marc Vallée (A Jovem Rainha Vitória) faz oi que pode para dar um toque especial, como na belíssima cena de Woodroof coberto de borboletas, e também para compensar um certo desleixe na montagem do filme, que não nos deixa a certeza se os diversos saltos na história foram de dias ou de meses, muito pelo aspecto dos personagens que pouco muda – exceto Ron. Mas, no fim das contas, o diretor consegue um bom resultado.
Clube de Compras Dallas é um filme denso, consistente, de ótimo ritmo e de interpretações excelentes. Mantém-se firme à sua proposta de criticar veementemente seus dois alvos sem se esquecer que é um filme e precisa manter o interesse do espectador até o final. Um ótimo filme que traz uma ótima reflexão após a sessão.
Valeu Matheus, veleu Pedro.
Geralmente não me comovo fácil. Aliás, quando um filme parte pra apelação eu desisto dele. Mas esse aqui tem a dose certa. Não acho nenhum crime não gostar dele, mas não questiono a atuação do MM. Que momento...
Quando ele percebe que a morte está próxima,a pessoa que assiste imagino que sinta um desespero e vontade de poder ajudá-lo.
PS: Pedrão, lembra que eu disse que seus textos sobre a serie Jogos Vorazes iam acabar me fazendo assistir aqueles filmes que eu tanto evitava? Pois é, vem texto por aí.....😲
Lucas, o único momento que realmente me tocou foi justamente a cena do Rayon com o pai. Mas não chego a não gostar do filme, acho bonzinho e tudo mais hahaha.
Opa, espero que seja um texto elogiando, Cristian 😁