Um professor (Kevin Sorbo) começa uma aula de Filosofia dizendo que na aula dele a existência de Deus não é permitida e obriga a todos os alunos escreverem "Deus está morto" num papel ("Na minha sala tem só um deus, e sou eu"), iniciando uma briga com um aluno cristão ("Sinto que Deus quer alguém para defendê-lo"). É assim, dessa forma risível, que "Deus Não Está Morto" inicia sua discussão acerca da fé.
Mas vamos lá, ainda podemos tirar algum proveito do filme, certo? Não é bem assim. O roteiros constrói todos os seus personagens, repito, TODOS os personagens de forma que os façam seguir o rumo de Josh (Shane Harper), o aluno "advogado" de Deus. O professor é ateu, arrogante, prepotente, cruel e maniqueísta. Sua fórmula de ensino é um absurdo (um professor universitário de Filosofia querer abranger toda a matéria com base no ateísmo e obrigar a todos a aceitarem ou caírem fora é ridículo). Todas as pessoas ao seu redor são católicas reprimidas por sua superioridade ateia. Já Josh é bondoso, complacente, corajoso, líder a ser seguido. Prefere terminar com a namorada a deixar Deus sem um defensor na aula (?). Mesmo com todos os percalços, sendo inclusive ameaçado pelo professor, ele não desiste, porque sabe que Deus está ao seu lado.
O filme também tece outros núcleos que previsivelmente chegarão a um mesmo lugar, como o empresário rico e perverso (e ateu), a repórter ambiciosa e odiosa (e ateia), a filha batalhadora com uma mãe enferma (e cristã), a jovem muçulmana reprimida pelo pai (e cristã) etc. A trama se divide nisso: ateus são malvados, cristãos são bondosos (e subjugados pelos ateus malvados).
Então começa o embate entre o professor e o aluno. Na primeira aula, quando o professor pede (obriga) os alunos a escreverem "Deus está morto" num papel (qual a necessidade nisso?), todos escrevem sem titubear, menos Josh, claro, que deve convencer a todos os alunos de que Deus não está morto. Os argumentos usados por ele ou são destruídos pelo professor (que pateticamente se incomoda em demasia com um calouro de universidade) ou furados por si só, como a máxima "Como você pode odiar Deus se você diz que ele não existe?". Ora, existem pessoas que amam unicórnios, Hogwarts, o Homem-Aranha, a Barbie e uma infinidade de coisas que "não existem", e amá-las não as fazem existir - o sentimento, seja ele qual for, é pela representatividade. Mas isso um professor de Filosofia que cita os mais diversos filósofos e pensadores da história não foi capaz de pensar, porque perante tamanha verdade divina do aluno, não houve resposta.
Querendo soar crítico e filosófico, o roteiro não abre mão das jogadas mais apelativas e sem sentido possíveis com várias frases de efeito, quando, por exemplo, Josh fala "Sem Deus não há nenhuma razão para ser moral". Desculpe? Só podemos ter noção de moralidade se formos teístas, é isso? Argumento repugnante. Fora os absurdos como "A Ciência apoia a existência de Deus". Deixar-se levar por tais "argumentos" é de uma alienação tremenda.
"Deus Não Está Morto" se utiliza do cinema da forma mais podre possível ao lançá-lo como "tribunal" forjado entre a existência ou não da tal divindade (algo ridículo por si só, cada pessoa acredita no que quiser e discussão sobre isso não leva a lugar nenhum), numa propaganda parcialíssima e ufanista pró-cristianismo (a frase "Deus é bom" é repetida diversas vezes sem o menor propósito), pintando toda não-crença como algo "ruim". E ainda encontra tempo para "converter" diversas culturas (desde orientais a muçulmanos), porque o Deus certo é o Deus cristão, num verdadeiro desrespeito religioso/cultural. E até mesmo para os teístas o filme é uma ofensa (ser tratado de forma tão manipuladora é subjugar a própria crença). O que poderia, e deveria, ser uma discussão edificante sobre os mistérios da fé e seus impactos nos seres humanos serviu só e somente só para ludibriar, num filme oco em conteúdo, mas recheado de prepotência odiosa. É alarmante notarmos como filmes assim são bancados e como há pessoas favoráveis a consumi-lo. Em pleno 2014.
Da mesma forma que milhões de brasileiros foram enganados pela propaganda ufanista da Ditadura, ou os alemães pela ufanismo nazista, milhões de pessoas estão sendo enganadas por esse filme, um dos maiores desserviços já feitos, uma ofensa à inteligência, ao bom gosto e, principalmente, ao próprio cinema, usado de maneira tão baixa. Sim, porque a forma que os nazistas pintavam judeus não está tão distante da forma que os ateus foram pintados aqui, cheios da mais negativa carga possível, maquiada para suavizá-la (o que torna o filme ainda mais perigoso). Um dos argumentos bastante vistos em "defesa" do mesmo é que ele é uma resposta pela repressão por partes dos ateus. Claro, a minoria está "oprimindo" a esmagadora maioria. Imaginem um filme onde brancos são retratados da forma que os cristãos aqui e os negros da forma dos ateus. Ou héteros e gays, respectivamente. Iria gerar revolta generalizada. E o que essas premissas diferem de "Deus Não Está Morto"? Nada.
Existem filmes que são passíveis de opinião, gostar ou não deles depende de você, da sua bagagem cultural, do seu conhecimento adquirido. Outros, como no caso de "Deus Não Está Morto", são existencialmente ruins, já nasceram fadados ao repúdio, com qualquer sinal de apoio soando como a mais pura alienação. E o conteúdo do filme é TÃO desastroso (o final é nível "Malhação" de ruindade, a última cereja do bolo do pior filme do ano - e o pior que eu já vi na vida) que esquecem de falar como também é péssimo tecnicamente: enquadramentos feios, trilha sonora horrorosa e por aí vai.
Sem perceber, "Deus Não Está Morto" é exatamente igual ao professor: arrogante, intolerante, insuportável e, acima de tudo, burro. GRAÇAS A DEUS está sendo massacrado pela crítica, que não foi enganada por esse material asqueroso que deve servir de exemplo de como NÃO se fazer um filme e de como NÃO propagar uma ideologia. Amém.
Concordo com você Lucas o filme é bem ruim mesmo, e quanto ao Thiago Monteiro, o que diabos se tá falando meu filho, ao dizer que é racional você conhecer o ser que deu origem a tudo, ninguém o conhece, não sabe se existe, e provavelmente nunca saberá, e esse sujeito que você mencionou é quem???? Buda, Kami-sama, Jesus, Alá, Inri Cristo, etc.... todos invenções humanas, os motivos para isso é só ler um pouco de Marx e ter um pouco de bom senso que entenderá pode ter certeza. 🙄
"A alienação é a diminuição da capacidade dos indivíduos em pensar ou agir por si próprios."
http://www.significados.com.br/alienacao/
Acho que não deveriam meter o pau tanto assim no filme. Meu colega de classe está se envolvendo com Deus, está sendo uma pessoa melhor, acreditando na graça de Deus que salva e isso é maravilhoso. E ele ama esse filme. É um filme que, nas palavras dele, o tocou profundamente no coração.
Gustavo, dá um desconto para o André, ele tem boas intenções. E tenha um pouco mais de boa vontade. O que ele é quer dizer é que cristão bota Deus acima de tudo e isso NÃO é alienação. Não estou dizendo que o filme é bom. É um filme extremamente simplista no tema delicado que aborda..