JOHN MCCLANE, DIVIDIDO EM DOIS, NÃO É JOHN MCCLANE
O clássico Duro de Matar (1988), de John McTiernan (O Predador; Caçada ao Outubro Vermelho), não só consolidou alavancou a carreira de Bruce Willis, colocando-o no panteão dos grandes astros do cinema de ação oitentista, ao lado de nomes como Arnold Schwarzenegger e Sylvester Stallone, como também consagrou um dos maiores personagens do gênero: o policial novaiorquino John McClane. Durão e sarcástico, o personagem é o papel da vida de Bruce Willis – embora o alemão já tenha nos dado tantas outras provas de talento – e fica até difícil imaginar outro ator encarnando-o. E esse jeitão irreverente de McClane, aliado ao biotipo franzino de Willis completamente fora dos padrões de outros astros do gênero, facilita a aproximação público/filme e fez com que o personagem caísse de vez nas graças dos fãs de filmes de ação, que tinham em McClane um ídolo mais próximo da realidade do que os de costume. McClane não era um super-tira ou um soldado ultra-treinado daqueles praticamente indestrutíveis. Muito pelo contrário. McClane é um dos mais vulneráveis protagonistas deste tipo de filme. McClane apanha e fere-se pra valer. Sentimos que ele realmente corre perigo, e ao final do dia, ele estará um trapo!!
Mas o tempo foi passando, as sequências foram vindo e Bruce Willis, hoje um sessentão, já não tem mais aquele vigor físico de 30 anos atrás. Sendo assim, como seria possível rodar um quinto filme da série com o mesmo protagonista sem que as situações soassem forçadas e/ou absurdas? Para o roteirista Skip Woods (Equadrão Classe A; X-Men Origens: Wolverine; Swordfish: A Senha) a solução para rodar Duro de Matar – Um Bom Dia Para Morrer (2013) foi dividir o McClane em dois. O bom e velho John McClane segue firme e forte com seu humor afiado e gênio politicamente incorreto. Já Jack McClane (Jai Courtney, de Divergente), filho do personagem principal, assume praticamente todas (mas não todas) as cenas de ação do longa de John Moore. Mas esta divisão, por mais coerente e até válida que seja, tira do filme sua principal marca registrada, que é aquela vulnerabilidade do protagonista comentada logo acima. Não que fosse esperado algo como a clássica cena dos pés cortados lá do primeiro filme, ou o banho de sangue do terceiro. Mas aqui, McClane apanha, leva tiro, colide seu carro, salta de prédios, plataformas e helicópteros, protege-se de explosões, entre outras coisas, e sai ileso. Nenhum osso partido, nenhum membro deslocado. Nada. Quando muito um sanguezinho na careca e deu. É óbvio que sabemos que McClane irá derrotar os bandidos ao final, mas quem assiste a um filme de Duro de Matar espera mais. Muito mais. Mas aí você pensa: “bem, Jack deve herdar essa bronca do pai, então.”. Que nada. Ele se mostra ainda mais intocável. É claro que o fato de ele ser um agente da CIA em missão na Rússia ajuda bastante, já que esses russos, por mais bem treinados, preparados, equipados e armados que estejam, não se mostram capazes de enfrentar dois novaiorquinos (e o roteiro faz questão de deixar claro de onde vêm os McClane) de férias armados apenas com pistolas e bom humor. Compreensível. Sempre foi assim.
Embora a direção de John Moore sofra uma irregularidade absurda, principalmente nas pequenas pausas para a forçada e – por que não? – constrangedora interação pai/filho entre os McClane, ele se permite um momento de glória na empolgante perseguição automobilística pelas ruas de Moscou. A melhor sequência do filme todo. Mas Moore até se sai razoavelmente bem, se levarmos em conta somente o quesito ação do filme, pois ela é de primeira. No que este Duro de Matar – Um Bom Dia Para Morrer falha mesmo é no propósito de dar andamento à série e em apostar demais na carga dramática rasa e simplista da conturbada relação entre os personagens centrais. Neste sentido, Duro de Matar 4.0 (2007) se valeu de maneira muito mais eficiente – além de ser um filme melhor por si só.
Duro de Matar – Um Bom Dia Para Morrer não é um filme de ação de todo ruim. Apenas genérico, não sendo capaz de sustentar o nome que carrega e apoiando-se demais em seu carismático e já icônico personagem. Retirando John McClane do filme, seria um bom filme de ação. Com ele, é insuficiente. Por mais contraditório que possa parecer.
Ótimo texto, Cristian. Também não gostei muito desse. Uma pena, pois o 4.0 é um filmaço.
Mega-Chico, é sempre uma honra ser agraciado com sua leitura!
O 4.0 me surpreendeu muito positivamente. Já esse, ficou a quem do renome da série. Abraços!