DRÁCULA? DESCULPA, NÃO VI NENHUM POR AQUI, NÃO....
Virou moda. Sem saber de onde espremer mais doletas de marcas famosas, tendo em vista que quase não há mais título famoso que não tenha recebido um remake ou um reboot, Hollywood investe pesado nos tais mashups, essa nova onda de usarem personagens, lendas e até mesmo pessoas reais em contos fantásticos, resultando em uma perigosa mistura de variadas vertentes de cinema. Os terríveis João e Maria - Caçadores de Bruxas e Frankenstein - Entre Anjos e Demônios, o passável A Menina da Capa Vermelha e o bom Abraham Lincoln - Caçador de Vampiros são alguns dos mais recentes exemplos desta nova tendência. Pensando bem, não deixa de ser uma alternativa até certo ponto interessante para o vazio criativo crônico o qual vivem os roteiristas e diretores do grande centro da indústria cinematográfica mundial que é a terra do Tio Sam. O problema é que esta modalidade de cinema vem sendo tratada simplesmente como uma máquina caça-níqueis, sem se importarem com o que está sendo levado como entretenimento para o público.
Mas como eu disse, Abraham Lincoln - Caçador de Vampiros é um pipocão de boa qualidade, bem dirigido, bem atuado, bem produzido por Tim Burton e, acima de tudo, bem divertido. Foi isso que me deu esperanças para assistir - mesmo de nariz torcido - Drácula - A História Nunca Contada (Dracula, 2014). E saí bem dividido com o que vi.
Uma dica: o segredo para simpatizar de modo um pouco mais fácil com o filme é tentar ignorar seu título. Isso mesmo. Imagine que o filme se chama apenas A História Nunca Contada, ou O Empalador, ou O Príncipe Romeno Criado Por Turcos Que Fala Com Sotaque Londrino, ou O Príncipe das Trevas (opa! esse aí já existe!), ou qualquer coisa do tipo. Só não ouça o nome Vlad Drácula. Ainda mais se você assistiu a obra-prima Drácula de Bram Stoker (Bram's Stoker Dracula, 1992) de Francis Ford Coppola ou qualqur um dos 13 (sim, 13!) filmes em que o excepcional Christopher Lee (O Senhor dos Anéis, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça) interpretou o icônico vampiro, pois de Drácula, o filme do estreante Gary Shore só tem o nome. O filme segue sendo uma linda história de amor além da vida (não aquele filme chato com Robin Willians), mas com uma abordagem completamente diferente da obra literária ou dos clássicos filmes da Universal.
Séculos atrás, o império Turco era vasto e um dos mais poderosos que o mundo já conheceu. Como prova de lealdade, o sultão exigia de cada terra dominada 1000 meninos para seus campos de treinamentos militares, para futuramente integrarem seus exércitos. Dentre todos os mil meninos entregues pelo Rei Romeno aos Turcos, um se destacava dos demais. Seu nome era Vlad Tepes (Luke Evans) e, devido à sua brutalidade e ferocidade em combate, logo passaria a ser conhecido como Vlad, O Empalador. Após décadas de serviços prestados ao império Turco, Vlad conquistou o direito de voltar para a Romênia e governar seu povo, já sob o nome de Vlad Drácula, O Filho do Dragão, pois seus anos de Empalador ficaram para trás. Em meio a seu reinado de prosperidade e paz, Drácula vive sempre em estado de alerta de uma possível guerra com o império Turco, mesmo pagando altos tributos ao sultão Mehmed (Donminic Cooper), que um dia foi seu amigo e companheiro de batalha. A situação chega ao seu extremo quando Mehmed exige de Vlad o mesmo tributo que seu pai havia exigido do pai do príncipe: 1000 garotos para o fronte de batalha. Desesperado para salvar seu filho e seu povo, Drácula parte em direção à Montanha do Dente-Quebrado, onde habita um mal terrível, um filho das trevas, um vampiro mestre (Charles Dance, de Alien 3 e O Rapto do Menino Dourado). Conhecendo as lendas sobre o ser, Vlad implora ao vampiro seu poder para derrotar os Turcos e salvar seu povo. Agora, Drácula tem somente três dias para vencer a guerra e resistir à sede de sangue, ou se tornará um vampiro para toda a eternidade.
O filme ganha pontos em seu andamento. Relativamente curto (92 minutos), soube muito bem aproveitar o tempo sem ser corrido ou atropelado, trabalhando o personagem. E é aí que o bom trabalho de Luke Evans aparece. Evans não é mau ator, pelo contrário, mas carece de bons trabalhos. De uma pontinha como Apollo em Fúria de Titãs a coadjuvante de peso como Zeus em Imortais (um dos piores filmes que já vi!!), Evans pode acabar se tornando ator de uma faceta só, já que este Drácula - A História Nunca Contada pertence segue pela mesma linha de cinema. Aqui, pode-se dizer que Evans não só entendeu o personagem, como se aprofundou nele e tem atuação muito segura, ainda mais para este tipo de filme, meramente comercial, que não dá a menor bola para o teor artístico. O ator cresce bastante nas cenas do personagem com seu filho e se mostra preparado para trabalhos realmente sérios e de peso. Espero que ele perceba isso.
A direção de Gary Shore não me agradou muito, mas também não comprometeu tanto assim o resultado final. Por exemplo: a cena em que acompanhamos o embate de Drácula contra um contingente Turco, através do reflexo em uma lâmina de espada espetada em um cadáver, com a câmera girando em 360°, é muito interessante e foi minha cena favorita no filme. Porém, a escalada de Drácula para a caverna da Montanha do Dente-Quebrado (note que na primeira cena do filme ele vai para a mesma caverna sem escalada alguma) me pareceu dramática e estilosa demais, assim como as cenas do personagem controlando uma nuvem de morcegos contra as tropas inimigas. Mas como eu falei antes, Shore ganhou pontos comigo por ter conduzido o filme tão sabiamente. Espero para ver os próximos trabalhos do diretor e espero que ele evolua, pois mesmo neste filme genérico (mas bom), existem alguns nuances bem interessantes em seu trabalho, como na batalha final sobre um "tapete" de moedas de prata.
Talvez o pior de Drácula - A História Nunca Contada é o fato de o filme não ser ciente de seu tamanho, querendo ser mais do que é, se levando à sério de mais (afinal, quem levaria com um pôster daqueles?). Embora lembre muito Frankenstein - Entre Anjos e Demônios, que tentava impôr um tom épico ao situar sua guerra não só ao redor do mundo, mas também entre planos, Drácula - A História Nunca Contada concentra-se em um homem na defesa da sua casa, por assim dizer. Os momentos clichês do filme, como as costas do personagem marcadas pelas cicatrizes dos tempos de escravidão, o andar em câmera lenta em direção aos oponentes ou o vilão 100% mau sem qualquer outro traço de personalidade aparente não poderiam ficar de fora, mas nada fora do esperado para o filme. Só me incomodei mesmo foi com a frase "que os jogos comecem", usada mais de uma vez no filme e me pareceu fora da proposta.
O que fica ao final do filme é a sensação de que o título atrapalha o filme mais do que o filme atrapalha a si mesmo. Afinal, só de ouvir o nome Drácula esperamos algo grandioso, charmoso, imponente. Não apenas uma rápida sessão de cinema-pipoca, mesmo que esta seja razoavelmente boa, como é este Drácula - A História Nunca Contada. Sai da memória tão rápido quanto o nome de uma música que se queira lembrar, mas até diverte e não cansa. Do jeito que a coisa anda, já é muito.
Não entende essa sua capacidade de para escrever muito texto e muita crítica sobre filmes ruins vide seu texto do novo Frankestein, rsrsrsr...
É que pra baixo todo santo ajuda, Lucas!!
kkkkkkkkk, verdade. Mas quando eu gosto do filme consigo falar dele acrescentando mais adjetivos e pra filmes ruins pra mim é mais complicado pois tenho que adicionar conceitos ruins...
É que eu sou chato mesmo, Lucas.....