"Simplesmente uma poesia cinematográfica."
Seria o original realmente melhor que a cópia? O que é mais prestigiado a cópia ou o original? O que vale mais? Qual é mais bonito? Essas são perguntas que permanecem durante todo o filme e fazem com que pensemos se realmente aquilo que sempre consideramos como o melhor, é realmente o original ou é apenas uma cópia bem feita.
A história se passa na Itália, mais precisamente em Toscana, onde Elle (Juliette Binoche) está assistindo ao lançamento do livro Copie Conforme, do autor James Miller (William Shimell), onde ela se mostra mais interessada no autor do livro e seu conhecimento, do que no próprio livro.
Elle marca um encontro com James e eles se encontram em sua pequena loja de “cópias autênticas” de obras de arte. James mostra-se um tanto quanto indiferente ao acervo de Elle. Ela, por sua vez, leva-o para um vilarejo onde tenta convencê-lo da relevância da cópia, mostrando a ele uma pintura que era considerada por todos como a original e depois de muito tempo foi descoberto que era apenas uma cópia. Uma cópia que foi idolatrada por famílias reais durante muitos anos.
Elle e James passam todo o filme conversando, discutindo e debatendo sobre o que tem maior valor, algo original ou a cópia que, bem vista, pode ter o mesmo valor que a original. A vida poderia ser dividida em cópia e original? Poderia haver um momento onde tudo o que se acredita passasse a ser apenas uma cópia de algo que já existia? E é durante uma parada em um café que Elle chega a misturar a originalidade da vida real com a cópia da vida fictícia, e James como resposta entra na história de Elle, fazendo com que o telespectador já não consiga distinguir o que é real e o que é fictício na vida dos personagens.
É perceptível certa semelhança com os filmes Antes do Amanhecer (1995) e Antes do Pôr-do-Sol (2004), em sua maneira de dirigir e desenvolver o roteiro, existindo, praticamente, apenas dois personagens e como suas vidas tomam um curso concreto e semelhante.
O jogo de palavras, as poesias citadas em forma de conversas cotidianas, a inteligência e a destreza com que as palavras soam aos ouvidos de quem presta atenção, elevam o nível de um dos filmes mais belos de todos os tempos.
Binoche se envolve e apresenta uma Elle vívida, crua, nua e transparente, suas falas, seu modo de interpretar uma cidadã francesa que mora na Itália e que é amante das obras de arte, uma cidadã simples, porém com um amplo conhecimento. Suas expressões, seus gestos, todas suas farsas, seus truques, tudo isso nos transporta ao pequeno vilarejo onde toda a história se passa.
Abbas Kiarostami, leva ao telespectador a dúvida, porém não apresenta a resposta, em conseqüência deixa que o próprio telespectador descubra a última peça do quebra-cabeça que é o filme.
Kiarostami eleva, assim, o poder do cinema iraniano, desenvolvendo um filme simples, porém com grande conteúdo e deixa a seguinte pergunta ao telespectador: “O que você prefere o original ou a cópia?”. Ele não sente a necessidade de transpor na tela sua opinião, apenas alimentar um debate que, por muito tempo, foi errôneo e esquecido.
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