Diários de Motocicleta(2004), primeiro filme internacional de Walter Salles, assume essa posição que tanto compõe esse dinamismo de seu cinema, principalmente por ser além de tudo mais um Road Movie com alma de Road Movie. Quando vemos as sequências em que Ernesto(Gael García Bernal) e Granado(Rodrigo De La Serna) saem explorando os arredores da américa, sobretudo a américa do sul, países vizinhos da Argentina, em certa parte da duração do filme, A Poderosa, motocicleta que acompanha os ritmos dos dois idealistas deixa de ser importante e é esquecida, talvez a partir daí, o filme comece a ganhar um timing sobre essa tal américa desconhecida, mas o mais impressionante é que a partir daí em que o filme de Salles se decai.
Não era duvidoso que seu diretor assumisse a posição de jovem guerrilheiro idealista para narrar a história de uma das mais importantes figuras do século XX, mas é ao mesmo tempo decadente o modo com que a película se repete com tantas questões que só reafirmam um clichê barato e inflado quando em repetidas sequências, Ernesto assume a posição de bom samaritano de modo irritante e compara com a canastrice de Granado. Sem alma o filme continua a se sobre pôr sobre inúteis demonstrações que no fim não param no mesmo ponto em que chegamos para assistir o filme, com a superficial e rápida visão de Che. A humanidade e a narração sempre tão presentes nos filmes do brasileiro, aqui se misturam com uma fórmula pouco eficaz e quase sem essência e discernimento sobre assuntos diferentes.
Em certo pontos, as belezas sul americanas retratadas nas lentes não parecem ser vir para muita coisa se não um retrato pouco sólido para reafirmar Che e Granado como opostos um do outro e representar os olhos sensíveis muito bem interpretados sobre Gael García Bernal, que talvez seja a verdadeira carta na manga de Salles, firme, talvez não para aguentar todo esses elementos pouco explicados, mas suficiente para retratar uma visão dificilmente demonstrada em tantas películas do mesmo assunto.
Che(Che: Part One, 2008) é um belo exemplo que mostra uma imagem pouco sensata do herói argentino, como apenas um rebelde querendo tratar de feridos. Mas há em ambos filmes imagens construídas, o preto e branco deslumbrante porém cego sobre terras descobertas e um povo desconhecido. Tanto essa reflexão que Salles passa, firmando-se até em precários hospitais de San Pablo no Peru, não são suficientes para sustentar sua figura, pouco compreendida pelo cinema, mas que esse tal charme dessa pequena criança acreditando-se certamente em algumas utopias para tentar salvar o povo é relevante. Pois é de algumas certas afirmações que Diários de Motocicleta(Diarios de Motocicleta, 2004) cresce, diferente de tantos outros filmes, é possível observar apesar de todos os erros e sequências equivocadas, essa visão de Salles sobre esse grande x da questão.
Che Guevara ainda pode ser um desconhecido para o cinema, e certamente não é em Diários de Motocicleta que ele é desvendado afim, mas ele é usado como instrumento de uma fase tão importante para a vida e formação de alguém, algo de uma fantasia baseada em crenças científicas ou utópicas, sensatas ou insensatas, não importa, é daquele sonho juvenil que passa sobre esse caminho da visão da sociedade, da compreensão para mais tarde descompreender. Se ainda não ficou claro, talvez seja por isso que Salles acertou em certo ponto na trajetória de Diários de Motocicleta, que certamente não condiz com o filme mas essa narrativa poeticamente exploradora.
E delicioso ver esse sentimento juvenil sendo explorado, mas tamanha superficialidade não propõe um entendimento ou algo condizente. Em outras palavras Walter Salles mais do que planos bonitos e algumas lições de moral essa necessidade de esclarecimento para que tenha o desentendimento, como diria Tom Zé: "Tô te explicando pra te confundir e te confundindo pra te esclarecer”.
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