“La Ciociara” no original é de fato um filme que deve ser visto. Vittorio De Sica consegue pegar toda a substância necessária para realizar uma obra bem executada e fidedigna aos horrores da Guerra. Falar de guerra sempre é delicado, pois não fazemos idéia de como é uma. Temos vago conceito de como seria, por realmente ver através de filmes. Nem mesmo a guerra EUA X petróleo (Irã, Iraque, Afeganistão...) que é nossa contemporânea, não temos ciência da sua verdadeira proporção. Mas a guerra tratada por De Sica é a guerra a partir da ótica de gente normal que teve de conviver com todas as mazelas trazidas do combate da Segunda Guerra, para o seu cotidiano.
É nesse contexto que nos é apresentada a história de Cesira e Rosetta, mãe viúva e filha que sozinhas vivem numa Roma que é propriedade de Mussolini. Juntas elas buscam sair daquela realidade, caminhando para o interior, a fim de se sentirem mais seguras, até que possam retornar a sua mercearia, mantida na cidade. Não vemos soldados na fronte de batalha, mas a consternação das protagonistas não é menor. Cesira segue com sua filha, para seu vilarejo natal, onde acaba por encontrar alguns conhecidos e se afeiçoar a um jovem idealista, interpretado por Jean Paul Belmondo. Essa questão, infelizmente não valorizou a dinâmica do filme. Por mais que tenhamos simpatia ao personagem mantido por Belmomdo, o possível romance ligeiramente apresentado parece menor, pequeno ao todo.
O destaque do filme sem dúvida é de Sophia Loren, que com aptidão desenvolve uma Cesira crível e simples. Muita expressividade e beleza, aliadas a qualidade de fascínio que De Sica exerce com sua câmera sobre Sophia, resultam na ótima interpretação da mesma. Intensa e talentosa, Sophia conseguiu o primeiro Oscar de um artista estrangeiro em língua não inglesa. Fato que somente veio a se repetir com seu conterrâneo Roberto Benigni e atualmente com Marion Cotillard. Cesira passa a imagem de uma mulher madura, forte e segura de si, uma matriarca italiana que apenas zela pela segurança de sua filha adolescente. Mais um feito de Sophia, que mesmo na época tendo 25 anos, consegue dar tanta veracidade a uma mãe que parece ser muito mais velha, pela responsabilidade que sustenta.
Importante citar, que na jornada de Cesira ao interior na Itália, observamos que os mesmos percalços e dificuldades enfrentadas por ela na cidade, não divergem muito dos camponeses. Lá a comida é escassa, a segurança é incerta e as dificuldades apenas crescem. Motivo pelo qual a mesma e outras pessoas, decidem sair daquela situação. Assim, Cesira arrisca a sua segurança numa Itália abandonada, sem a onipresença de Mussolini e sem a ajuda das tropas aliadas. Nessas circunstâncias, nossas protagonistas seguem para seu tortuoso destino.
Por todo o filme, a atmosfera passada por de De Sica é de instabilidade e perigo; a cena inicial já é um aviso; levando a crermos que as coisas não acabariam bem. O roteiro bem executado e a capacidade da direção de desenvolver um sentimento de empatia e nos transportar para aquele enredo, faz com que o espectador seja traduzido em Rosetta. Somos tomados como filhos de Cesira, pois ao vê-la e escutá-la, sentimos segurança por toda constante ameaça, que pode vir a acontecer. Como já disse, apesar de não ter idade para ser mãe de uma adolescente, Sophia funciona perfeitamente como mãe. Nesse caso, nossa mãe. As locações utilizadas são muito interessantes, assim como a fotografia em branco e preto, sempre valorizando os “closes” e claro, os olhos de Cesira. Diálogos bem colocados e situações sempre trabalhadas, contribuem para a qualidade do filme.
Acho que esse filme nem chegou a ser lançado por aqui, mas recomendo que vejam o filme somente em italiano, uma vez que a versão dublada para o inglês não é boa e todo o sentimento citado pode não acontecer. Ficando a obra aquém ao descrito. Não deixem de conferir!
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