Desconstruindo Harry (1997)
(Texto postado no blog Uma Dica de Cultura. Link: http://umadicadecultura.blogspot.com.br/2015/11/desconstruindo-harry-1997.html)
Hoje, uma comédia. Mas não uma comédia como qualquer uma dessas comédias que a indústria cinematográfica norte-americana exporta para o mundo todo, e sim uma comédia inteligente, escrita e dirigida pelo controverso cineasta Woody Allen.
No filme, lançado em 1997, a protagonista é interpretada pelo próprio Woody Allen, e quem conhece um pouco o seu trabalho sabe que, quando ele mesmo está no papel principal, o filme serve como uma sessão de terapia dele com ele mesmo; e, neste caso, Woody Allen é Harry Block, um escritor em crise de produtividade que tem um péssimo hábito: ele usa a sua história e as das pessoas à sua volta para escrever os seus livros, o que acaba gerando uma série de problemas para ele.
Isso porque, conforme descobrimos logo no início do filme, a principal fonte de sua inspiração é a conturbada relação conjugal que ele teve com as suas três ex-esposas, todas as quais ele traiu com outra mulher. Assim, as pessoas vão lendo os seus livros e ficando indignadas com o modo como ele as descreve, descreve as situações ou descreve as tradições de um povo inteiro, como a sua meia-irmã, que fica ofendida com as suas alusões ao judaísmo. No caso, Harry é um ateu convicto, que tem uma postura irônica com relação às crenças alheias.
E, como enredo principal, nós temos a seguinte situação: Harry foi convidado pela universidade onde estudou para receber uma homenagem, mas não tem com quem ir, pois a sua namorada acabou fugindo com o seu melhor amigo.
Então, no dia da homenagem, ele acaba levando consigo uma garota de programa, com quem passara a noite, um cardíaco amigo seu, com quem estivera no hospital no dia anterior, e o seu filho, que ele teve que sequestrar na porta da escola, pois a sua ex-esposa não autorizara que ele perdesse um dia de aula para passá-lo com o seu pai: um cafajeste viciado em álcool e remédios.
E a genialidade de Woody Allen entra aí, porque, além desse enredo principal, o filme conta com uma série de outros pequenos enredos, todos eles baseados nas histórias dos livros de Harry, isto é, baseados nas suas próprias relações pessoais, só que interpretadas por outros atores. E esses enredos e personagens vão aparecendo e se encontrando ao longo do filme, que acaba ficando muito dinâmico e divertido para quem assiste.
Entre esses outros atores, nós temos um jovem Tobey Maguire, que interpreta o próprio Harry, só que mais novo, quando de seu primeiro casamento, em que ele tinha vontade de transar com todas as mulheres do mundo, menos com a sua esposa; Demi Moore, que interpreta uma das esposas de Harry, a psicóloga, com quem ele se entendia muito bem, até o momento em que ela tem uma conversão paranoica ao judaísmo; e Robin Williams, falecido há pouco mais de um ano, que interpreta uma personagem fictícia de Harry, um ator que, de repente, fica literalmente fora de foco, não podendo ser visto pelas pessoas à sua volta: uma referência clara à própria falta de foco de Harry, na vida pessoal e na vida profissional.
Bom, essa é a nossa dica do dia, Desconstruindo Harry, que tem um humor ácido e psicológico, bem ao estilo de Woody Allen, que realmente precisa ser visto por quem está precisando dar umas boas risadas. Ah, um dos pontos altos do filme dá-se quando Harry vai para o inferno atrás de sua namorada, em uma de suas histórias: no inferno imaginado por Harry (ou seria por Woody?), nós temos críticos literários, extremistas de direita e... a mídia.
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