Porque a vida é feita de amigos
Mário Quintana já dizia em sua célebre frase, a amizade é um amor que nunca morre. Essa verdade irrefutável permeia Stand By Me de maneira muito simbólica. Rob Reiner, diretor responsável por Louca Obsessão, comanda Conta Comigo de forma convencional, sem grandes planos, reviravoltas ousadas ou suspense gratuito. Tudo é muito ponderado, afinal, existe um pouco de tudo nessa pequena película oitentista. Raiva, ódio, amor, companheirismo e tristeza. Todos esses sentimentos divididos num mesmo barco, onde habitam quatro inseparáveis amigos que, por motivação do irmão de um deles, saem em busca de uma aventura digna de Sessão da Tarde. Eles passarão o longa percorrendo estradas, fugindo de trens em alta velocidade, vencendo pescanhos. Tudo para alcançar um objetivo final bem definido, o de encontrar o corpo de um homem abandonado na beira de uma linha férrea. Tudo se passa na cidade fictícia de Castle Rock.
Pano de fundo de muitas obras de Stephen King, a cidadezinha de cerca de mil habitantes é um amplo espaço de belas histórias. Aliás, o filme, narrado sob a perspectiva do já adulto Vern, é uma coletânea de eventos narrados nas mais diversas perspectivas. Pela lei das probabilidades, todos sabemos que nesse tipo de filme o final é um horizonte doce e feliz. E, realmente, Conta Comigo termina da forma mais clichê possível. É um filme hermético, quadrado. Possui virtudes justamente por mexer muito com o coração. Nisso, Reiner acerta em cheio, pois concatena roteiro eficiente, com uma dose certeira de trilha sonora, garantindo que muitos se divirtam comendo pipoca por pouco mais de uma hora.
O filme começa narrando o cotidiano de Castle Rock. Também apresenta o primeiro diálogo dos garotos fumando na casa da árvore. Momento em que irrompe a perda da inocência da infância, na fase de transição para a vida adulta. Teddy, líder do grupo, é filho de militar. Orgulhoso de seu pai, ele ostenta essa hierarquia e, apesar de ser zombado por usar óculos, não se intimida quando chamado de quatro olhos. Gordie, o mais ingênuo e amedrontado, sempre busca fugir das tensões, como num escape do estéril e ortodoxo movimento em prol da rotina. Chris é um líder nato, assim como Teddy, apesar de agir por vezes com certa imaturidade. Vernie, o contador da prosa, é magro, franzino e não gosta de briga, é daqueles que prefere ficar no seu canto. Digamos que ele seja o diplomático da turma.
Apesar dessa salada tipológica, ambos se entendem em perfeita harmonia e não desgrudam um do outro mesmo perante as adversidades. Reiner explora esse lado psicológico de maneira íntima e constrói cada personagem seu com uma lapidação diferente para cada. Afia também a tensão, como na cena em que Teddy faz graça de frente pro trem e é retirado dos trilhos a tempo. A cena em que os quatro assam marshmallows em volta da fogueira fica tenebrosa com o uivo ao fundo. Cada pecinha do quebra cabeça multi cor de Reiner se encaixa ao longo da montanha russa que é o filme, viciado em oscilar entre bons e maus momentos. O que salva muito esses momentos downs, parados, é a escolha das músicas, cativantes, remetendo a nostalgia e ao encantamento dos áureos tempos de discoteca.
Outro momento deliciosamente hilário é quando os garotos invadem um ferro velho e, lá, realizam um piquenique delicioso. No fim, tudo dá errado, tendo inclusive Teddy ouvido desaforos do dono do local. Além disso, a fotografia é amplamente iluminada, afinal, o filme é recheado de cenas diurnas. Com a responsabilidade de condensar a extensa obra The Body, de King, o roteirista Raynold Gideon conseguiu se virar com o que pôde. Apesar de que, no final, o que vimos foi um filme sobrevoando no piloto automático, o que foi uma pena, considerando a mitologia da obra do autor estadunidense. Falta brilho em vários momentos, falta mesmo. A trama vai bem quando foca nos diálogos e deixa as subtramas dos valentões de ensino médio de lado.
Quando Vernie desabafa com Chris na beira do rio a respeito de uma mágoa com seu antigo colégio, o colega enxuga as lágrimas do seu parceiro e coloca a mão em seus ombrosz materializando um sentido de elo muito forte ali. É de chorar. É de chorar também a falta de ousadia da obra, principalmente no quesito explorar mais o enredo. Uma subtrama, mal desenvolvida por sinal, e nada mais.
Um filme bacaninha, fez bem numa década fraca de grandes lançamentos. E.T marcou seu nome, como o filme bonitinho do ser de outro planeta, porém, Reiner aqui deixou sua obra como um flor, bonitinha, porém inofensiva. Um deleite para os olhos, Conta Comigo não é para os fracos. Se for assistir, deixe o lenço ao seu lado. E não crie expectativas..
Bem feito. Redondinho. O filme não decepciona, mas é superestimado demais. Em termos de avaliação fico entre a dada pelo Regis Trigo e o Xande. Bacaninha, não mais que isso.
Concordo, Conde. Filme acertado na mensagem, porém linear e convencional na sua estrutura. Vale a pena conferir, já que, de certa forma, marcou os anos 80. Dessa década, está na meu coração De Volta Para o Futuro 😁