http://www.loucosporfilmes.net/2016/02/critica-deadpool_7.html
No final da década de 70, ao passo em que o mundo parecia cada vez menor por conta das ligações telefônicas internacionais, as viagens de avião, a televisão e etc, Hollywood vislumbrou a oportunidade de fazê-lo parecer cada vez maior, expandindo o universo para bem além da Terra e do nosso sistema solar. Aproveitando o sucesso estrondoso do considerado primeiro "blockbuster" 'Tubarão' (1975), todos os anos eram lançadas superproduções fantásticas, até que em 1978 surgiria o primeiro filme do Superman, praticamente dando luz aos filmes de super-heróis no cinema. Pouco mais de três décadas depois, podemos dizer que essa categoria de filmes atingiu seu ápice, movimentando cada vez mais dinheiro nas bilheterias, mas também impulsionando os estúdios a buscarem cada vez mais o aprimoramento tecnológico, o que é bom tanto para eles como também para nós, o público.
E o Deadpool? Sua primeira aparição foi em 1991, como vilão em uma história do universo dos "X-Men" - posteriormente, chegou a ter contato com o Homem-Aranha e também Os Vingadores nos quadrinhos. Por isso, ele odeia ser chamado de "super-herói", pois é um dos personagens mais ambíguos da Marvel, podendo assumir o papel de herói ou vilão de acordo com sua vontade e com um senso de humor sarcástico bem característico, aquele cara que "perde o amigo, mas não perde a piada". Não é a primeira vez que o personagem aparece em um filme, em "X-Men Origens: Wolverine" (2009), o mesmo ator que o interpreta agora, Ryan Reynolds, atuou como Deadpool, apesar daquele personagem ter sido duramente criticado, por não ter muita relação com o original e ter sido muito mal desenvolvido. Desta vez, a direção fica por conta de Tim Miller, um diretor estreante, mas que havia se destacado principalmente por ser responsável pelos sensacionais efeitos visuais de "Scott Pilgrim Contra o Mundo" (2010) e já possui uma indicação ao Oscar de Melhor Curta-Metragem Animado. Vale lembrar que esta análise será baseada apenas na versão cinematográfica do personagem, portanto, vamos lá.
Todos devem se lembrar do fracasso de crítica e público que foi o último "Quarteto Fantástico" para a 20th Century Fox no ano passado. Não que um estúdio do tamanho da Fox precisasse de uma redenção, mas houve certa pressão de todos os lados para que Deadpool também não 'flopasse', na gíria do meio. E o resultado é extremamente satisfatório. Primeiro que é um filme de 'origem' de personagem e no orçamento não cabia a inclusão de heróis ou vilões tão importantes para fazerem o papel de antagonista na trama (mesmo personagens não tão conhecidos como Cannonball e Garrison Kane foram cortados do roteiro por não haver mais dinheiro para efeitos "realistas"). Pensem que o Homem-Aranha teve o Duende Verde, os X-Men tiveram Magneto, o Capitão América teve o Caveira Vermelha... Mas e o Deadpool? Então aí está o primeiro acerto do filme. Para não cometer o mesmo erro de Quarteto Fantástico e adiar demais a ação, tornando o desenvolvimento da história muito parado, Deadpool já começa em um ritmo bem mais acelerado, dando uma pequena demonstração ao espectador da violência e do humor ácido que virão pela frente.
O humor, a propósito, já começa nos créditos iniciais, numa auto-zoação sensacional. Cientes de que tinham uma história muito básica para contar, os verdadeiros "heróis" do filme (como eles mesmo se auto-intitulam...) são os roteiristas, que precisaram fazer vários ajustes durante a pré-produção, e apostaram em uma montagem contada em flashbacks, dando um ritmo muito equilibrado e dinâmico ao filme - essa edição lembra vagamente um filme chamado "Vamos Nessa" (1999), bem dinâmico e alternando histórias que se encaixam em um determinado ponto. Deadpool é cheio de referências culturais como cantoras 'pop' e filmes dos anos 80, uma piada hilária com Liam Neeson e principalmente quando se refere a trabalhos anteriores de Reynolds, como seu antigo Deadpool e Lanterna Verde.
A carioca belíssima Morena Baccarin faz o par romântico do protagonista desde que ele era apenas Wade Wilson, um ex-militar que trabalhava como mercenário pelas ruas, mas também assustando adolescentes por diversão. Ambos estão muito bem em seus papéis, o casal demonstra boa química e o romance funciona de forma plausível. O comediante T. J. Miller é Weasel, "melhor amigo" de Deadpool e junto do vilão Ajax (Ed Skrein) também são eficientes dentro do que o roteiro lhes permite. Destaque para a luta entre Deadpool e Ajax no meio do fogo, como se o protagonista tivesse "renascido do inferno". Agradeçam aos céus por não terem nascido na China, já que o filme foi proibido de passar nos cinemas de lá. As cenas de ação são de tirar o fôlego, têm muito sangue, uma trilha sonora sensacional - talvez a melhor do gênero ao lado de Guardiões da Galáxia-, sexo, palavrões e muitas piadas, mas isso é o mínimo que poderíamos esperar de um anti-herói com tanta personalidade e irreverente como Deadpool. Novamente Stan Lee faz aquela participação relâmpago, mas hilária e há também a tradicional cena pós-créditos, sendo assim, esperem até o final porque vale muito a pena!
Olhando em perspectiva, não há como negar que a Fox aprendeu com seu erro no ano passado e deu mais liberdade criativa para os profissionais envolvidos no filme. Mesmo o próprio Reynolds teve contato com os roteiristas e fez alguns ajustes e o diretor deu liberdade ao elenco para improvisar, deixando-os muito mais à vontade - a quebra da quarta-parede, apesar de já acontecer nos quadrinhos, fortalece bastante o laço do espectador com o anti-herói. Outra boa notícia é que os produtores já confirmaram uma potencial sequência com outros membros do X-Men (não apenas Colossus e Negasonic, que já aparecem neste, mas quem sabe Gambit ou Cable), e trazendo novamente o mesmo diretor. Deadpool é altamente recomendado, fica muito próximo de "Capitão América 2: O Soldado Invernal" (2014) e "Os Vingadores" (2012) como melhor filme da Marvel até aqui. Em um ano com várias estreias de filmes de super-heróis, tenho o prazer de afirmar que 2016 já começou de forma sensacional.
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