ROMANTISMO E LOUCURA EM UMA ADAPTAÇÃO FORA DOS PADRÕES
Com o auxilio da produção de Francis Ford Coppola, o roteirista Jeremy Leven (Diário de Uma Paixão; Gigantes de Aço) se aventurou pela primeira - até onde me lembro, única - vez no comando de um filme lá no longínquo e rico ano de 1994. Sua adaptação do clássico de Lord Byron, Don Juan Demarco, possui toda uma identidade própria e aposta num tom de comédia romântica das boas para conduzir uma narrativa extremamente lenta, baseada apenas em diálogos, mas que divertem e encantam na maior parte do tempo.
Marlon Brando interpreta o Dr. Jack Mickles, psiquiatra de um instituto para pessoas com distúrbios mentais que, a dez dias de se aposentar, salva um misterioso jovem antes que este cometesse suicídio. Este jovem (Johnny Depp) acredita fielmente ser Don Juan Demarco e um trato faz com o Dr. Mickles - quem ele acredita ser Don Octávio da Silva, tio do de Don Francisco, o único homem que pode lhe conceder uma morte honrosa - que consiste no seguinte: se nestes dez dias ele não convencer o Dr. Mickles de que realmente é Don Juan, ele aceita submeter-se aos medicamentos e ao tratamento. Do contrário, pede o aval para ir embora.
À medida que as sessões vão acontecendo e o jovem vai contando sua fantasiosamente absurda e igualmente apaixonante história, o Dr. Mickles começa a reavaliar sua vida e os rumos que ela tomou e acaba por indagar-se: o que houve comigo? Cadê aquela paixão de outrora? Será tarde de mais para retomar os trilhos e viver tudo o que eu sempre quis?Será que meu mundo é tão diferente do deste jovem, ou será que só vivo uma fantasia da felicidade? Embora saibamos, assim como os personagens, que aquele garoto não é Don Juan, é quase impossível não ser tocado pela paixão na sua voz. Uma pessoa capaz de enxergar beleza em tudo e em todos seria mesmo assim tão louca, ou só teria uma visão diferenciada das coisas? E a relação entre as histórias mirabolantes de Don Juan e as experiências de vida do Dr. Mickles começam a afetar o psiquiatra de uma maneira positiva, fazendo com que, inclusive, redescubra uma maneira de olhar para sua amada companheira como não fazia há um bom tempo nestes últimos 32 anos.
Porém, fica evidente que aquele jovem sofre de um trauma gravíssimo, o qual o Dr. Mickles encontra uma barreira que o impede de acessar: a imagem fixa que ele tem de seus pais. Mesmo com a distorção dos fatos, algumas peculiaridades são percebidas, como a possível infidelidade de sua mãe e a trágica morte de seu pai. Aliás, há um belo momento, após Don Juan contar sua versão da morte de seu pai, percebemos os olhos do Dr. Mickles cheios de lágrimas e a câmera de Leven percorre a sala e encontra várias fotos do personagem com seu pai. Nada mais é dito, pois não é necessário. Um belíssimo momento muito bem dirigido por Leven.
Do meio pro final, Don Juan Demarco (o filme) assume de vez seu lado fantasioso e inverossímil, inclusive optando por um desfecho improvável que serve para ressaltar seu romantismo. Quem conseguir entregar-se ao filme e sua magia, com certeza terá uma experiência doce e muito bonita. É uma bela pedida contra as adaptações enfadonhas que vemos aos montes por aí.
Belíssimo texto!
Mas acho que eu daria um 10! Também ao filme! Vi faz tempo... Memória pouca coisa trouxe do tal final... O casal numa praia... Enfim, acho que até pela idade, e talvez em meio a tantas mentes "confusas" ao longo dos anos levou o personagem do Marlon Brando a se dar o direito de um pouco de inSanidade... Afinal, que mal faria... Ele até remoçou!
Obrigado pela leitura, Valéria! De fato, como você disse, há uma cena em que Brando exercita-se e cuida de sua aparência, mostrando o redespertar da vaidade do persomagem.
Filme muito bom,já assistir algumas vezes e sinceramente entro dentro da história tanto quanto o doutor , se dá a acreditar que ele realmente é Don Ruan , ele conta com tanta paixão oque sente , e vc se sente ele em alguns momentos , será que ele realmente não era Don Ruan ?!
Por curiosidade aquele final , ela realmente estava lá ? Fiquei muito curioso