David Lynch recusou O Retorno de Jedi (1983), oferecido por George Lucas depois deste ter ficado impressionado com seus fantásticos Eraserhead (1977) e O Homem Elefante (1980), para trabalhar na adaptação de Duna para o cinema, por se tratar de um trabalho não vinculado a visão cinematográfica de outro artista, do qual poderia, em tese, utilizar sua marca autoral.
Duna (1984) baseia-se no romance de ficção científica de Frank Herbert, uma das obras mais respeitadas do século XX. Lynch, também responsável pelo roteiro, fez uma interessante adaptação da obra, mantendo-se fiel ao material original, sem perder suas principais características autorais, como o uso do onírico, a crítica social, os personagens bizarros, o visual particular e a narrativa psicológica que prioriza os personagens em detrimento da ação.
A produção foi bastante conturbada, principalmente com as constantes divergências entre Laurentis e Lynch, com este interferindo diretamente na edição final da obra, por considerá-la longa demais. A versão lançada nos cinemas ficou com 137 minutos de projeção, e uma versão estendida foi lançada em DVD apenas em 2004, com 176 minutos de duração, porém foi uma completa bagunça, com Lynch recusando-se participar e ter seu nome vinculado ao projeto, sendo que a assinatura desta versão ficou a cargo do famigerado Alan Smithee. Assistindo as duas versões, considero a de cinema melhor, mas seria interessante conhecer a "versão oficial do diretor", que sem dúvida seria a mais promissora.
A parte técnica de Duna impressiona pela escala. Os efeitos especias são os destaques, com criaturas convincentes criadas por Carlo Rambaldi (responsável pela criação do E.T de Steven Spielberg) e efeitos práticos realizados com competência por Kit West. Os efeitos visuais deixam um pouco a desejar, no entanto, como nas lutas com escudo refletor corporal e algumas sequências no espaço. A direção de arte, figurinos, mixagem de som e a maquiagem são muito eficientes, reproduzindo com riqueza de detalhes todo o universo idealizado por Herbert. Vale destacar também a bela fotografia de Freddie Francis (O Homem Elefante) que transmite a dualidade entre luz e sombra com muita elegância. O elenco é interessante e diversificado, com presenças marcantes de Patrick Stewart, Max Von Sydow, Linda Hunt, Brad Dourif, Virginia Madsen, Sean Young, Jack Nance, Sting e Kyle Maclachlan, que estrela a produção com talento, considerando ser esta sua estréia no cinema (tornando-se assim o ator fetiche de Lynch em sua filmografia).
O filme não alcançou o sucesso de crítica e público esperados, sendo ignorado nas premiações, concorrendo apenas ao Oscar na categoria de Melhor Som, e faturando a quantia de US$ 30 milhões nas bilheterias norte-americanas, a um custo de US$ 40 milhões, um valor vultuoso para a época (investido graças ao sucesso colossal da trilogia Star Wars). Mesmo neste cenário, Duna conquistou uma legião relativa de fãs ao redor do mundo ao longo dos anos, mesmo que tenha dividido os fãs da obra original e a crítica especializada. Apesar de David Lynch afirmar odiar este trabalho (por não ter tido direito ao corte final), Duna se apresenta como um interessante exemplar do gênero, com um visual imponente, cenas de ação bacanas e uma estória que ainda serve de inspiração para muitos cineastas até hoje. James Cameron que o diga.
Esse é saqueles que não tenho fresco na memória. Preciso rever. Urgente!!!