De começo excepcional, Dreamgirls - Em Busca de um Sonho cai terrivelmente do meio pro fim. Mudança de protagonista, mudança de enfoque - só pra situar: nos primeiros minutos, o filme era aparentemente protagonizado pela vencedora do Oscar (desmrecidamente)Jennifer Hudson, e o enfoque do filme é mais na questão de que tipo de música o trio das Dreamgirls iria cantar, e como chegar ao estrelato. A partir do segundo momento, Beyoncé toma o filme pra si, al´me de vários tramazinhos amorosos inundarem a tela de melodrama,até a musicalidade cai nesses instantes.
Como já dito, o começo do filme é arrebatador, com estilo frenático, o musical vai rapidamente nos situando na história daquelas moças. Há de fato uma certa artificialidade na forma como as coisas vão acontecendo para o trio de talentosas cantoras negras. O filme se passa em uma época de viragem nos costumes norte-americanos, a emergência dos direitos civis conflui com a necessidade de uma nova black-music, mais acessível, mais "branca" também. No começo, há esse conflito de interesses e resistências frente essas inovações. O clima político é levemente situado através de uma foto do presidente J. F. Kennedy na casa da mãe de uma das jovens negras, algo genial. A música é de extrema qualidade, é mais racial, mais tradicional, mais original, músicas de alma.
Só que habil direção de Bill Condon leva o filme para um sistema de tramas do qual ficaria impossível de sair, o filme fica digeirivel ao grande público, perdem-se as reflexões sobre os valores a serem preservados em uma fase transitória da música black. Começa uma gritaria por parte das atrizes em brigas, essas brigas passam a serem cantadas - para mim a pior parte de um musical, enfim, Dreamgirls perde a preciosa chance de ser algo comparável em qualidade a dois grande musicais surgidos recentemente: Moulin Rouge e Chicago.
Das atuações, a única ao qual deve louvar-se é a de Eddie Murphy, por um acaso boa - ele não me convence em nenhum dos seus outros filmes -, indicado ao Oscar de Ator Coadjuvante. A menina, Jennifer Hudson, grita muito, canta bem, mas reflete mais um status quo de Hollywood: indicar ao Oscar toda atriz que der meia-dúzia de choros e gritos, Halle Berry e ela, Hudson, levaram Oscar, Taraji P. Henson, de BB, e Ruby Dee, tiveram menos sorte nas cerimônias do Kodak Theatre, fato é que tornou-se uma praxe atuações espalhafatosas com gritaria em meia-dúzia de momentos avulsos. Beyoncé não compromete muito, passa a maior parte do tempo fazendo o que sabe, cantando, atuar mesmo só os atores de verdade. Danny Glover com a eficiência de sempre, se fosse mais exigido podia pintar sua primeira indicação ao Oscar, Jamie Foxx não tá legal, faz um personagem confuso e até caricato, um vilão às avessas: ele acaba sendo o verdadeiro anjo da guarda da história (todo produtor musical parece que padece dessa dubiedade no cinema).
Tecnicamente, o filme é belíssimo, a Edição do começo do filme é fantástica, a parte sonora é louvável - o filme levou Oscar por Som. Há belos Figurinos das décadas que se passam o musical. Além de que é perspicazmente bem filmado.
Não fosse os destinos que o filme toma do meio pro fim, certamente Dreamgirls seria um filme memorável, um belíssimo musical com ótima mensagem. Só que não foi bem assim, quiçá alavancado pela possibilidade de ser digerível aos fãs de Beyoncé, o filme peca bastante onde justamente não deveria, pelo seu frenético começo, fica como bom passatempo, não mais que isso
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