SEM EXCESSOS E MUITO EFICIENTE
Daylight, de Rob Cohen, foge um pouco à regra dos filmes estrelados por astros de ação até metade dos anos 90, pois aqui não há tiros, nem lutas e nem vilões. Em Daylight, Sylvester Stallone não mata ninguém, mas sim tenta salvar um grupo de pessoas presas em um túnel que liga Manhattan à New Jersey, após um terrível acidente, enquanto seu personagem - o ex-chefe dos paramédicos Kit Latura - enfrenta uma jornada pessoal contra a desconfiança em busca de redenção.
Embora não se encaixe como um legítmo filme catástrofe, pois as proporções de seus acontecimentos são bastante reduzidas, Daylight segue fielmente sua estrutura narrativa: vários personagens são apresentados num dia como qualquer outro de suas vidas; um fato terrível acontece e põe a vida de todos em risco; um personagem (Viggo Mortensen) autoconfiante demais assume a dianteira e acaba pagando por sua petulância; dramas pessoais são expostos; um personagem desacreditado é alçado ao posto de salvador do dia; um artifício barato é usado para sensibilizar o espectador (geralmente uma criança ou um animal - como aqui) algumas mortes comoventes; protagonista a beira da morte; algumas vidas são salvas e um casal se forma ao final.
Mas o que coloca Daylight na condição de bom filme (coisa que a maioria desses não é) é o fato de que ele não brinca com você em nenhuma oportunidade. Não há tentativa, seja por parte do roteiro ou da direção, de chocar com uma morte inesperada ou causar a falsa sensação de perigo ao protagonista. Não tem nada disso em Daylight. O filme deixa bem claro quem morre e em que momento. O que importa aqui é o protagonista e sua condição de salvador fragilizado. Latura espera salvar a todos, embora saiba ser praticamente impossível. A cada vítima não salva, Latura sente-se cada vez mais preso a um karma sem fim, em que para cada vida salva, uma outra se perde, como ocorrido outras vezes em seu passado. Nesta jornada, Latura se depara com um dos momentos mais emblemáticos de sua vida, ao passo em que se vê obrigado a deixar um de seus companheiros para trás, visto que não haveria possibilidades de sobrevivência para ambos. É por isso que Daylight, reconhecendo seus clichês como favoráveis ao andamento da coisa, tira ótimo proveito do devastador sentimento de impotência do ser humano diante da morte. E tanto Rob Cohen, quanto o roteiro de Leslie Behem sabem dosar bem o melodrama para que não se perca o foco do filme.
Mesmo apressado e mal explicado em certos momentos (como o tempo de resposta da polícia e dos paramédicos, que é impressionantemente rápido), Daylight acerta em cheio ao saber reconhecer seu tamanho para não exagerar nem no drama, nem na ação traz Sly em mais uma demonstração de versatilidade na escolha de seus papéis e filmes (embora, por vezes, sua atuação beire o caricatual) e não dura nenhum segundo a mais do que o necessário. Belo exemplar de um bom filme pequeno.
Um dos melhores trabalhos do Sly!
Valeu, gurizada. Belo filme mesmo!!!