SCORSESE E O SEU SHOW DE HUMOR NEGRO
Ele vai pra casa, para o trabalho, estuda, come e dorme. Idem, idem e idem. Todo o dia mesma coisa, não muda a rotina. O jovem rapaz faz isso todo os dias, todos os dias, e sempre a mesma coisa. É impressionante, como o tédio consome tanto tempo para nada. Mas apesar disto tudo, não é um dia normal para nosso protagonista, é uma noite especial. Não é a mesma, nem será, nem nunca foi. É diferente, tudo por causa de uma coincidência. Isso já é o suficiente para embarcarmos numa aventura atípica, fora do normal baseada na rotina. Pronto, é isto.
Dado brecha para isto, Martin Scorsese, vem mostrando apego por Nova York já de outros de seus filmes, o diretor estadunidense se baseia nisto para formar uma de suas direções mais competentes, inteligentes, corajosas e pessoais. Já feito filmes que apesar de tornarem o mesmo já consagrado como, Taxi Driver(1976) e o mais valorizado(pela academia), Touro Indomável(1980), trata-se de sua décima-segunda direção em película. Já mostrado a sua valorização nessas obras anteriores, além de claro uma certa sintonia com outros nomes consagrados do cinema mundial, Scorsese cria sua película, que apesar de todos os defeitos e efeitos se trata de uma exploração pessoal e um amadurecimento vasto na sua questão de direção.
Já com um certo humor negro e pastelão(como em películas posteriores também, como Os Bons Companheiros(1990)), Scorsese usa para atrair o público a vida de um cidadão, normal, trabalhador. Que apesar disto tudo, esse rapaz, Paul Hackett(Griffin Dunne), quanto está tomando café em uma lanchonete cruza com uma garota muito intrigante, Marcy Franklin(Rosanna Arquette) na qual acabam se atraindo e vão para o apartamento da mesma, lá, uma série de personagens bizarros são interceptados junto conhecimentos e coincidências cruéis com o nosso protagonista, o que trará grandes desaforos para ele. Nisto, Scorsese, se utiliza para dosar bastante o seu humor negro, dando uma rotina normal em um caso totalmente diferenciado com um elenco no mínimo curioso que se encaixam desde a dupla Cheech & Chong(consagrados por Queimando Tudo(1978)), até mesmo à Teri Garr.
Os acompanhamentos do elenco da película servem para Scorsese mostrar bem nitidamente(apesar de ser um fato meio brutal, o que deixa a película limitada), que se trata de puro humor negro à lá seus outros filmes que, apesar de não se encaixarem no gênero usavam pequenas doses do mesmo. Sua câmera, altera e transita entre suspense(de forma bem básica) e comédia. Todos os atores e atrizes que o mesmo vai interceptando, as vezes, deixa o espectador cansado com a película, já que uma vez, que, só acompanhamos mesmo Paul Hackett e mais ninguém na trama que se mistura de forma apesar de engraçada, entediante ao mesmo tempo.
Com certeza, o seu toque de beleza nos anos 70 e 80 sobre a visão da cidade de Nova York, não precisa ser provado à ninguém, bem como, o mesmo já trabalhou de forma linda fotograficamente em Taxi Driver(1976). Seus toques de Hitchcock não são nada de estouro ou algo do tipo, uma vez que usa técnicas bem básicas para prender um pouco a atenção do espectador, que de forma ou de outra é mais enganado pelos risos do que pelo roteiro tão simples que acaba caindo na mesmice. Os toques romancistas de Griffin Dunne e Martin Scorsese postos durante o filme, trazem um certo charme e elegância à trama. Mas com certeza o que se destaca além de tanto suspense atrás de suspense e tanto riso atrás de risos, está por trás das câmeras de Scorsese, sem dúvidas algumas.
Apesar do roteiro de Joseph Minion ser por certas vezes, criativo, começa a ser por isso, demasiadamente cansativo e convencional, os toques de Scorsese na direção(que inclusive lhe renderam prêmios, como de melhor diretor no festival de Cannes), é que são o grande trunfo da película, que conseguem passar além do humor negro, certas pitadas de surrealismo à lá Buñuel, como em filmes clássicos, marcados pelo menos para a maioria, Um Cão Andaluz(1929) e fotografias, como disse antes, já bem experientes com um toque de Michelangelo Antonioni, em Blow-Up – Depois Daquele Beijo(1966), e é claro um toque que lembra muito o paisagismo e magia de Woody Allen como em Manhattan(1979) e até mesmo Noivo Neurótico, Noiva Nervosa(1977). É claro que, apesar das técnicas de suspense serem básicas e cansarem, devido ao roteiro, praticamente, o suspense chama a maioria do público e vidra qualquer um na tela, elemento que consegue salvar o filme várias e várias vezes, de suas às vezes, chatices que permanecem nas piadas bem limitadas à um público-alvo, que mesmo assim pode se chatear, se parar para prestar bastante atenção no próprio roteiro em si. Sua mise-en-scéne pode ser considerado um dos maiores fatos do filme ainda, pois suas posições são muito boas e sua noite, e do protagonista se embalam de forma nostálgica e muito bem-vinda. De forma ou de outra, trata-se de um triunfo tanto(na carreira de Scorsese, mostrando, talvez o seu lado mais pessoal, se lembrarmos da relação e sedução que todos seus filmes anteriores faziam com o humor negro e certos elementos aqui presentes), como no humor negro e para o cinema(que se devem dar por satisfeitos, com a película, por que mesmo entre trancos e barrancos, tanto a dificuldade do roteiro e do elenco, e a qualidade de direção de Scorsese mesmo tendo dificuldade para se adaptar com isto, trata-se mais do que um bom filme para o diretor e para o cinema, trata-se de um filme acima da média e muito gostoso).
Escrito por, Ricardo do Nascimento Bello e Silva
Belíssimo texto Ricardo. Vou usar seus textos como inspiração para os meus haha.
Obrigado Darlan. Esse texto é meio antigo, mas valeu! 🙂