O ano de 2017 foi um ano cheio filmes necessários, muitos que falaram de assuntos que precisavam ser discutidos, um deles foi Detroit, da diretora Kathryn Bigelow que mostra parte da população afro-americana em sua migração para o sul dos Estados Unidos procurando por trabalho, foi na década de 60 que muita coisa aconteceu e mudou muita coisa por lá, foi lá atrás que as primeiras comunidades isoladas afro-americanas surgiram, na mesma época o preconceito racial gritava com muita força, em meio disso tudo, a cidade de Detroit passava por um dos momentos mais cruéis de sua história. O filme tem um ar documental, segue a rotina cada vez mais insustentável da população desses bairros, que um dia decide se rebelar contra o abuso de autoridade da polícia local e inicia uma verdadeira guerra civil sem precedentes.
O filme segue Guerra ao Terror e coloca na tela um conflito histórico, disso ela extraí o seu filme, trabalhando as questões morais e raciais, é quase uma guerra civil, são os afro-americanos contra os policiais que não relutam em usar todo o seu "poder" - por isso a abordagem da diretora permanece igual, mesmo que agora não estejamos mais acompanhando os soldados americanos no Iraque e sim uma população à mercê da segregação e do preconceito institucionalizados, o ponto da diretora é de não julgar ninguém, não apontar nenhum culpado, também não sugere qualquer solução, nem uma simples que seja, por outro lado, ela é corajosa e escancara os incômodos, que de alguma forma acabou por me atingir em cheio, durante quase toda duração do filme, fiquei incomodado por conta do excessivo abuso que os policias usam contra os afro-americanos, isso só na segunda metade do filme.
Os primeiros minutos - ou a primeira hora - são usados para nos colocar historicamente dentro dos fatos, são inúmeros personagens avulsos, vários cortes, até que a diretora finalmente escolha um momento na história na qual gasta todo o seu tempo, já é final da década de 60, mais precisamente é 1969, quando uma batida policial em um motel cheio de hóspedes afro-americanos resultou num dos capítulos mais tenebrosos da história americana.
O filme toma um rumo completamente diferente já dentro do hotel, a diretora começa trabalhar melhor seus personagens e gasta mais de uma hora da duração do filme em uma única cena, nessa interminável - sensação horrorosa - noite, ou seja, toda carga do filme será jogada em cima de nós nessa única cena, sem que em momento algum a diretora perca o ritmo crescente de tensão, os dramas tanto dos afro-americanos, quanto dos próprios policias brancos serão expostos na cena, enquanto os afros estão emparedados, de cara para parede por causa de uma coisa acusação falsa, por algo que não aconteceu, o realismo documental da diretora deixa tudo mais tenso e coloca em evidência toda habilidade de uma das - se não a - melhor diretora da atualidade. Detroi é um excelente filme que, infelizmente, entrou em cartaz na hora errada, um pouco mais a frente, sem dúvida teria entrado na temporada de prêmios.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário